Origem: Revista O Cristão – A Páscoa, o Mar Vermelho e o Jordão

O Jordão

Do Egito até ao rio Jordão, a libertação do povo é caracterizada por dois grandes eventos, a Páscoa e o Mar Vermelho, e para entender o terceiro grande evento, ou seja, a travessia do Jordão, é bom entender o significado dos dois primeiros. Todos os três são figuras da morte de Cristo, mas seus aspectos são tão ricos, tão variados e tão infinitos que precisamos de todos esses, e muitos outros, para compreender um pouco de sua profundidade e extensão.

A Páscoa 

A Páscoa nos mostra a morte de Cristo como um abrigo do julgamento de Deus. “Eu passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo primogênito na terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos” (Êx 12:12). Ora, o próprio Israel só poderia estar protegido pelo sangue do cordeiro pascal colocado entre o povo como pecador e Deus como um Juiz que era contra eles. O sangue detém Deus, por assim dizer, O mantém do lado de fora e nos coloca em segurança do lado de dentro. “Vendo Eu sangue, passarei por cima de vós”. Apenas não esqueçamos que é o amor de Deus que provê o sacrifício capaz de enfrentar o Seu próprio julgamento. Assim, o amor poupa o povo, que por si só não poderia escapar do julgamento assim como os egípcios.

Redenção 

No Mar Vermelho, encontramos um segundo aspecto da morte de Cristo, que é a redenção: “Tu, com a Tua beneficência, guiaste este povo, que salvaste” (Êx 15:13). Agora, se Deus nos livra e nos redime, Ele é por nós em vez de estar contra nós; de fato, diz: “O SENHOR pelejará por vós, e vos calareis” (Êx 14:14). A Páscoa deteve o próprio Deus como Juiz e colocou Israel em segurança, já no Mar Vermelho, Deus intervém como Salvador (Êx 15:2) em favor de Seu povo, que nada tem a fazer senão acompanhar sua libertação: “Estai quietos e vede o livramento do SENHOR” (Êx 14:13). Na redenção, Deus age como se os inimigos que estavam contra nós estivessem contra Ele.

A condição necessária 

Mas voltemos para o Jordão. Na Páscoa foi feita a expiação; no Mar Vermelho a redenção foi realizada e a salvação obtida, mas aqui vemos outra questão. Para tomar possessão da terra de Canaã, o povo precisa estar em uma determinada condição.

Entre o Mar Vermelho e o Jordão, Israel atravessou o deserto, e essa jornada é dividida em duas partes distintas. Na primeira parte, até o Sinai, é a graça que guia o povo – a mesma graça que os havia redimido do Egito e pela qual eles experimentam os suprimentos de Cristo no meio de todas as suas fraquezas. Na segunda parte, depois do Sinai, Israel está sob o reinado da lei, e é então que eles são provados, para saber o que está em seu coração. O julgamento apenas demonstrou que cada um deles era “carnal, vendido sob o pecado” e que sua vontade era inimizade contra Deus, finalmente se mostrando em rebelião aberta quando se tratava de entrar em possessões das promessas.

A condição de Israel era um absoluto obstáculo para a entrada deles em Canaã. Quando eles chegam ao fim de suas experiências na carne, encontram o Jordão, uma inundação que transborda, como uma barreira para seu progresso. O Mar Vermelho impediu sua fuga do Egito, o Jordão impede sua entrada em Canaã, e tentar atravessá-lo seria sua destruição. Aqui temos uma nova figura da morte. É o fim do homem na carne e, ao mesmo tempo, o fim do poder de Satanás. Como podemos nós, que estamos sem força, suportar isso? Ele nos separa para sempre do gozo das promessas. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24).

A arca do concerto 

Mas a graça de Deus providenciou isso. A arca vai adiante do povo; não apenas os faz saber o caminho pelo qual devem ir, mas os associa a ela mesma na passagem. Os sacerdotes, os representantes do povo, deveriam tomar a arca do concerto e passar adiante de Israel. De fato, era a arca do concerto do Senhor de toda a Terra (v. 13) que passaria diante deles através do Jordão, mas não sem eles. A arca manteve sua preeminência: “Haja, contudo, distância entre vós e ela, como da medida de dois mil côvados” (v. 4). Mas, como os olhos do povo se fixaram nela (v. 3), viram ao mesmo tempo os sacerdotes da tribo de Levi que a carregava. Assim que as solas dos pés dos sacerdotes repousaram nas águas do Jordão, as águas foram cortadas e deixaram de fluir. Havia um poder vitorioso sobre o poder da morte e que associava Israel à vitória.

Se foi assim para Israel, quanto mais para nós! Tudo o que éramos na carne encontrou seu fim na cruz de Cristo. Podemos dizer: estou morto para o pecado, morto para a lei; Eu estou crucificado com Cristo. Meus olhos, fixos na arca – em Cristo – veem n’Ele o fim da minha personalidade como filho de Adão. Mas n’Ele também há um poder vitorioso, agora tornado meu. Sou introduzido na vida de ressurreição n’Ele, além da morte, no pleno gozo das coisas que esta vida possui: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).

A própria morte, é claro, ainda não foi tragada: “E aconteceu que, como os sacerdotes que levavam a arca do concerto do SENHOR subiram do meio do Jordãoas águas do Jordão se tornaram ao seu lugar e corriam, como antes, sobre todas as suas ribanceiras” (Js 4:18). Mas “quando isso que é mortal se revestir da imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (1 Co 15:54). Então o lugar de Cristo, além de tudo o que poderia nos impedir, será nosso, até mesmo em nosso corpo. Mas antes do cumprimento dessas coisas, já podemos dizer: “graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:57).

Uma nova condição 

Encontramos, então, no Jordão, de uma maneira especial, a morte para aquilo em que estávamos em nossa condição anterior e o começo de uma nova condição no poder da vida com Cristo, em Quem estamos ressuscitados. Sua morte e ressurreição nos introduzem agora em todas as bênçãos celestiais, e o que acabamos de dizer explica a razão de não encontrarmos inimigos aqui, como no Mar Vermelho. No Jordão, os israelitas não são perseguidos por Faraó e seu exército, mas o inimigo está na frente deles e não começa a agir até que eles cruzem o rio.

Agora eles entram em uma nova série de experiências. No deserto do Sinai, o velho homem provou ser pecado; segue, em figura, no Jordão, o conhecimento adquirido pela fé, que fomos retirados de nossa associação com Adão e estabelecidos em uma nova associação com um Cristo morto e ressuscitado. Finalmente, em Canaã, temos as experiências do novo homem, embora não sem fraqueza e fracasso, se houver falta de vigilância, mas com um poder à nossa disposição, do qual podemos fazer uso constante para sermos fortes e lutarmos valentemente e resistirmos às artimanhas sutis do inimigo.

H. L. Rossier (adaptado)

Compartilhar
Rolar para cima