Origem: Revista O Cristão – Betel
Josias em Betel
A grande obra de destruição a que Josias se comprometeu por fé, deve ter ocupado um tempo considerável. O jovem rei fervoroso varreu a terra desde o território de Simeão, no sul, até o território de Naftali, ao norte (2 Cr 34:6), destruindo tudo o que sabia ser detestável aos olhos do Santo de Israel. Nada além do livro da lei influenciou seus movimentos.
Pode surpreender alguns que Josias tenha sido capaz de agir tão livremente no norte da Palestina, tendo em vista que foi por cerca de cem anos uma província do reino da Assíria. A explicação é que a Assíria estava em declínio; seu dia estava chegando ao fim. A infidelidade de Israel estava agora fazendo com que Deus entregasse o poder supremo aos gentios, mas não era para a Assíria que Ele pretendia concedê-lo. A Babilônia era a cabeça destinada à grande imagem que simbolizava o imperialismo gentio como um todo, e nos dias de Josias a destruição da Assíria estava próxima.
Na bondade de Deus, nenhuma complicação externa surgiu enquanto Josias estava envolvido em seu bom trabalho. Os movimentos das nações estão sob o controle divino. Eliú disse verdadeiramente: “Se Ele aquietar, quem, então, inquietará?” e acrescentou que isso se aplica tanto às nações como aos homens individuais (Jó 34:29). Não é melhor confiar em Deus do que buscar segurança em tratados e alianças? O trabalho útil, mesmo de caráter social, é prejudicado pelo desperdício e pela turbulência da guerra. Até mesmo os santos de Deus consideram que seu importante serviço é dificultado pelas contendas do mundo, embora, no caso deles, Deus graciosamente supera as circunstâncias para enviar o evangelho aonde, de outro modo, ele poderia não ter chegado. Josias teve trinta e um anos de paz para servir a Deus em Israel. Infelizmente, foi a sua própria loucura que pôs fim à paz!
O significado de Betel
Entre os muitos centros idólatras visitados por Josias, Betel é mencionado de maneira especial, e alguns incidentes notáveis são destacados. Betel tinha um lugar importante nos caminhos de Jeová e tinha associações ternas com os corações dos piedosos em Israel. Ali perto estava o primeiro acampamento de Abraão quando ele entrou na terra. Naquela vizinhança ele armou sua tenda e construiu seu altar (Gn 12:8). Depois de sua jornada equivocada ao Egito, Abrão retornou ao lugar onde ele construiu seu altar (Gn 13:3-4). A comunhão com Deus foi assim restaurada. Foi em Betel, onde Jacó descansou de noite em sua jornada de Berseba a Harã. A visão da escada que ia da Terra para o céu, com os anjos subindo e descendo sobre ela, e Jeová falando ao seu servo pobre e rebelde do topo dela, é familiar a todos nós. De madrugada, Jacó “tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel” (Gn 28:18-19). Betel significa “casa de Deus”. Depois de anos vagando, Jacó voltou para lá e aprendeu lições preciosas sobre o Deus por Quem ele tinha que ser tratado (Gn 35:1-15).
Vários séculos depois, Jeová Se referiu de maneira muito tocante à segunda visita de Jacó a Betel: “Em Betel o achou, e ali falou Conosco; sim, com o SENHOR, o Deus dos Exércitos” (Os 12:4-5). Note como Deus apreciou o fato de que “ali [Jacó] falou Conosco [Deus em trindade]”. Mas Betel tornou-se um dos principais lugares de idolatria de Jeroboão, ele fez o máximo para evitar que o povo falasse com seu Deus. De fato, a proximidade de Betel a Jerusalém parece indicar que Jeroboão deliberadamente estabeleceu Betel como um centro religioso a fim de obstruir o caminho do povo ao santuário de Jeová.
O centro de iniquidade
Betel foi um celeiro de iniquidade desde a época de Jeroboão até os dias de Josias. Em Amós 4:4, Jeová diz sarcasticamente ao Seu povo desobediente: “Vinde a Betel e transgredi”. Mas no próximo capítulo do mesmo profeta ouvimos uma voz suplicante: “Porque assim diz o SENHOR à casa de Israel: Buscai-Me e vivei. Mas não busqueis a Betel… Buscai o SENHOR e vivei, para que não se lance na casa de José como um fogo, e a consuma, e não haja em Betel quem o apague” (Am 5:4-6). Quando foi concedido domínio a Jeroboão sobre as dez tribos por causa da infidelidade de Salomão, Jeová lhe disse que, se ele desse ouvidos aos Seus mandamentos e andasse nos Seus caminhos e fizesse aquilo que é correto à Sua vista, Ele estaria com ele e construiria para ele “uma casa firme” (1 Rs 11:38). Mas assim como Salomão foi infiel, Jeroboão também foi. Quando Jeroboão fugiu para o Egito (uma figura do mundo em sua independência de Deus) para escapar da ira de Salomão, ele viu o povo ali adorando ao deus Apis; isso provavelmente deu a sugestão para ele dos bezerros de ouro que ele montou em Betel e em Dã. Da mesma fonte, Arão e os filhos de Israel tiveram a ideia do bezerro de ouro (Êx 32).
A condição geral dos distritos do norte da Palestina era deplorável quando Josias marchou em sua missão de julgamento. Quando os reis da Assíria removeram um número considerável das dez tribos da terra, substituíram-nas por colonos da Babilônia e outras províncias, que trouxeram com eles seus deuses pagãos. Esta triste mistura é descrita em 2 Reis 17. A partir desse momento houve uma estranha mistura de israelitas e gentios, paganismo e judaísmo, na terra que Jeová amava. Que confusão como resultado da desobediência a Deus!
Idolatria extirpada
Nunca a idolatria foi tão completamente extirpada (completamente destruída) em qualquer lugar como quando foi extirpada por Josias em toda a terra de Israel. Ele matou todos os sacerdotes, queimou seus ossos em seus altares e destruiu os altares, reduzindo-os a pó. Ao olhar ao redor dos sepulcros em Betel, um em particular atraiu a atenção de Josias. “Que é este monumento [lápide – JND] que vejo? E os homens da cidade lhe disseram: É a sepultura do homem de Deus que veio de Judá, e apregoou estas coisas que fizeste contra este altar de Betel. E disse: Deixai-o estar; ninguém mexa nos seus ossos. Assim, deixaram estar os seus ossos com os ossos do profeta que viera de Samaria” (2 Rs 23:17-18). Uma história notável é aqui lembrada. Os homens de Betel estavam falando de uma visita a sua cidade três séculos e meio antes. A lembrança disso permaneceu no distrito, e o povo reconheceu o cumprimento das palavras do homem de Deus nas terríveis ações de Josias.
Testemunho profético
A mente moderna rejeita a ideia de profecia, mas a Escritura está cheia de profecias. Aquilo que já foi cumprido constitui uma grande acumulação de testemunho divino. Concernente ao próprio Cristo, eventos como o Seu nascimento (o fato e o lugar dele), Seu ministério e milagres, Sua rejeição por Israel, Seus sofrimentos nas mãos dos homens e de Deus, Sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão, e Seu atual período assentado como Homem à destra de Deus foi escrito pelo Espírito Santo séculos antes de Ele vir ao mundo. Com relação a Israel e às nações em geral, sua queda e sofrimentos foram previstos enquanto estavam no auge de sua prosperidade e, em alguns casos, muito antes de ascenderem ao poder. Se tanto foi cumprido ao pé da letra, a fé espera confiantemente a plena realização de tudo o que ainda resta.
O homem é incapaz de prever o futuro, mas Deus, pelo contrário, “chama as coisas que não são como se já fossem” (Rm 4:17). Homens que em seu orgulho rejeitam a lâmpada profética devem necessariamente tatear nas trevas, mas a luz de Deus, que anima o espírito e guia os passos, não está longe. Nunca a palavra da profecia foi mais necessária para o povo de Deus do que neste século XXI da era Cristã, com suas múltiplas complicações e perplexidades (2 Pe 1:19).
