Origem: Revista O Cristão – Prioridades

Julgamento na Casa de Deus

Ao considerarmos as várias prioridades que nos são dadas na Palavra de Deus, lemos em 1 Pedro 4:17-18: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? E, se o justo apenas se salva, onde aparecerá o ímpio e o pecador?”

A expressão “casa de Deus” no Novo Testamento nos apresenta a conduta do crente diante de Deus e nos lembra que, se fazemos parte da casa de Deus, há uma linha de conduta adequada para aqueles que estão nessa casa. Às vezes, a casa de Deus é vista como composta apenas por verdadeiros crentes, como vemos, por exemplo, em 1 Pedro 2:5: “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. Por outro lado, Paulo fala da casa de Deus como estando conectada com a responsabilidade do homem na construção, onde o homem pode construir de acordo com a mente de Deus, ou talvez não de acordo com a mente de Deus. No tribunal de Cristo, tudo o que o homem construiu será testado segundo o padrão de Deus, e o que não estiver de acordo com a Sua mente será queimado (veja 1 Coríntios 3:9-17). É esse caráter coletivo dos crentes – a casa de Deus – com o qual o julgamento de Deus está conectado. Em particular, é o ministério de Pedro que se ocupa amplamente da casa de Deus, da conduta nessa casa e das maneiras de Deus governar aqueles que estão na casa.

A prioridade de Deus no julgamento 

O princípio nos é dado em 1 Pedro 4, como vimos, e é uma prioridade para Deus lidar com os Seus antes de começar a lidar com aqueles que não são Seus. Isso fica claro no livro de Apocalipse, que é dividido em três seções: “as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer” (Ap 1:19). O capítulo 1 nos apresenta as coisas que João viu, e os capítulos 2 e 3 abordam “as que são” – o estado da Igreja como ela existia então – e, finalmente, sua condição até o fim desta dispensação, quando será levada para a glória. Do capítulo 4 em diante, temos “as [coisas] que depois destas hão de acontecer” – o julgamento deste mundo.

Havia evidências de falhas graves na Igreja muito antes de João escrever o livro de Apocalipse, talvez por volta de 97 d.C. Naquela época, algumas dessas falhas já haviam se tornado bastante flagrantes, como a introdução do gnosticismo. Além disso, o sistema clerical já havia começado a se apoderar do testemunho Cristão naquela época. No entanto, mais de 30 anos antes disso, o próprio Paulo pôde dizer, em Filipenses 2:21: “Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus”. Ele também pôde dizer com confiança aos anciãos de Éfeso que “depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho. E que de entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas [pervertidas – ARA], para atraírem os discípulos após si” (At 20:29-30). Finalmente, perto do fim de sua vida, ele teve que dizer: “os que estão na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15).

O tribunal de Cristo 

Sabemos que o julgamento no sentido de condenação eterna jamais ocorrerá com a verdadeira Igreja, pois cada um que é uma pedra viva nesse edifício, a casa de Deus, é eternamente apto para a presença de Deus em razão da obra de Cristo na cruz do Calvário. No entanto, se Deus vai julgar os ímpios neste mundo, como certamente fará, Ele deve, por causa de Sua natureza santa, tratar de maneira governamental com aqueles que estão associados a Ele.

Ele faz isso de duas maneiras. Primeiramente, Ele trata com os Seus agora, tanto individual quanto coletivamente, enquanto ainda estão neste mundo, por meio de circunstâncias e vários eventos que Ele permite na vida deles. Mais tarde, depois de sermos chamados para fora deste mundo na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, haverá o que a Escritura chama de “o tribunal de Cristo” (2 Co 5:10). Naquele momento, cada um de nós ouvirá Sua avaliação de nossa vida e receberá recompensas por aquilo que foi feito para Ele. Mas também haverá uma sensação de perda se tivermos usado nosso tempo, recursos e dons para nós mesmos e não para Sua glória. Parece, pela maneira como a Escritura está escrita, que o tribunal de Cristo para os crentes ocorrerá antes da aparição do Senhor Jesus e antes de Ele assumir o julgamento deste mundo. Novamente, essa é a ordem que nos é apresentada por Pedro.

Alguns podem questionar por que Deus julga primeiro os Seus e, depois, este mundo. Eu diria que há duas razões para isso. Em primeiro lugar, Deus é santo e justo, e embora os Seus sejam “resgatados com o precioso sangue de Cristo” (1 Pe 1:18-19), Deus espera que eles demonstrem a nova vida que Ele lhes deu. “Sede santos, porque Eu sou santo” (1 Pe 1:16). A expressão em 1 Pedro 4:18 (JND), “Se o justo se salva com dificuldade”, não se refere à nossa salvação eterna, mas sim ao fato de que existem muitas armadilhas e tentações em nosso caminho Cristão. É preciso graça do Senhor, trabalho árduo e exercício constantes em nossa vida para evitar essas distrações e viver para a glória de Deus.

Em segundo lugar, é o amor de Deus que disciplina aqueles em Sua casa, pois Ele sabe que não podemos ser felizes enquanto estivermos cedendo à velha natureza pecaminosa que ainda possuímos. Assim, Seus caminhos para conosco são ordenados para que sejamos “participantes da Sua santidade” (Hb 12:10). Deus trata conosco como Seus filhos e Se deleita em ver Seus filhos felizes. Assim como os filhos naturais não são felizes se forem deixados sem a devida disciplina, Deus sabe que a disciplina em nossa vida trará um bom resultado para aqueles “exercitados por ela” (Hb 12:11).

W. J. Prost

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