Origem: Revista O Cristão – Paz e a Aparição do Senhor
Justiça em Paz
A expressão “fruto de justiça” (ou “frutos de justiça”) ocorre três vezes no Novo Testamento. Em Filipenses 1:11, está relacionado com nossa aprovação de “coisas excelentes”, pelas quais seremos cheios dos “frutos de justiça” até que sejamos manifestados em glória no dia de Cristo. Em Hebreus 12:11, está relacionado com nossa conduta para com Deus, ao aceitar a correção e aproveitar-se dela. Em Tiago, no entanto, está conectado com nossa conduta para com os outros e, assim, a paz é trazida a ela; “o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz” (Tg 3:18 – AIBB).
O custo para fazer a paz
Não é fácil, em um mundo caracterizado pelo pecado, unir justiça e paz. Nosso bendito Salvador fez isso na cruz, pois foi só então que se pôde dizer: “A justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). Mas fazer esta paz custou ao nosso Senhor e Salvador Sua vida e os indizíveis sofrimentos nas três horas de trevas. Agora desfrutamos de paz com Deus quanto aos nossos pecados, pois “o Filho do Seu amor” fez “a paz pelo sangue de Sua cruz” (Cl 1:13, 20), a fim de que “a graça reinasse pela justiça para a vida eterna” (Rm 5:21).
É maravilhoso desfrutar desta paz interior, que todo verdadeiro crente tem o direito de desfrutar. Mas a respeito deste mundo, nosso próprio Senhor poderia dizer: “Cuidais vós que vim trazer paz à Terra? Não, vos digo, mas, antes, dissensão [divisão – ARA]” (Lc 12:51). Vivemos em um mundo injusto e, como tal, nunca haverá paz real até que nosso abençoado Mestre tenha Seu lugar de direito. Este mundo rejeitou o Príncipe da paz e, em vez disso, escolheu um homem que combinava em seu caráter quase todos os pecados violentos – homicídio, insurreição, sedição e roubo. Não é de surpreender que nem a justiça nem a paz tenham caracterizado este mundo desde então. A paz nesta Terra, com justiça, virá somente com o julgamento, pois “havendo os teus juízos na Terra, os moradores do mundo aprendem justiça” (Is 26:9). Ao mesmo tempo, no Milênio, lemos que “o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança, para sempre” (Is 32:17). Justiça e paz serão vistas naquele dia. E agora?
Justiça com graça
A divisão à qual nosso Senhor Se referiu em Lucas 12:51 é a divisão entre crentes e incrédulos – entre aqueles que aceitam o Senhor Jesus e aqueles que O rejeitam. Não pode haver comunhão real entre os dois grupos, pois “que comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Co 6:14). Como já apontamos, o mundo é caracterizado pela falta de justiça e também pela falta de paz. Mas isso nos leva aos crentes que, tendo uma nova vida em Cristo, devem exibir justiça e paz. Isso nem sempre é fácil de conseguir! Certamente um crente deve sempre ser justo em seus negócios, mas uma ênfase exagerada na justiça sem a graça pode falsificar nosso Cristianismo e atrair o eu. Como alguém disse: “A justiça, especialmente quando ligada ao caráter e à honra, é rígida e repulsiva, porque tem medo de si mesma e por si mesma”. A fim de ter justiça com paz, a graça deve ser introduzida. Novamente, para citar o mesmo autor: “A graça que habita em perfeita justiça, estando acima do pensamento de si mesmo, porque é divina em sua natureza e sendo segura em perfeita justiça. por dentro, tem um tom gracioso por fora, pode pensar pelos outros. Assim era Cristo”.
É esta graça, ativa no coração de um crente, que permite que a justiça exista com paz, e quando isso é assim, como temos em Tiago 3:18 (AIBB), “o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz” É a graça que fez a paz para nós, em Cristo, na cruz do Calvário; é essa mesma graça que, operando nos crentes, faz a paz entre eles, e também mantém a justiça. O eu não é introduzido, pois a graça pensa nos outros, não em si mesmo. A justiça está ali, pois a graça de Deus foi manifestada em perfeita justiça, mas não é a justiça reinando; antes, “reine a graça pela justiça” (Rm 5:21 – TB), como vimos. A graça de Deus, embora mantendo plenamente a justiça, o faz de uma maneira que se refere a Cristo, e não ao eu próprio.
O fruto aparece
No entanto, notamos que o “fruto da justiça em paz” é “semeado”; ou seja, o fruto pode não aparecer imediatamente. Nas coisas naturais, pode decorrer muito tempo entre a semeadura e a colheita. No caso do Senhor Jesus, apesar de Sua manifestação de graça incomparável ao homem, Ele foi rejeitado. O fruto dessa graça veio depois, e ainda não foi totalmente manifestado, pois ainda é no futuro que Ele verá “o trabalho de Sua alma” e “ficará satisfeito” (Is 53:11). Muitas vezes é assim para os crentes. Existem aqueles que fazem a paz, agindo tanto em justiça como em paz, mas descobrem que o fruto que deveria ser visto não aparece imediatamente. Assim como o homem não regenerado rejeitou a verdade, a graça e o amor no Senhor Jesus, um crente, se a carne estiver ativa, pode fazer a mesma coisa. A inveja e a contenda, junto com outros sentimentos pessoais, podem atuar nos objetivos daqueles que promovem a paz e impedirem que “o fruto da justiça em paz” amadureça como deveria.
Isso é potencialmente desanimador, mas lembremo-nos de que não devemos nos cansar “de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido” (Gl 6:9). Se Deus graciosamente semeou a semente para nós, podemos depender d’Ele para trazê-la ao proveito. De fato, o uso da palavra “fruto” no versículo implica que o resultado abençoado de fazer a paz aparecerá. Às vezes, pode aparecer imediatamente, pelo que podemos ser gratos e encorajados. Como é maravilhoso ver o fruto da justiça em paz manifestado entre os santos de Deus! Mas se o fruto tarda, descansemos no fato de que, se agirmos com justiça em paz, pela graça, a semente foi semeada, e o fruto certamente chegará.