Origem: Revista O Cristão – Os Pés

Lavar os Pés dos Discípulos

“Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13:1).

Os fiéis em Cristo Jesus, reunidos do mundo para ter sua porção com Ele, são aqueles a quem Jesus chama “Seus”. Ele é deles, e eles são d’Ele. Seu amor por eles nunca acaba. Ele os amou enquanto estava no mundo com eles; Ele os ama também enquanto está com o Pai – e eles ainda estando no mundo.

Assim como o amor de Cristo pelos Seus continua, também o Seu serviço continua em qualquer forma que Ele veja que precisamos dele. Não necessitamos de algum serviço que já temos: nesse somos perfeitos; Outros serviços nós ainda precisamos e Cristo os ministra a nós em amor.

Completo n’Ele 

A Palavra de Deus traz salvação por meio de Cristo a todos os que creem, e eles são completos n’Ele. E assim diz o Apóstolo: “E estais perfeitos n’Ele, que é a Cabeça de todo principado e potestade; no Qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo; Sepultados com Ele no batismo, n’Ele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos; E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com Ele, perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2:10-13). Em toda essa bênção permanente, os santos de Deus são eternamente estabelecidos: Esses são os que são Seus, a quem Ele ama até o fim, e cujos pés Ele lava enquanto estão no mundo. Nisso, a liberdade com Ele é mantida, e a comunhão com Ele é desfrutada. Aquele que é vencido por uma falta é restaurado. Como a palavra de Sua salvação trouxe libertação aos Seus, pelo poder de Deus, quando estavam em um estado totalmente impuro na carne, assim a palavra de Sua graça nos traz libertação quanto à nossa caminhada, no lavar dos nossos pés. Ele lava os nossos pés para que possamos andar dignos de Deus (1 Ts 2:12). “Porque, noutro tempo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz” (Ef 5:8).

A necessidade dos que pertencem a Cristo de terem os pés lavados não lhes tira a santa condição de estarem limpos em tudo, mas tampouco o fato de estarem limpos permite um andar impuro. Isso seria transformar a graça do nosso Deus em dissolução (libertinagem – ARA). Veja Judas 4.

Nem todos estais limpos 

Em Judas Iscariotes aprendemos, não o fracasso na caminhada de alguém perfeito em Cristo, mas a horrível condição de um homem totalmente impuro: “Ora, vós estais limpos, mas não todos; porque bem sabia Ele quem O havia de trair; por isso, disse: Nem todos estais limpos” (Jo 13:10-11). Judas não tinha fé no Filho de Deus. Não se podia dizer que Judas não precisava de nada, a não ser ter somente os pés lavados, porque ele era impuro em tudo. A Palavra da vida não tinha lugar nele; aqui o Senhor nos ensinaria que o fundamento da bênção não é pela associação com pessoas, mas apenas pela fé n’Ele. Um homem fraco na fé não trairia a Cristo para o ganho deste mundo; um homem sem fé O trairia. Um sabe que não poderia ficar sem Ele; o outro não vê nenhum valor n’Ele. Um é limpo e o outro não. “Se não crerdes que Eu Sou, morrereis em vossos pecados” (Jo 8:24).

Jesus lhes lavou os pés 

Depois que Jesus lavou os pés deles, tomou Suas vestes, e Se assentou outra vez, disse-lhes: “Entendeis o que vos tenho feito?”. Devemos entender, na presença de nosso Senhor, a bênção que recebemos de Suas mãos; é para a glória de Jesus que devemos conhecê-la, e nosso futuro serviço a Ele está ligado a isso. Nosso Senhor e Mestre pede o serviço de uns para com os outros, de acordo com o padrão de Seu próprio amoroso serviço a nós mesmos. “Vós Me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque Eu o sou. Ora, se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:14-15). Quando recebemos bênçãos de Cristo para nós mesmos, Ele nos ensina nisso a ser uma bênção para outros, e isso quer dizer, lavando os pés uns dos outros, sabendo que Ele lavou os nossos. Que exemplo nosso Senhor nos deu nisso! Ele deixou de lado Suas vestes e tomou uma toalha e cingiu-Se, e assim, lavando os pés uns dos outros, devemos nos apresentar como servos uns dos outros em amor. Jesus manifestou-Se de tal modo aos Seus discípulos, servindo-os, que Pedro logo exclamou: “Senhor, tu lavas-me os pés a mim?” e acrescentou: “nunca me lavarás os pés”. Foi um ato de humildade tão surpreendente que Pedro estava relutante a ver seu Senhor agir assim por ele, até que ele aprendeu a necessidade e a bênção disso. Assim devem agir os servos de Cristo, em seu serviço de amor uns para com os outros, atraindo bênçãos d’Ele em poder purificador de todo caminho imundo, orando uns pelos outros e exortando uns aos outros. Em todo esse serviço, nosso amor deve estar na verdade, como diz o apóstolo João: “O ancião à senhora eleita e a seus filhos, aos quais amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade; por amor da verdade que está em nós e para sempre estará conosco” (2 Jo 1-2). Os irmãos no Senhor são os de Cristo, amados por Ele e purificados n’Ele, e tudo o que é d’Ele neles, deve ser amado neles, e nisso o Espírito Santo – o Espírito da verdade – O glorifica.

Observe, enquanto Ele lavava os pés deles, Ele disse a Pedro: “O que Eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois”. Por meio disso, o nosso Senhor tornou conhecida outra lavagem, também evidenciada pelo que Pedro Lhe disse: “Senhor, não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça”. Essa lavagem não é a purificação da pessoa ou o perdão de todos os seus pecados, como declarado por nosso Senhor, dizendo a Pedro: “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. Aqui toda a purificação de Seu povo é descrita; eles são comparados àquele que acabou de sair do banho e está perfeitamente limpo. No entanto, sabemos que seus pés podem se tornar contaminados naquele momento, e esse é precisamente o nosso caso. Eu agora falo de crentes, e Cristo comparece na presença de Deus por nós. Isso prova que Ele removeu para sempre todos os nossos pecados; por isso Ele veio ao nosso mundo e esteve na sepultura. Sua ressurreição e agora aparecendo na presença de Deus são, eu digo, provas suficientes de que Ele removeu para sempre da vista de Deus todos os nossos pecados. Seu sangue está em lugar de nossos pecados, pelo qual eles foram removidos em todos os detalhes, mas nossos pés são continuamente contaminados. Vivemos num mundo impuro; e temos ainda nossa natureza terrenal. Satanás e o mundo agem sobre ela, e qual é a consequência?

A remoção da contaminação 

Isso nos incomoda. A contaminação obscurece a glória para a qual somos chamados. Interrompe nossa comunhão com Deus e a bem-aventurança da comunhão com Cristo e o Pai. Essa é a contaminação de nossos pés, que precisamos lavar continuamente, mas porque temos uma parte com Cristo, embora agora em Sua glória, Ele nunca deixa de lavar nossos pés. Como Ele os lava? Removendo da nossa mente e consciência tudo o que interrompe a nossa comunhão com Deus e a Sua glória e bem-aventurança.

Sim, temos comunhão com Ele em Sua glória presente, mas uma mente e consciência contaminadas interrompem seu conforto e bem-aventurança. “Deus … [disse Paulo em Efésios 2] nos vivificou juntamente com Cristo, e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus”. Somos semelhantes aos sacerdotes que serviam no pátio do templo e tinham entrada livre no lugar santo. Eles nunca foram removidos do seu serviço. Por quê? Porque eles haviam sido lavados e vestidos ao serem preparados para o serviço. Não havia necessidade de repetir isso, nem qualquer renovação do seu direito ao seu ofício sagrado. Mas suas mãos e pés estavam continuamente contaminados pelo sangue dos sacrifícios.

Então o que deviam fazer? Sem se afastar do lugar e do ofício deles; provisões foram feitas para purificá-los. A pia foi colocada entre o altar de bronze e o lugar santo, na qual lavavam as mãos e os pés, e então serviam dentro do véu. Esse, queridos irmãos, é precisamente o nosso caso. “Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”.

Bible Subjects for the Household of Faith, vol. 1, 1863 (adaptado)

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