Origem: Revista O Cristão – Fruto do Espírito

Liberdade Cristã

O Cristão é chamado à liberdade, a santa liberdade da nova natureza, mas ainda assim é a verdadeira liberdade. Ela não é mais uma lei que constrange, ou melhor, que procura em vão constranger uma natureza cuja vontade lhe é contrária, para satisfazer os deveres que acompanham o relacionamento em que, pela vontade de Deus, nos encontramos. Não é mais uma lei imposta, proibindo o mal a uma natureza que ama o mal e ordenando o amor a Deus e ao próximo a uma natureza cuja fonte é o egoísmo.

Se fosse possível tirar a liberdade moral de Cristo – o que não era possível – teria sido impedindo-O de obedecer à vontade do Pai. Esta era a comida que O alimentava (Jo 4:34). Como um Homem perfeito, Ele viveu por toda Palavra que saiu da boca de Deus. Ele escolheu morrer, beber o cálice amargo que o Pai Lhe dera e glorificá-Lo bebendo-o, em vez de não obedecê-Lo. O Cristianismo é a liberdade de uma nova natureza que ama obedecer e fazer a vontade de Deus. É verdade que a carne, se não for mantida em sujeição, pode usar essa liberdade para satisfazer seus próprios desejos, assim como usou a lei, que havia sido dada para convencer do pecado, para tentar produzir justiça. Mas a verdadeira liberdade do novo homem – Cristo, nossa vida – é a liberdade de uma vontade santa, adquirida por meio da libertação do coração do poder do pecado; é a liberdade de servir aos outros em amor. Toda a lei é cumprida numa palavra: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. O Cristão pode fazer ainda mais; ele pode dar a si mesmo pelos outros, ou, pelo menos, seguindo a direção do Espírito, ele cumpre a lei em amor. Mas se eles devoraram uns aos outros em egoísmo, contendendo sobre a circuncisão e a lei, “vede”, diz o apóstolo, “não vos consumais também uns aos outros” (Gl 5:15).

Uma nova vida 

O apóstolo aqui estabelece os princípios de santidade da caminhada Cristã e traz o Espírito Santo no lugar da lei. Na parte anterior da epístola, ele havia estabelecido a justificação Cristã pela fé, em contraste com as obras da lei. Ele mostra aqui que Deus produz santidade, em vez de exigi-la. A lei já havia feito isso em relação à justiça humana, tentando exigir isso da natureza que ama o pecado. Agora, Deus a produz no coração humano, forjada pelo Espírito. Quando Cristo subiu ao alto e foi assentado à direita de Deus, tendo realizado uma redenção perfeita para aqueles que cressem n’Ele, Ele enviou o Espírito Santo para habitar em todos esses. Eles já eram filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus e, por serem esses tais, Deus lhes deu o Espírito de Seu Filho. Nascidos de Deus, purificados pelo sangue de Cristo, aceitos no Amado, Deus os sela como Seus pelo dom do Espírito até o dia da redenção, isto é, o dia de glória. Tendo a nova vida, Cristo como sua vida, eles são constrangidos a andar como Cristo andou e a manifestar a vida de Cristo aqui embaixo em sua carne mortal.

Essa vida, produzida em nós pela operação do Espírito Santo por meio da Palavra, é conduzida pelo Espírito que é dado aos crentes; sua regra também está na Palavra. Seus frutos são os frutos do Espírito. A caminhada Cristã é a manifestação dessa nova vida – de Cristo nossa vida –, no meio do mundo. Se seguirmos esse caminho e andarmos em Seus passos, não cumpriremos as concupiscências da carne. É assim que o pecado é evitado, não tomando a lei para obrigar o homem a fazer o que ele não gosta, pois a lei não tem poder para obrigar a carne a obedecer. Ela não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. A nova vida ama obedecer, ama a santidade, e Cristo é sua força e sabedoria pelo Espírito Santo. A carne está realmente presente; ela luta contra o Espírito, e o Espírito luta contra a carne, para impedir o homem de andar como ele gostaria. Mas se andarmos no Espírito, não estamos debaixo da lei. Não somos como o homem em Romanos 7, onde, impulsionado pela nova natureza, a vontade deseja fazer o bem. Mas, como é cativo do pecado, não encontra maneira de fazer o que deseja; a lei não dá força nem vida. Sob a lei, mesmo que a vida esteja lá, não há força: O homem é cativo do pecado.

Selado pelo Espírito Santo 

Mas, selado pelo Espírito Santo, o crente é livre; Ele pode realizar o bem que ama. Se Cristo está assim nele, o corpo está morto, e o velho homem está crucificado com Cristo. O Espírito é vida, e esse Espírito, como Pessoa divina e poderosa, opera nele para produzir bons frutos. A carne e o Espírito são, em suas naturezas, opostos um ao outro. Mas se formos fiéis na busca da graça, o poder do Espírito, Cristo por Seu Espírito em nós, nos capacita a manter a carne como morta e a seguir as pisadas de Cristo, produzindo os frutos que Lhe convêm.

Não há realmente nenhuma dificuldade em distinguir os frutos do Espírito e os frutos da carne: O apóstolo os nomeia, pelo menos aqueles que são característicos de suas respectivas ações. Dos tristes frutos da carne, ele declara positivamente que aqueles que fazem tais coisas não herdarão o reino de Deus. Em contraste, os frutos do Espírito são, amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei. Deus não pode condenar o fruto de Seu próprio Espírito.

Os frutos interiores 

Observe que os três primeiros frutos são amor, gozo e paz. O Espírito certamente produzirá aqueles frutos práticos que manifestam a vida de Cristo aos olhos dos homens, mas os frutos interiores, os frutos voltados para Deus, são mencionados em primeiro lugar, pois esses constituem a condição de alma necessária para produzir os outros. Muitas pessoas convertidas buscam os frutos práticos para assegurarem-se de que são nascidas do Espírito e aceitas por Deus. Mas a paz, o amor e o gozo são os primeiros frutos da presença do Espírito e são seguidos pelos outros. Para saber o que está no coração de Deus, precisamos ver o fruto do Seu coração, a dádiva de Jesus.

Se eu creio n’Ele e sou selado de Deus pelo Espírito, tenho a percepção do Seu amor. Esse amor que foi demonstrado na morte de Jesus é derramado em meu coração pelo Espírito Santo, que é dado àqueles que são lavados de seus pecados por meio de fé em Seu sangue. Por esse Espírito temos a consciência de nossa posição diante de Deus, e o amor, o gozo e a paz estão na alma. Os frutos que se seguem são, além disso, a prova para os outros de que a minha certeza e segurança não são falsas, de que não sou enganado. Mas, para mim mesmo, é o que Deus fez que é a prova do que está no coração d’Ele, e por meio da fé eu confirmo que Deus é verdadeiro. Então, selado pelo dom do Espírito, regozijo-me com Sua bondade, e os frutos da nova vida manifestam aos outros que esta vida está presente.

Bible Treasury , Vol. 14

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