Origem: Revista O Cristão – Esdras
Lições do Remanescente
No livro de Esdras encontramos um remanescente do povo se desprendendo da Babilônia e retornando a uma posição divina diante do Senhor. Esses homens fiéis foram cuidadosos para que apenas aqueles cujo título fosse claramente de Israel, se envolvessem com o trabalho do Senhor. Eles não deixaram de considerá-los como sendo de Israel, mas não reconheciam suas reivindicações. Deus podia diferenciá-los como Seus; mas eles não poderiam fingir ter discernimento quando eles já não tinham o Urim e o Tumim (veja Esdras 2:59-63). Aqui temos uma lição instrutiva para nossos dias atuais.
Quando a Igreja estava de acordo com a ordem divina, cada um tomava seu lugar, assim como com o sacerdócio de Israel, que, sem dúvida, tinha o direito de estar lá. Entretanto, Israel se misturou com as corrupções da Babilônia e a desordem reinou. Quando Paulo contemplou a total desordem das coisas na Igreja, que nunca mais poderia ser remediada, ele instruiu o remanescente a se afastar da iniquidade e se purificar dos vasos para desonra da Babilônia, a Igreja professa, (2 Tm 2:19-22) “segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. Em Esdras, os fieis não negaram que aqueles que ainda estavam na corrupção eram filhos de Deus, mas como esses não tinham se livrado dos males da época, e como, conhecendo a corrupção, não haviam se apartado, tiveram a consciência profanada e o coração ficou impuro. O remanescente deveria apenas andar cuidadosamente com aqueles que invocavam o Senhor “com um coração puro”.
A festa das trombetas
Mas o sétimo mês chegou (Esdras 3), o momento da reunião do povo (A festa das trombetas). O remanescente reunido “como um só homem” na única cidade divina no mundo daqueles dias — o único lugar de onde poderiam, por assim dizer, retirar dos salgueiros (N. do T.: veja o Salmo 137:2) aquelas harpas desafinadas pelo muito tempo sem emitir sons, e então adorar ao Deus de Israel! Eles puderam orar com a janela aberta em direção à Jerusalém e confessar seus pecados quando estavam na Babilônia, mas não poderiam adorá-Lo ali. Era impossível reconstruir a ordem das coisas, como tinha sido na época do rei Salomão, aqueles dias tinham passado! A glória de Israel tinha passado, e a espada estava na mão dos gentios. Apesar de todas essas coisas, mesmo que pertencessem a um dia de desordem, o Senhor não Se esqueceu desses homens fiéis, e Sua Palavra e Espírito permaneceram. “Eles construíram o altar do Deus de Israel” (v. 2), apesar de que nem todo o Israel estava lá. Eles nem mesmo fingiram ser “todo Israel”, no entanto, puderam contemplar todo o Israel, e na cidade de Israel adorar ao Deus de Israel, da maneira que o Deus de Israel tinha escrito.
O louvor a Jeová
Como um remanescente que havia escapado, eles ocuparam aquela posição divina e cantaram louvores a Jeová: “Louvai ao SENHOR, porque Ele é bom, porque a Sua benignidade é para sempre” (Sl 106:1). Quando a glória dos tempos antigos tinha passado e o fracasso e a ruína de Israel estavam completos, o remanescente que retornou pôde elevar a mesma nota antiga de louvor: “Porque é bom; porque a Sua benignidade dura para sempre” (Ed 3:11). Eles tinham sido infiéis, mas Ele foi fiel. Os pais de Israel, que tinham visto a casa do Senhor antes do cativeiro, poderiam chorar quando pensavam na infidelidade do povo. Os mais jovens poderiam cantar com júbilo quando eles comemoraram a fidelidade do Senhor. O choro e o júbilo eram ambos bons; os que choravam tinham razão, quando pensavam no fracasso do povo de Jeová, mas jubilar-se estava certo também, quando se lembravam da fidelidade de Deus!
O “um só corpo”
Tudo isso traz uma lição instrutiva para nós. A unidade da Igreja permanece, sendo mantida pelo Espírito de Deus. As línguas passaram, o poder apostólico desapareceu, sinais miraculosos são coisas do passado, tais como curas e outros dons que chamariam a atenção do mundo. Ainda assim a Palavra de Deus e a Sua fidelidade permanecem, e para isso Deus nos dirigiu nestes últimos dias. O remanescente livrou-se da Babilônia, por assim dizer, e se reuniu ao nome do Senhor. Então, hoje, o povo de Deus pode reunir-se com base em Mateus 18:20 e no infalível princípio da existência da Igreja— “um só corpo e um só Espírito” (Ef 4:4). Nisso, eles não fingem ser “toda a Igreja de Deus”, pois seria esquecer que existem filhos de Deus por toda a parte ainda dispersos na Babilônia. Não podem estabelecer nada e nem reconstruir coisa alguma. Mas devem se lembrar de que está com eles, “o que é Santo, o que é Verdadeiro, o que tem a chave de Davi, o que abre, e ninguém fecha, e fecha, e ninguém abre” (Ap 3:7). Devemos sempre confiar n’Ele e contar com Ele. Se Ele mandar ajuda ou dom entre os reunidos ao Seu nome, podem agradecer a Deus e aceitar a bênção como um símbolo de Seu favor e graça, mas eles não podem designar a nenhum deles. Fazer isso seria se esquecer da total ruína que não poderá ser restaurada, e presumir que podem fazer algo que eles não têm nenhuma garantia dada pela Palavra de Deus.
Os outros que retornaram
Se uma nova ação do Espírito de Deus fizesse com que um grupo como o de Neemias voltasse da Babilônia, os primeiros estariam felizes em recebê-los no terreno divino que ocupavam. Se o novo grupo de Neemias viesse, eles encontrariam um remanescente que tinha ocupado, por graça, a posição divina antes deles, e deveriam, com coração grato e alegre, concordar com o que Deus tinha efetuado. Eles não ousariam criar uma nova posição, isso seria divisão. E porque tinha sido formado pelo mesmo Espírito, se Ele fosse seguido, não faria nada além de orientá-los até a mesma posição divina à qual Ele tinha guiado os primeiros. Como isso deixa completamente de lado a independência e vontade humana!
Se estivessem sendo guiados pelo “um só Espírito” eles não poderiam fazer nada além de se unir de maneira prática aos primeiros, e em unidade de Espírito, com aqueles que tinham ocupado, antes deles, tal terreno divino, alegremente e gratos reconheceriam o que Deus tinha feito, e seguiriam onde o “um só Espírito” tivesse guiado seus irmãos antes deles ao nome do Senhor, como “um só corpo”, partiriam o “um só pão” em memória d’Ele!
