Origem: Revista O Cristão – A Boca, os Lábios, a Língua

A Língua, os Lábios, a Boca

A garganta, a língua, os lábios e a boca são enumerados em Romanos 3, naquela imagem tenebrosa do pecado e da culpa do homem, pois têm sido instrumentos do mal que vem do íntimo – de um coração perverso.

“A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura” (Rm 3:13-14).

Sim, sua garganta é um sepulcro aberto; isto é, é a saída para um lugar onde reina a morte moral. A sua língua tem sido usada para enganar – talvez em mentiras deliberadas, ou talvez apenas usando verdades parciais para enganar. O veneno das áspides está sob seus lábios para infectar aqueles que ouvem sua fala, e sua boca está cheia de maldição e amargura. Tal é o homem em sua condição de distância e inimizade para com Deus – uma imagem tenebrosa de fato.

Confissão com a boca 

No capítulo 10 da mesma epístola, descobrimos que, quando o evangelho é recebido com fé, esses mesmos lábios são usados de outra maneira: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus [ou, Jesus como Senhor] e, em teu coração, creres que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo; Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10:9-10).

Depois que alguém recebe no coração a verdade de que o Senhor Jesus morreu por ele e ressuscitou, então a boca é aberta em confissão daquela bendita Pessoa como Senhor. Sim, a mesma boca que antes era usada para enganar, amaldiçoar e envenenar está agora aberta, para confessar como seu próprio Senhor, Aquele que antes era desprezado. Bendita mudança!

Isso é ilustrado no ladrão que foi salvo enquanto estava pendurado em uma cruz ao lado do Senhor Jesus. A princípio, ele se juntou a seu colega ladrão para insultar o Senhor da glória, mas quando a luz brilhou em sua alma, ele falou contra tal conduta e mencionou o temor de Deus. Ele repreendeu o outro ladrão, testemunhou a inocência do Senhor e depois se voltou para Jesus e se dirigiu a Ele como Senhor. Que mudança, e em tão pouco tempo! Seus lábios, língua e boca, que haviam sido usados tão recentemente no serviço de Satanás, agora eram usados para confessar Jesus como Senhor. Foi assim com Saulo de Tarso, o irado perseguidor de todos os que honravam o nome de Jesus, pois quando ele foi colocado face a face com o fato de que era o Senhor Jesus que ele estava perseguindo, ele usou seus lábios para reconhecer Jesus como Senhor. Essa mesma característica continuou a marcar o apóstolo Paulo, pois quando ele se aproximava do fim de sua jornada, ele falou carinhosamente de “Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3:8). O tempo não apagou nem obscureceu o que sua língua proferiu na estrada de Damasco anos antes.

O fruto dos nossos lábios 

Em Hebreus 13 lemos, “Portanto, ofereçamos sempre, por Ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15).

Que coisa maravilhosa é que esses nossos lábios – uma vez usados para o que era mau – agora podem dar frutos para Deus! E como eles podem produzir frutos? Quando “confessam o Seu nome”! Primeiro, o coração deve sentir essa gratidão; então os lábios a pronunciam a Deus, e Ele a chama de “fruto”. Fruto abençoado, mas ele todo é o resultado do que Sua própria graça operou por nós e em nós.

Há muitos versículos que falam de como a boca pode ser usada, mas aqui está outro que gostaríamos de observar: “para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15:6). A boca que antes era usada em desrespeito a Deus, agora pode ser usada para glorificá-Lo, e isso junto com os santos de Deus.

Palavras para edificação 

Então, em Efésios 4, onde recebemos exortações para andar de acordo com a posição em que estamos agora, encontramos estas palavras:

“Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê [ministre – TB] graça aos que a ouvem” (Ef 4:29).

Nossos lábios não devem apenas confessar Jesus como nosso Senhor, produzir frutos para Deus e glorificá-Lo, mas, por Sua graça, podem ser usados para o que é bom, a fim de edificar outros Cristãos. Quem, senão Deus, poderia tomar tais lábios e torná-los instrumentos de bênção?

Mas também há uma reflexão triste e solene para nós, que somos salvos, em que esses lábios podem ainda produzir o que não é bom ou o que não edifica, por isso somos exortados a não permitir que saia de nossa boca qualquer palavra corrupta. Quão facilmente alguém pode cair nesse mal! O coração ainda é incuravelmente perverso, e possuímos uma natureza maligna que pode se mostrar; em nenhum lugar é mais apto a ser visto do que no que sai de nossa boca. Talvez algo contaminante tenha sido ouvido por nós, e não tivemos a cobertura no vaso (Nm 19:15), e isso encontrou uma entrada em nossa mente; algo nos contaminou e a tendência é repeti-lo para outro. É triste, muito triste quando fazemos isso, pois nossa boca se torna então um instrumento para contaminar outros, e não para edificá-los.

O uso da língua 

A epístola de Tiago fala muito sobre a língua e o que ela faz. Tiago não se aprofunda até a fonte no coração, mas nos dá a conhecer as coisas terríveis que saem da boca. Diz (leia Tiago 3) que “é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas”. Sim, a língua é apenas um pequeno membro, mas pode causar danos incalculáveis. Como ela pode se vangloriar! E a vanglória é odiosa para Deus; isso é orgulho. A língua é uma coisa que nenhum homem domou, embora tenha domado criaturas da Terra, do mar e do ar; é um mal rebelde. Mas o escritor inspirado continua dizendo que da mesma boca não deveriam sair coisas boas e ruins; uma fonte não dá água doce e amargosa, ou água salgada e doce. Essas palavras devem nos exercitar muito sobre o que sai de nossa boca.

Em Colossenses 3, somos instruídos a tirar as “palavras torpes” da nossa boca e a não mentir uns aos outros (vs. 8-9). Com que facilidade contamos algo de outra forma e não exatamente como nos foi contado. Somos muito capazes de colorir as coisas, a colocar uma luz diferente nelas, e será que isso não é, em sua essência, mentir? Quão cuidadosos devemos ser para contar as coisas corretamente e julgar cada violação da exata verdade!

Inveja e conflito 

Quando Paulo escreveu sua segunda carta aos Coríntios, ele disse que temia que, quando chegasse a eles, encontraria “pendências, invejas, iras, porfias, detrações, mexericos, orgulhos, tumultos” (2 Co 12:20). Quão triste que tal condição pudesse existir entre os santos de Deus! Que pendências ou contendas têm ocorrido na Igreja na Terra! Que confusão e obra maligna têm sido forjadas pela inveja! E o que diremos de iras e contendas, ou animosidades e dissensões? Elas não vêm de dentro, de um coração maligno, daquilo que é deixado sem julgamento por nós mesmos? Mas as detrações, ou como outra tradução coloca, “difamações” (TB), trouxeram tristeza a muitos corações. Com que facilidade agimos pelas costas dos outros e dizemos coisas para prejudicar nossos irmãos. Não é esse um mal predominante? Isso não está ainda em operação entre os filhos de Deus? E oh, aqueles mexericos ou fofocas! Quem pode avaliar o problema e a tristeza nas assembleias do povo de Deus provocadas por mexericos? Mexericar, ou fofocar, nunca é sobre o bem; é sempre algo obscuro. Mas alguns santos se escondem atrás do fato de que o que eles fofocam é a verdade, mas será que isso é “amável de boa fama” ou louvável? Quantas maledicências e mexericos seriam evitados se nos recusássemos a falar pelas costas de nosso irmão algo que não diríamos na frente dele. E apontaríamos o dedo para o outro? Há alguém que não seja, em alguma medida, culpado disso? Mas fiquemos de sobreaviso, pois a Palavra de Deus adverte sobre esses males e seus tristes resultados.

Grande parte das fofocas seria evitada se mostrássemos o espírito de amor; o amor nunca prejudicará o objeto de sua afeição. Se o amor fosse mais ativo, estaríamos mais no espírito de oração, buscando o bem e a bênção do nosso irmão em vez de falar dele aos outros. O Senhor falou aos outros sobre as falhas de Pedro, ou mesmo seu fracasso? Em vez disso, Ele disse a Pedro: “Eu orei por ti”. Estamos mais prontos para falar aos outros das falhas de nosso irmão do que para levá-lo diante do trono da graça!

Desses mexericos vêm raízes de amargura, e logo muitos são contaminados. Que o Senhor nos exercite a todos para estarmos em guarda contra as investidas desse mal pernicioso, porém mostrar o amor que “cobre uma multidão de pecados”. Que Deus veja o amor em exercício em favor dos nossos irmãos!

Sãs palavras de sabedoria 

Existem algumas sãs palavras de sabedoria no livro de Provérbios sobre este assunto, que citaremos: “Na multidão de palavras não falta transgressão”. E isso não é verdade? Onde há muito falatório, há pecado nele. “Mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10:19).

“O difamador (fofoqueiro) separa os melhores amigos” (Pv 16:28). Uma obra maligna, de fato! Mas quantos amigos foram separados pelo trabalho de algum fofoqueiro – alguém que pode ter dito a verdade, mas a coloriu, ou colocou uma luz errada sobre ela, e o prejudicado não teve reparação, pois ele não tinha conhecimento do que foi feito.

“O que guarda a boca e a língua guarda das angústias a sua alma” (Pv 21:23). Sãs palavras! Palavras necessárias!

Fofoca 

E lembremo-nos de que quando alguém dá início a alguma calúnia ou informação maldosa, “sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda” (Pv 26:20). Não temos o poder pôr fim a alguma informação maldosa, em vez de repeti-la e continuar a espalhá-la? Será que sempre tomamos cuidado para não colocar lenha no fogo?

Um irmão tinha o hábito de perguntar a qualquer um que lhe trouxesse uma fofoca: “Posso contar isso à pessoa de quem você está falando? Se não, nem me diga.”

E uma má notícia não viaja mais rápido do que uma boa? Sim, até uma mentira corre mais rápido que a verdade. Anos atrás, alguém disse: “Uma mentira vai dar a volta ao mundo antes que a verdade possa calçar os sapatos”. E então, quando uma notícia maldosa é iniciada e mais tarde descoberta como incorreta ou falsa, os mesmos que a espalharam fazem um esforço igual para circular a verdade e corrigir o erro? Em muitos casos, não.

“Põe um guarda” 

Para encerrar, há dois versículos nos Salmos que podemos usar como uma oração todos os dias. Não que aprovemos formas prescritas de oração, mas esses versículos expressam mais adequadamente qual deve ser o verdadeiro desejo de nosso coração:

“Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a Tua face, SENHOR, rocha minha e libertador meu” (Sl 19:14). Quão cuidadosos devemos ser para que as palavras de nossa boca sejam aceitáveis aos olhos d’Ele! Nosso irmão pode não ouvir o que é dito sobre ele, mas há Alguém que ouve e sabe tudo, e devemos procurar que tudo o que está no nosso coração e o que sai da nossa boca possa encontrar Sua aprovação.

E o segundo versículo que citaremos é: “Põe, ó SENHOR, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Sl 141:3). Se esse fosse o desejo do nosso coração e a linguagem dos nossos lábios, quando nos encontrássemos com outros Cristãos, quão diferente seria o assunto de nossa conversa. Que o Senhor nos conceda graça para desejar esta guarda de boca e lábios. E que a língua, os lábios e a boca, anteriormente usados em nosso pecado e loucura, sejam usados para glorificar a Deus e ministrar graça aos outros.

P. Wilson

Compartilhar
Rolar para cima