Origem: Revista O Cristão – Fruto do Espírito
A Mansidão e a Benignidade de Cristo
Há uma voz de instrução muito profunda nesse apelo do apóstolo aos Coríntios: “eu, Paulo, vos rogo, pela mansidão e benignidade de Cristo” (2 Co 10:1). Também lemos em Gálatas 5 que essas duas graças fazem parte do fruto do Espírito. Nosso Senhor exemplificou essas graças em todos os sentidos.
Se traçarmos para nós mesmos o percurso do Senhor por este mundo no decorrer das várias cenas em que Ele é apresentado, o que é que toca o coração? O que é que nos faz sentir a distância imensurável que existe entre Ele e todos os outros caracteres que já contemplamos ou podemos contemplar? Não é Sua humilde mansidão – Sua gentileza, Sua indescritível humildade de comportamento, em contraste com tudo o que estava ao Seu redor, e em contraste com tudo o que sabemos de nosso próprio espírito e do mundo? Pense n’Ele na presença dos Seus inimigos e das suas provocações! Pense n’Ele em conexão com os Seus discípulos insensatos e insensíveis – como Ele enfrenta as dificuldades deles, suporta a ignorância dos mesmos, corrige os seus preconceitos! Como cada cena em que Ele é visto adiciona alguma nova ilustração da verdade de Suas palavras: “Sou manso e humilde de coração”, até que a impressão do todo se torne irresistível.
Mansidão
A mansidão é mais visível na tolerância de algo que enfrentamos que de alguma forma nos é contrário. A benignidade tem o campo do seu exercício no trato ativo com os outros. Observe quão extensivamente esse espírito é diretamente inculcado no Novo Testamento. Em primeiro lugar, o apóstolo Pedro nos ensina que o chamado característico de um Cristão, em relação a este mundo, é fazer o bem, sofrer por essa causa e aceitar isso pacientemente (veja 1 Pedro 2:20-23). E no sofrimento pela justiça, sobre a qual nosso Senhor pronunciou Sua bênção, o mesmo apóstolo diz: “santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). E quando fala do tipo de vestuário que é adequado, à luz de Deus, para as mulheres Cristãs, diz, “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de joias de ouro, na compostura de vestes, mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (1 Pe 3:3-4). Nosso Senhor, ao dar as características daqueles que teriam parte com Ele em Seu reino, diz: “bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mt 5:5).
O apóstolo Tiago, ao nos apresentar o espírito no qual a Palavra divina deve ser recebida, diz: “rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a Palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma” (Tg 1:21). E novamente: “Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes” (Tg 4:6).
O nosso andar
Se nos voltarmos para as epístolas de Paulo, o encontramos em Efésios falando assim em relação à caminhada que é digna do chamado do Cristão: “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4:1-2). Em Colossenses, ele diz: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3:12-13). Em Gálatas, como já vimos, ele diz: “Mas o fruto do Espírito é: caridade [amor – ARA], gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5:22-23). Na mesma epístola, ele nos ensina em que espírito a disciplina fraternal precisa ser administrada para ser eficaz. “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai [restaurai – JND] o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” (Gl 6:1). Em sua epístola a Timóteo, ele diz: “Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade [o amor – ARA], a paciência, a mansidão” (1 Tm 6:11). E na segunda epístola, onde especialmente ele está preocupado com o fato de Timóteo precisar agir corretamente em meio à oposição, ao mal e à corrupção da verdade, ele diz: “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2 Tm 2:23-25). Em Tito, falando sobre qual é o dever dos Cristãos em seu comportamento para com as autoridades do mundo, ele diz: “Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam e estejam preparados para toda boa obra; que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda mansidão para com todos os homens” (Tt 3:1-2).
Não há uma relação de vida nem uma condição em que possamos ser colocados na qual esse espírito não seja exigido de nós. Podemos nos perguntar: Até que ponto essa “mansidão e benignidade de Cristo” são exibidas em mim? E quanto isso é uma questão de estudo diário, na presença de meu manso e gentil Senhor e Mestre, para que possa alcançá-la?
Davi disse: “Pela Tua brandura (benignidade – KJV) me vieste a engrandecer” (2 Sm 22:36), e de Moisés está registrado que ele era “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra” (Nm 12:3). Esses dois eram excelentes servos de Deus, mas seus traços de benignidade e mansidão não são os traços que os homens estimam muito, nem os teriam preparado para um grande lugar no mundo dos homens. Será que desejamos essas características vistas nesses dois homens de Deus, e que se manifestaram em sua perfeição em Jesus?
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