Origem: Revista O Cristão – Mares
O Mar de Fundição
Salomão “fez também o mar de fundição, de dez côvados de uma borda até à outra, redondo, e de cinco côvados de alto; cingia-o em roda um cordão de trinta côvados. E por baixo dele havia figuras de bois, que ao redor o cingiam, e por dez côvados cercavam aquele mar ao redor; e tinha duas carreiras de bois, fundidos na sua fundição. E estava sobre doze bois; três que olhavam para o norte, e três que olhavam para o ocidente, e três que olhavam para o sul, e três que olhavam para o oriente; e o mar estava posto sobre eles, e as suas partes posteriores estavam para a banda de dentro E tinha um palmo de grossura, e a sua borda foi feita como a borda de um copo ou como uma flor-de-lis, da capacidade de três mil batos… porém o mar era para que os sacerdotes se lavassem nele” (2 Cr 4:2-6).
Para ter um entendimento claro da doutrina que nos é ensinada nesta bela e significativa figura, três coisas exigem nossa atenção, a saber, o material, o conteúdo e o objeto. Que Deus, o Espírito, guie nossos pensamentos e fale ao nosso coração enquanto nos ocuparmos com essas coisas!
O material – cobre
O mar fundido de Salomão era feito de cobre, que é o símbolo adequado da justiça divina exigindo julgamento sobre o pecado, como no altar de cobre, ou exigindo julgamento sobre impureza, como no mar de fundição. Isso explicará por que o altar onde o pecado era expiado e o mar onde a contaminação era lavada eram ambos feitos de cobre. Tudo na Escritura tem o seu significado!
É muito reconfortante ter certeza de que o pecado que Deus perdoa livremente e a impureza que Ele remove livremente foram ambos totalmente julgados e condenados na cruz. Nem um único traço de impureza foi ignorado; tudo foi divinamente julgado. “A misericórdia triunfa sobre o juízo” e “a graça (reina) pela justiça” (Tg 2:13; Rm 5:21). O crente é perdoado e purificado, mas sua culpa e impureza foram julgadas na cruz. O conhecimento dessa verdade mais preciosa funciona de uma maneira dupla: Ela torna o coração e a consciência perfeitamente livres, ao mesmo tempo em que nos leva a abominar o pecado e a impureza. O altar de cobre contava, em uma eloquência muda, mas impressionante, sua dupla história: a culpa havia sido divinamente condenada e, portanto, poderia ser divinamente perdoada. O mar de fundição deu testemunho silencioso, mas claro, do fato de que a impureza havia sido divinamente julgada e, por esse motivo, poderia ser divinamente lavada.
Que profunda e santa consolação para o coração em tudo isso! Não posso olhar para o antítipo do altar e cometer pecado levianamente. Não posso olhar para o antítipo do mar de fundição e, indiferentemente, contrair contaminação. Deus foi perfeitamente glorificado; o pecado e a impureza foram perfeitamente condenados. Estou eternamente livre, mas a morte de Cristo é a base de tudo. Tal é a lição consoladora, mas santa, que nos foi ensinada no material do altar de cobre e do mar de fundição. Nada é deixado de lado por Deus e, no entanto, nada é imputado a mim, porque Cristo foi julgado por todos.
O conteúdo – água
Consideremos agora, em segundo lugar, os conteúdos do mar de fundição de Salomão. “da capacidade de três mil batos” de água. Se no altar eu vejo cobre em conexão com sangue, no mar eu encontro cobre em conexão com água. Ambos apontam para Cristo. “Este é Aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue” (1 Jo 5:6). “Um dos soldados Lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo 19:34). O sangue que expia e a água que purifica ambos fluem do Salvador crucificado. Verdade preciosa e solene!
Mas o mar de cobre continha água, não sangue. Aqueles que se aproximaram já haviam provado o poder do sangue e, portanto, só precisavam da lavagem da água. Um sacerdote sob a lei, cujas mãos e pés haviam se contaminado, não precisava voltar para o altar de cobre, mas se dirigir ao mar de fundição. Ele não precisava novamente aplicar o sangue, mas apenas lavar com água, para permitir que ele cumprisse suas funções sacerdotais. Então, agora, se um crente falha, se ele comete pecado, se ele contrai contaminação, ele não precisa ser novamente lavado no sangue, mas simplesmente a ação purificadora da Palavra, pela qual o Espírito Santo aplica à alma a lembrança do que Cristo fez, para que a contaminação seja removida e a comunhão restaurada. “Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo” (Jo 13:10). Isso faz pouco da contaminação? Exatamente o contrário. A provisão de um mar de fundição, com seus 3.000 batos de água, fez pouco da contaminação sacerdotal? Pelo contrário, isso não provava que era um assunto sério no julgamento de Deus?
Pecados e contaminações diárias
Muitos Cristãos sinceros entram em trevas e problemas espirituais quanto à questão dos pecados e contaminações diárias. Por não verem sua plenitude divina por meio do sangue de Cristo, sentem que devem, a cada nova ocorrência, voltar ao altar de cobre, como se nunca tivessem sido lavados. Isso é um erro, pois quando um homem é purificado pelo sangue de Jesus, ele está limpo para sempre. Posso perder a noção disso, o poder disso, o gozo disso. Pedro fala de alguns que se esqueceram de que foram purificados de seus antigos pecados. Se o pecado for tratado com indiferença e o ego não for julgado, é difícil dizer a que ponto um Cristão pode chegar. Que o Senhor nos dê que andemos suave e ternamente diante d’Ele, para que não fiquemos sob a influência cegante do pecado!
Mas, lembre-se, a salvaguarda mais eficaz contra a obra e a influência do pecado é ter o coração estabelecido em graça e clareza sobre nossa posição em Cristo. Quando sei que todos os meus pecados e todas as minhas contaminações foram julgados e condenados na cruz e que sou justificado e aceito em Cristo ressuscitado, então estou no verdadeiro terreno de santidade. E, se eu falhar, posso levar meu fracasso a Deus, em confissão e juízo próprio, e conhecê-Lo como Fiel e Justo para perdoar meus pecados e me purificar de toda injustiça. Eu julgo a mim mesmo sob o fundamento que Cristo já foi julgado diante de Deus pela própria coisa que eu confesso em Sua presença.
A verdade é que, se errei, devo confessar e me julgar a mim mesmo. Um único pensamento pecaminoso é suficiente para interromper minha comunhão. Mas é como alguém purificado que eu confesso. Não sou mais visto como um pecador, estou agora na posição de um filho que deve prestar contas a Deus como Pai. Ele fez provisão para minha necessidade diária, uma provisão que não envolve a negação da minha posição ou a ignorância da obra de Cristo, mas uma provisão que me diz imediatamente da santidade e graça d’Aquele que a fez. Não devo ignorar o altar porque preciso do mar, mas devo adorar a graça d’Aquele que proveu tanto um como o outro.
O objetivo – lavagem
Agora, algumas poucas palavras serão suficientes quanto à finalidade do mar. “O mar era para que os sacerdotes se lavassem nele”. Ali iam os sacerdotes, dia após dia, lavar suas mãos e pés, para que pudessem estar sempre em uma condição apta para realizar seu trabalho sacerdotal. Uma figura marcante, essa, dos sacerdotes espirituais de Deus, isto é, de todos os verdadeiros crentes cujas obras e caminhos precisam ser purificados pela ação da Palavra. Tanto a pia de cobre, no tabernáculo, quanto o mar de fundição no templo prenunciavam aquela “lavagem da água pela Palavra” que Cristo agora está realizando pelo poder do Espírito Santo. Cristo, em Pessoa, está agindo no céu por nós, e, por Seu Espírito e Palavra, Ele está agindo em nós e sobre nós. Ele nos restaura quando nos desviamos; Ele nos purifica de toda a impureza; Ele corrige cada um de nossos erros.
Somos salvos pela Sua vida. Tudo está seguro n’Ele. “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:25-27).
E agora, uma palavra sobre os “bois” que sustentavam o mar de fundição. O boi é usado na Escritura como o símbolo do paciente trabalho árduo e, portanto, seu lugar significativo sob o mar de fundição. De qualquer lado que o sacerdote se aproximasse, ele se deparava com a expressão adequada da paciente labuta. Não importava quantas vezes ou de que forma ele viesse, ele nunca poderia esgotar a paciência que era dedicada ao trabalho de purificá-lo de todas as suas contaminações. Que figura preciosa! Nunca podemos cansar a Cristo com a nossa presença frequente. Ele não Se cansará até que nos apresente a Si mesmo sem mancha, ruga ou qualquer coisa semelhante.
Que o nosso coração adore Aquele que é o nosso Altar, a nossa Pia, o nosso Sacrifício, o nosso Sacerdote, o nosso Advogado, o nosso Tudo!