Origem: Revista O Cristão – Vestes
Mirra, Aloés e Cássia
No Salmo 45:8, temos aquelas belas palavras faladas profeticamente a respeito de nosso Senhor Jesus em Seu caminho enquanto esteve neste mundo: “Todas as Tuas vestes cheiram a mirra, a aloés e a cássia, desde os palácios de marfim de onde Te alegram”. O salmo traz perante nós profeticamente o Senhor Jesus em juízo e depois em exaltação, mas o versículo que acabamos de citar mostra que, para o Messias, o caminho ao trono passava pela cruz. As vestes do nosso bendito Senhor foram caracterizadas por cada uma das especiarias mencionadas, e certamente cada uma delas tem um significado distinto e precioso para nós.
Mirra – A fragrância por meio do sofrimento
Pode haver diferentes significados associados a essas especiarias, mas eu sugeriria que a mirra fala de fragrância e beleza. A mirra é obtida de uma pequena árvore espinhosa, mas é necessário continuamente “ferir” a árvore, cortando profundamente a casca para que a seiva “sangre”. Em seguida, forma uma resina aromática e perfumada que era considerada muito valiosa por toda a história do mundo.
Na Escritura, é mencionada como um dos componentes do azeite da santa unção (Êx 30:23), e também foi um dos tesouros oferecidos ao Senhor Jesus pelos magos que vieram do Oriente para adorá-Lo (Mt 2:11).
Foi em sofrimento que este odor de “cheiro suave” surgiu e subiu a Deus Pai. Embora essa bela fragrância tenha sido, sem dúvida, exibida ao longo do caminho terrenal de nosso Senhor, ela vista de maneira mais marcante em Seus sofrimentos na cruz. Tudo o que Ele sofreu, não apenas do homem, mas especialmente durante as horas de trevas, apenas serviu para revelar a beleza daquele supremo sacrifício. Quanto mais profundo o sofrimento, maior a fragrância e a beleza que emanam d’Aquele Bendito.
Aloés – A fragrância na amargura
Em segundo lugar, temos o aloés mencionado. Esta é uma especiaria incomum, também extraída da madeira de uma árvore. Tem a característica incomum de ser amarga ao paladar, mas que produz uma ótima fragrância. É mencionada várias vezes na Escritura, particularmente em conexão com o sepultamento do Senhor Jesus por José de Arimatéia e Nicodemos.
Mais uma vez, somos lembrados da amargura do sofrimento que nosso Senhor suportou. Pela mesma razão, a Páscoa devia ser comida com ervas amargas. Enquanto a mirra pode representar o cheiro suave do holocausto, o aloés traz diante de nós a amargura da oferta pelo pecado. Contudo, mais uma vez o sofrimento produziu a mais bela fragrância, pois o resultado de toda aquela amargura e sofrimento foi resolver toda a questão do pecado diante de um Deus santo e prover um caminho para a remoção do pecado, não apenas daqueles que creem, mas ao final do universo inteiro.
Cássia – A cura e o conforto
Finalmente, as vestes do Senhor foram permeadas com cássia, uma especiaria que é extraída dos galhos e da casca da árvore de canela. Embora tenha um aroma forte e agradável, foi reconhecida por milhares de anos como tendo propriedades medicinais e curativas. Muitos continuam a usar o óleo de cássia até os dias de hoje para esse mesmo propósito. É também mencionada na Escritura várias vezes e era um componente do azeite da santa unção, juntamente com a mirra.
Eu sugeriria que a cássia fala de cura e conforto, e é mencionada por último como sendo o resultado dos sofrimentos figurados pela mirra e aloés. Se houvesse alguma cura da tristeza e mágoa que o pecado trouxe a este mundo, o sofrimento de nosso Senhor tinha que acontecer. Esta cura e conforto estão agora disponíveis para o crente de uma forma espiritual, pois embora o crente ainda possa sofrer fisicamente, agora mesmo ele está libertado da escravidão de seus pecados e também da escravidão de seus cuidados [preocupações]. Quando o Senhor vier, o crente também desfrutará de um corpo transformado, para não mais sofrer os efeitos do pecado. Em um dia vindouro, toda a criação será libertada da “servidão da corrupção” e será trazida à “liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8:21).
O sepultamento de Jesus
Já mencionamos o sepultamento do Senhor Jesus, quando dois homens ricos, José de Arimatéia e Nicodemos, se apresentaram e deram ao Senhor Jesus o sepultamento de um homem rico. “E puseram a sua sepultura… com o rico, na sua morte” (Is 53:9). Está registrado que eles trouxeram “quase cem libras de um composto de mirra e aloés” (Jo 19:39). Esta foi uma quantidade extraordinária de tais especiarias, a um custo imenso, mas Deus queria que Ele tivesse o Seu sepultamento assim. Assim que terminada a obra da expiação, Deus Pai nunca permitiu que mãos ímpias tocassem novamente o corpo de Seu Filho. A Ele deve ser concedida a honra que Lhe era devida.
Mas alguns se perguntam por que a cássia é deixada de fora. Se é claramente mencionada como permeando por Suas vestes, por que não deveria estar presente em Seu sepultamento? Eu sugeriria que há uma verdade muito preciosa aqui. Sem a ressurreição, não poderia haver salvação nem cura ou conforto. Por mais preciosa que fosse a Sua obra na cruz, não seria suficiente para tirar o pecado se Ele tivesse permanecido na sepultura. É na ressurreição que temos a cássia, talvez melhor descrita em João 20:17: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus”. A cássia não é especificamente nomeada, mas o resultado é claro. Somos trazidos para o favor e para o relacionamento, não só com Deus, mas com Deus como nosso Pai. Nunca esse relacionamento existiu antes, pois enquanto Deus sempre foi, em um sentido, “um só Deus e Pai de todos” (Ef 4:6), ainda assim Ele nunca fora conhecido antes pelo homem como Pai, no sentido íntimo desse relacionamento. É de fato uma relação a partir da qual a cura e o conforto fluem.
A obra do nosso Senhor na cruz – e seus resultados tanto para Deus quanto para o homem – está além do nosso entendimento. No entanto, usando especiarias aromáticas e caras, Deus nos ilustrou algo do valor de Seu amado Filho e Sua obra para nós.
