Origem: Revista O Cristão – Mistérios

O Mistério de Deus e o Mistério de Cristo

Ao falar do mistério de Cristo e a Igreja, a Palavra de Deus se refere a isso como o mistério de Deus e o mistério de Cristo. Embora seja o mesmo mistério nos dois casos, é bom reconhecer porque o Espírito de Deus faz essa distinção, pois há um tom diferente de significado nesses dois termos.

No Novo Testamento, frequentemente encontramos um termo referido a Deus em uma passagem, e a Cristo em outra. Por exemplo, descobrimos que os termos “o Espírito de Deus” e “o Espírito de Cristo” são usados em Romanos 8:9. Encontramos o termo “a Palavra de Deus” usado muitas vezes, mas em Colossenses 3:16 é “a Palavra de Cristo”. Temos o termo “a paz de Deus” (Fp 4:7), mas também “a paz de Cristo” (Cl 3:15 – ARA). Em Romanos 8:39 é “o amor de Deus”, enquanto em Romanos 8:35 é “o amor de Cristo”. Existem outros, como “o evangelho de Deus” e “o evangelho de Cristo”, que podem ser adicionados a esta lista.

O que diz respeito a Deus e a Cristo 

Embora o significado exato em cada caso deva ser determinado pelo contexto da passagem, ainda assim, de uma maneira geral, podemos dizer que quando é “Deus” que está conectado com um pensamento específico, é a Sua natureza e poder que são trazidos à tona diante de nós – a essência do que Ele é em Si mesmo. Se lemos o termo “o Espírito de Deus”, é o pensamento de Quem o Espírito é em Sua divindade essencial e em Seu poder que opera em nós. Se é “o amor de Deus”, é a natureza de Deus como amor, e a força e poder do Seu amor que devemos considerar. Se é “a paz de Deus”, é uma paz conectada com o poder de Deus em todas as circunstâncias.

Quando é “Cristo” que está conectado com o indivíduo, o pensamento é diferente. É, antes, o lado prático das coisas, referindo-se às nossas experiências na vida e à nossa caminhada diante do Senhor, que o Espírito deseja trazer diante de nós. Assim, o termo “o Espírito de Cristo” nos ocupa com o que o Espírito está fazendo em nós e com a nossa identificação com Cristo por meio da habitação do Espírito. O “amor de Cristo” é mencionado em relação às provações que existem neste mundo, como tribulações, fome e perigo, enquanto o “amor de Deus” está conectado ao poder fora deste mundo. “A paz de Cristo” é mencionada em relação à nossa caminhada, enquanto a “paz de Deus” se refere mais ao fato de estarmos confiando tudo a Deus e fazendo nossos pedidos a Ele.

As duas partes 

Como entendemos então esses termos aplicados ao mistério de Cristo e a Igreja? Na verdade, existem duas partes do mistério: primeira, que todas as coisas serão colocadas sob a liderança de Cristo; e segunda, que a Igreja será associada a Cristo em tudo isso, como Seu corpo e Sua noiva. Quando obtemos a expressão “o mistério de Deus” em Colossenses 2:2, a plenitude da Cabeça do corpo está sendo trazida diante de nós. Colossenses, de uma maneira geral, fala do que Cristo é para a Igreja e nos dá a mais alta verdade na Escritura, a respeito de Sua Pessoa e os propósitos de Deus em Seu Filho. Assim, o “mistério de Cristo e a Igreja” é aqui referido como “o mistério de Deus”, pois é o principal objetivo de Deus honrar e glorificar Seu Filho amado e encabeçar todas as coisas n’Ele, tanto no céu como na Terra. Esta é a primeira e mais importante parte do mistério, pois Deus sempre começa Consigo mesmo e com Seus conselhos, para Sua glória e a glória de Seu Filho. (Observe que as palavras “e do Pai, e de Cristo” em Colossenses 2:2 – KJV [ou “Cristo” nas versões em português] devem ser deixadas de fora; o versículo deve terminar com a frase “o mistério de Deus.” (JND). Não existe algo como o mistério do Pai, e não é o mistério de Cristo que está sendo tratado aqui).

O Mistério de Cristo 

O termo “o mistério de Cristo” é usado duas vezes na Escritura, uma vez em Efésios 3:4 (“meu entendimento no mistério de Cristo” – JND) e uma vez em Colossenses 4:3 (“para falarmos o mistério de Cristo” – TB). Nos dois casos, está relacionado à nossa parte do mistério, a saber, que Deus escolheu associar Sua Igreja com Cristo em toda a Sua glória. Entendemos isso em Efésios 1:11: “N’Ele, digo, em Quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito d’Aquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade”. Efésios, em contraste com Colossenses, traz diante de nós o que a Igreja é para Cristo, e nos dá a mais alta verdade na Escritura a respeito das bênçãos do crente em Cristo. No capítulo 3, é responsabilidade do apóstolo que os santos entrem e desfrutem de todos os privilégios relacionados ao mistério revelado de Deus – para que possam ver “qual seja a dispensação [administração – JND] do mistério” (v. 9) e que possam ter suas afeições e, finalmente, suas vidas formadas por esse conhecimento. Assim, é chamado de “o mistério de o Cristo (v. 4 – JND), pois a expressão “o Cristo” traz Cristo e a Igreja juntos como sendo um.

Da mesma forma, o uso do termo “o mistério de Cristo” em Colossenses 4:3 está relacionado ao desejo do apóstolo de ousadia prática para falar sobre isso, mesmo que ele fosse um prisioneiro e pudesse ser naturalmente um pouco reticente para mostrar claramente o que antes fez com que ele fosse preso. Ele poderia ter o conhecimento do mistério, mas precisava de graça prática para revelá-lo sem medo.

Nessas duas expressões, então, vemos claramente o padrão de Deus, no sentido de que Ele sempre começa Consigo mesmo, e então Ele leva o homem à bênção com base em Seus próprios propósitos e graça. Essa bênção está sempre conectada e obtida por meio de Seu amado Filho. Em todos os nossos pensamentos, também precisamos ver tudo do ponto de vista de Deus, pois dessa maneira Deus sempre será glorificado e o homem entrará muito mais em suas bênçãos.

W. J. Prost

Compartilhar
Rolar para cima