Origem: Revista O Cristão – Misticismo

Bondade em Deus, Não no Homem

O homem nunca pode ser adequado aos olhos e à aprovação de Deus amando a bondade em si mesmo, porque não há poder para subjugar o “eu” dessa maneira. Aqueles que tentam ser o que gostariam não conseguem, mas, se contemplarmos a bondade em Cristo, a respeito destes Ele diz ao Pai: “lhes dei as palavras que Me deste; e eles as receberam”. As palavras dadas por Ele nos colocam no lugar daqueles que são dependentes, e, em obediência a essas palavras, bondade derivada é encontrada.

O homem dependente 

Isso é o oposto do misticismo: é a verdade – o exato contraste com as vaidades místicas, que, infelizmente, muitas vezes são ativas em um santo, mas que Deus expõe pelo contraste com a humildade de Cristo, que Se tornou tão dependente a ponto de poder usar a seguinte linguagem, adequada para expressar Seus sentimentos em Sua Humanidade: “Eu não posso de Mim mesmo fazer coisa alguma”. “Se Eu testifico de Mim mesmo, o Meu testemunho não é verdadeiro”. “Não tenho outro bem além de Ti”. “Por que Me chamas bom? Não há bom, senão Um só que é Deus”. “Não seja o que Eu quero, mas o que Tu queres”. “Porei n’Ele a Minha confiança”. “A Minha doutrina não é Minha, mas d’Aquele que Me enviou”. “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória, mas o que busca a glória d’Aquele que O enviou, esse é verdadeiro, e não há n’Ele injustiça”. “Eu não busco a Minha glória”. “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e igualmente Eu vivo pelo Pai, também quem de Mim se alimenta por Mim viverá”.

Oh, como tal linguagem marca a graça infinitamente maravilhosa do “Verbo que Se fez carne” e que assim introduziu na Humanidade uma santidade tão perfeita quanto a Sua antes de Se tornar Homem. Isso Ele fez para, como Homem, sempre olhar para Deus em vez de Si mesmo, como declaram as Escrituras anteriores, “deixando-nos o exemplo, para que sigais as Suas pisadas”. Que privilégio maravilhoso é para nós, agora que Sua graça nos colocou no mesmo lugar que Ele, tomá-Lo como nosso Exemplo em todas as coisas, exceto, é claro, a terrível agonia expiatória do pecado e suas conexões.

Morto com Cristo 

Só que, no nosso caso, temos que incorporar Cristo em vez de nós mesmos de maneira prática, levando no corpo o morrer do Senhor Jesus, sendo este o meio pelo qual Cristo então aparece, em vez do “eu”.

Nós assim exibimos bondade que é incessantemente derivada, enquanto vivemos em Gilgal, que é uma figura do lugar onde tudo no “eu” foi excluído. É o lugar onde o Senhor Jesus Se colocou em nosso lugar na morte sob o juízo de Deus, excluindo o homem de uma vez por todas.

É a comunicação da vida ressurreta em Cristo que nos permite tratar o velho homem como morto. Alguns dizem que, quando tratamos o velho homem como morto, estamos habilitados a ter vida, o que realmente pressupõe que haja algum bem e poder em homens caídos para fazer isso. Mas é a consciência de estar morto e ressuscitado com Cristo que permite que um santo mantenha no lugar de morte qualquer coisa nele que não seja Cristo. Ela permite, de acordo com 2 Coríntios 4:10, que ele mantenha no lugar de morte tudo o que Deus colocou lá.

O “eu” substituído por Cristo 

É dessa forma que o “eu” é removido como objeto, sendo substituído por Cristo, de modo que toda a nossa bondade seja o Cristo ressuscitado de maneira derivada e nós sejamos reabastecidos estando ocupados com a “excelente glória”. Isso nos dá a percepção do valor da morte de Cristo para Deus e mantém não fingida a nossa fé e pura a nossa consciência, de modo a estarmos sempre regozijando n’Ele pela “saúde da Sua face” (JND), que assim se torna “a saúde” da nossa, sempre lembrando de nunca fazer da saúde de nossa face o objeto, mas sim a saúde da face d’Ele.

H. H. McCarthy, adaptado

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