Origem: Revista O Cristão – O Chamado de Deus

Misturas e o Chamado de Deus

O caminho da Igreja de Deus é um caminho estreito, tanto que a simples percepção moral continuamente não o distinguirá. Mas isso deve ser bem-vindo para nós, porque nos diz que o Senhor cuida para que Seus santos sejam exercitados em Sua verdade e caminhos, não apenas aprendendo os erros e acertos dos pensamentos humanos, mas que eles possam ser preenchidos com a mente de Cristo.

Somos lembrados dos servos na parábola do joio. Como homens, os discípulos estavam certos, assim como estavam também os servos daquele campo. Não seria apropriado eliminar o joio? Ao dividir a força do solo com a boa semente, será que o joio seria um obstáculo, enquanto eles mesmos não servem para nada? O senso comum do homem, o julgamento moral correto diria isso, mas a mente de Cristo diz o contrário: “Deixai crescer ambos juntos até à ceifa”. Somente Cristo julgou de acordo com os mistérios divinos. Isso era o que formava a mente do Mestre, perfeita como sempre era, e isso é o que precisa formar o pensamento do santo. Deus tinha propósitos em relação ao campo. Uma colheita estava por vir, e anjos deveriam ser enviados para colhê-la, e então um fogo deveria ser aceso para o joio atado e separado; mas naquele tempo de Mateus 13, não havia anjos trabalhando na colheita no campo, nem fogo aceso para as ervas daninhas, mas tudo era a graça paciente do Mestre. Por enquanto o campo do Senhor não está limpo. Os mistérios de Deus, os pensamentos e propósitos aconselhados do céu, preciosos e gloriosos além de toda medida, exigem isso; e nada é correto, exceto o caminho que é tomado à luz do Senhor no conhecimento dos mistérios do reino dos céus.

Cristandade 

Nem a Igreja irá para o céu por meio de um mundo purificado, regulado ou adornado, assim como Cristo não foi para o céu por meio de um mundo julgado. Isso precisa ser bem ponderado, pois, o que é a Cristandade? Contradizendo esse pensamento, a Cristandade age para regular o mundo, para manter o campo limpo, para fazer com que o caminho para o céu e a glória passe por um mundo bem ordenado e ornamentado. Ela colocou a espada nas mãos dos seguidores de Cristo. Ela não esperará pela colheita nem entrará em “outra aldeia”. Ela vinga os erros em vez de sofrê-los. Ordena a Igreja nos princípios de uma nação bem regulamentada, e não no padrão de um Jesus rejeitado na Terra. Está cheia dos pensamentos mais falsos, julgando de acordo com o senso moral do homem, e não à luz dos mistérios de Deus. É sábia em seus próprios conceitos.

Eu sei muito bem que ali, no meio dela, batem mil corações verdadeiros em seu amor a Cristo, mas, eles não sabem de que tipo de espírito são. Sei que o zelo, se for por Cristo, mesmo que mal direcionado, é melhor do que um coração frio ou uma indiferença quanto aos acertos ou erros feitos ao Senhor. Mas ainda assim, o único caminho perfeito é aquele que é trilhado aos olhos do Senhor, no entendimento dos mistérios de Deus, no chamado de Deus e na direção da energia do Espírito, e não apenas de acordo com a forma ou o ditado moral e pensamentos dos homens. E agora, o chamado de Deus exige que o campo onde está o joio seja deixado sem purificação, que a indignidade dos samaritanos não seja vingada, que os recursos e a força da carne e do mundo sejam recusados em vez de usados. O chamado de Deus também exige que a Igreja alcance os céus, não por meio do julgamento do mundo por suas próprias mãos, mas por meio de um coração que renuncia a ele, e da separação dele em companhia de um Mestre rejeitado.

Dispersão 

“Quem Comigo não ajunta espalha” (Lc 11:23), isto é, aquele que não trabalha de acordo com o propósito de Cristo está realmente tornando pior o que já é mau. Não é suficiente trabalhar levando o nome de Cristo: nenhum santo consentiria em trabalhar sem isso; mas se ele não trabalha de acordo com o propósito de Cristo, ele está espalhando. Muitos santos estão agora empenhados em retificar e adornar o mundo, tornando a Cristandade uma casa varrida e adornada, mas esse não é o propósito de Cristo; isso está ajudando e promovendo o avanço do mal. Cristo não expulsou o espírito imundo do mundo. Ele não tem tal propósito no presente. O inimigo pode mudar seu caminho, mas ele é tanto “o deus” e “príncipe deste mundo” quanto sempre foi. A casa é dele ainda, como na parábola (veja Lucas 11:24-26). O espírito imundo havia saído da casa: isso era tudo, ele não havia sido expulso pelo homem mais forte, de modo que seu direito a ela é claro, e ele retorna e tudo o que encontra lá, apenas a tornou mais um objeto para ele. Ele acha a casa varrida e adornada, de modo que retorna com muitos espíritos semelhantes e, assim, torna seu último estado pior do que o primeiro.

Mais poderia ser dito, e mais ocasiões apresentadas para apoiar a importante verdade de que o chamado de Deus e Seus propósitos devem ser estabelecidos neste dia da graça de Deus. Contudo, mais um ponto importante deve ser considerado. Muitas vezes entre os santos de Deus vemos uma posição pura mantida com pouca graça espiritual. Quando isso acontece, exige uma profunda repreensão. Certamente “o reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtude [poder – ARA] (1 Co 4:20). A posição pode ser totalmente de acordo com Deus, mas a graça divina prática com a qual é cumprida e tratada pode ser escassa e pobre.

Tal como aconteceu com Jônatas, Davi o amava muito e, no entanto, ele não era o companheiro de Davi. Mas os companheiros das tentações de Davi às vezes eram uma provação para ele, falando eles em uma ocasião até mesmo de apedrejá-lo, enquanto Jônatas, pessoalmente, era sempre agradável a ele. E, no entanto, o lugar remoto de Davi era, naquele tempo, o lugar da glória, e seus companheiros estavam na posição certa.

Posição sem poder 

E assim, neste momento, vemos a mesma coisa ao nosso redor. Não há lição que eu insistiria na atenção de minha própria alma mais do que essa, e acho que posso dizer que a valorizo – posição sem poder, princípios além da prática, zelo sobre a ortodoxia e verdade e mistérios com pouca comunhão pessoal com o Senhor – tudo isso são motivos de constante temor para a alma, sujeitos a igual julgamento e recusa.

O chamado de Deus nos separa, mas precisamos do Espírito de Deus para ocupar o lugar de acordo com Deus e mente dedicada e amorosa. “O sal é bom”; o princípio divino é a coisa boa. Mas o sal pode se tornar insípido. A posição correta ou o princípio divino pode ser entendido e confessado, mas pode não haver poder de vida nisso. Temo mais a indiferença do que a mistura. Eu evitaria Laodiceia mais do que Sardes. Que possamos aprender a lição em ambas as suas características – Sardes, com sua agitação religiosa que lhe deu um nome de que vivia, não servirá; Laodiceia, com seu conforto e satisfação egoístas e frias, não servirá. Sejamos diligentes, mas puros no serviço, usemos os talentos, mas os usemos para um Mestre rejeitado, não procurando nada do mundo que O rejeitou, mas contando com tudo em Sua própria presença num futuro breve.

J. G. Bellett (adaptado)

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