Origem: Revista O Cristão – Montes
Monte Moriá
Em Gênesis 22, a história de Abraão está em seu estágio mais elevado, mas no versículo 1 lemos: “E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão”. Depois de que coisas? A resposta fornece uma grande lição prática para todos nós. Havia duas coisas que precisavam ser corrigidas em Abraão (uma em seu coração e a outra em sua casa) antes que ele pudesse ser conduzido ao ponto mais alto de sua carreira prática. Primeiro, ele teve que libertar o coração de uma raiz antiga que há muito permaneceu ali, um pouco de incredulidade, que lhe foi permitido permanecer sem julgamento por muitos anos. A mesma coisa acontece conosco. Se há algo que está nos afastando de toda a devoção, essa raiz deve ser julgada antes que a aspiração do verdadeiro coração possa ser realizada.
Incredulidade
A primeira vez que essa raiz brotou foi quando ele desceu ao Egito e exigiu que Sarai dissesse que ele era seu irmão. Certamente isso era incredulidade. Mas mesmo quando ele saiu do Egito e voltou para Betel, essa raiz ainda não havia sido julgada. Para que o coração seja totalmente julgado, precisamos estar à luz da presença divina, e é muito melhor aprender o que está em meu coração na Sua presença do que por experiência amarga. Podemos estar orando por progresso, mas não podemos chegar ao ponto que aspiramos até que essa raiz seja julgada.
Em Gênesis 20, essa raiz aparece novamente em Abraão quando ele está diante de Abimeleque, mas finalmente ele é levado a fazer uma confissão completa e desimpedida, e a julgar o que estava em seu coração. No capítulo 21, sua casa é endireitada, a escrava é expulsa e, em seguida, a casa e o coração são purificados, o Senhor diz (com efeito): “Agora eu posso conduzi-lo ao ponto mais alto”. Foi “depois destas coisas” que Deus pôde trazê-lo ali. Antes, ele não estava em posição de responder ao chamado de Deus, mas agora Deus o tenta [ou prova].
O teste de fé
Que dedicação profunda esse teste provocou em Abraão! A base era: “Abraão creu em Deus” – não apenas algo sobre Ele, mas ele creu em Deus. Essa é a verdadeira base de toda devoção – Deus sendo o Único diante de nosso coração, que podemos confiar n’Ele para tudo. Os apoios humanos cedem e as correntes das criaturas secam, mas a fé encontra no Deus vivo uma Rocha imutável e uma Fonte inesgotável.
Abraão fica no monte Moriá e testemunha o fato de que ele podia confiar em Deus com Isaque no altar, bem como antes de ele nascer. Essa prova não chegou nem um momento antes que Abraão pudesse suportá-la. “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória” (1 Pe 1:7). Deus nunca implanta fé que Ele não põe à prova. Tudo isso brilha para a glória de Abraão? Não, mas para a glória de Deus. Quem pode conceber o que o coração de Abraão deve ter passado! Que ataques Satanás deve ter feito contra ele! Mas sua única resposta para toda a provação foi: eu tenho Deus; porque ele creu em Deus, ele estava preparado para ver Isaque reduzido a cinzas no altar.
Tiago retoma esse episódio e diz que Abraão foi justificado pelas obras. Ele foi justificado por esse ato, pois era a expressão de uma fé que repousava em Deus sem nuvens, para que Deus pudesse dizer: “agora sei que temes a Deus e não Me negaste o teu filho, o teu único filho” (Gn 22:12). Aqui estava a base da devoção. Ele podia confiar em Deus quando tudo o mais havia passado; sua alma estava tão apegada a Deus que ele podia confiar n’Ele na ausência de toda ajuda humana.
O espírito de adoração
Em que espírito Abraão caminha até o monte Moriá? No espírito de adoração: “Eu e o moço iremos até ali; e, havendo adorado, tornaremos a vós”. Esse é sempre o espírito da verdadeira devoção. Abraão não fala do sacrifício que ele fará, ele segue com toda a calma bendita da adoração. Porém, quando contemplamos essa cena, somos conduzidos para outra cena, em que o Pai e o Filho foram juntos para onde Deus deveria derramar sobre Aquele Bendito toda a Sua ira contra o pecado, onde Ele tomou o cálice da ira absoluta e o tomou todo, para que Ele não tenha deixado uma gota sequer para você e para mim. Não havia voz do céu para interceptar aquele golpe, quando o bendito Filho de Deus inclinou a cabeça na cruz do Calvário. Oh! Que motivo de devoção profunda temos aqui!
Vamos nos voltar por um momento para Hebreus 11:17: “Pela fé, ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado, sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito”. Esse é o comentário inspirado sobre essa cena maravilhosa, ele não levou em conta as dificuldades, a menos que aproveitasse a ocasião para confiar mais em Deus. Nenhum de nós deveria dizer que eu não tenho a fé de Abraão. Se temos fé, temos toda a fé mencionada em Hebreus 11, é simplesmente uma questão de usá-la, e quanto mais a usamos, mais forte ela cresce. Que colheita de glória veio a Deus no monte Moriá! Havia um homem que estava contente em ser despojado de tudo o que possuía, porque ele tinha Deus.
Deus deve ser tudo ou nada. Isto é muito importante. Se Ele cobre nossos olhos, não podemos ver mais nada. As dificuldades desaparecem, tudo é paz, vitória e louvor. Ele é glorificado e nós somos abençoados. Não há uma única necessidade que Ele não possa suprir. Se estou no caminho da simples obediência, posso confiar n’Ele para tudo. Ele Se deleita em que recorramos a Ele – de ser confiado. Abraão “foi fortificado na fé, dando glória a Deus”.
Crescimento da fé
À medida que nossa fé cresce, entramos em toda a grandeza, plenitude e bem-aventurança que há n’Ele. Fé é a chave que abre o tesouro de Deus, um caminho que, quando verdadeiramente trilhado, fica cada vez mais brilhante – brilhando cada vez mais até o dia perfeito. Abraão foi atraído inicialmente pelos raios do Deus de glória. Ele deu as costas para seu país e seus parentes, sem saber para onde estava indo. O que ele tinha? Deus! Ele segue em frente, portanto, passo a passo, estágio por estágio, oscilando de fato aqui e ali (pois até ele estava aberto às oscilações da incredulidade ocasionalmente), mas continua até chegar ao Monte Moriá, declarando claramente que estava preparado para abandonar tudo, porque sua visão estava cheia do SENHOR seu Deus.
Que seja concedido a cada um de nós andar cada vez mais no poder da fé no Deus vivo – para suportar “como vendo o invisível”. A vida de fé se torna cada vez mais forte e é preparada para provações cada vez mais profundas à medida que prosseguimos.
Senhor, conduza-nos cada vez mais para perto de Ti, para que sejamos independentes de tudo, menos de Ti. Que seja assim para Teu louvor e para nosso profundo, profundo gozo!