Origem: Revista O Cristão – Leia, Raquel, Joquebede e Miriã

A Morte de Raquel

“Partiram de Betel, e, havendo ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, teve um filho Raquel e teve trabalho em seu parto. E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas, porque também este filho terás. E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou o seu nome Benoni [filho da minha tristeza]; mas seu pai o chamou Benjamim [filho da mão direita]. Assim, morreu Raquel e foi sepultada no caminho de Efrata; esta é Belém. E Jacó pôs uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje” (Gn 35:16-20).

O governo de Deus 

O governo moral de Deus é tão seguro quanto Sua graça, do começo ao fim. Raquel pecou muito e manteve o marido em trevas, quando ele inconscientemente disse que o culpado (de roubar as imagens de Labão) não deveria viver. Seu roubo não foi apenas um pecado contra o pai, mas no que ela roubou, foi um terrível insulto a Deus. E não temos evidências de que houvesse julgamento próprio adequado. É claro que Jacó finalmente se deu conta dos ídolos em sua casa, cujo pecado, no chamado de Deus a Betel, repousava em sua consciência. Levar sua amada era um castigo, não apenas para ela, mas também para ele.

1 Coríntios 11:27-32 é um ensinamento muito instrutivo sobre a aplicação dessa verdade, na qual aprendemos a segurança da graça, por um lado, e por outro lado, o Senhor está lidando com os modos inconsistentes daqueles que são Seus. O Senhor estava, então, julgando pela doença e até pela morte, o estado defeituoso da caminhada dos santos de Corinto, para que eles não fossem condenados com o mundo, porque eram d’Ele e deviam ser guardados de “condenação”. Eles foram julgados dessa maneira temporal para a bênção de suas almas. É um princípio universal de Deus, e está presente no Velho e no Novo Testamento. Somente a demonstração da graça sob o evangelho traz à tona não apenas Sua graça soberana, mas também Seu governo moral, com especial clareza.

Tristeza e esperança 

O nome dado por Raquel para o bebê recém-nascido expressa sua tristeza. Jacó, quaisquer que fossem seus sentimentos naturais sobre a esposa de seu coração que ali perecia, olha adiante com esperança. Mas não é uma esperança celestial em Benjamim, como Abraão teve em Isaque, recebido da morte à ressurreição em figura, é a promessa de Israel em poder, quando ela que representa o antigo estado falece pela morte. Israel deve, de perto, ser levada a uma profunda aflição antes de emergir em vitória sobre todos os seus inimigos na Terra, por meio de seu Messias há muito rejeitado.

O “não temas” da parteira assistente era bem-intencionado, mas o Senhor a estava chamando para longe de uma cena em que ela havia falhado em seu testemunho para Ele e comprometido também seu marido. Como ela podia ser confiável para criar seus filhos no temor de Deus? Deus havia acrescentado outro filho, como ela disse com fé[1], quando seu primogênito foi lhe dado. Era justo que ela partisse.
[1] N. do T.: “O SENHOR me acrescente outro filho” (Gn 30:24)

Os descendentes de Raquel 

Jacó não imaginava, quando levantou uma coluna de ação de graças em Betel, no lugar em que Deus conversou com ele, que logo depois iria levantar outro pilar – de tristeza no túmulo de Raquel. Mas ele se inclina para a mão do castigo: A quem o Senhor ama, Ele castiga e açoita todo filho a quem recebe. Jacó podia não saber, como ainda não era revelado, que perto dessa mesma Efrata nasceria Davi, o rei de Israel, a promessa e a figura de seu Filho maior, cujas saídas são desde a antiguidade – da eternidade. O ferido Juiz de Israel, que abandonou o Seu povo culpado, um dia os restaurará, para que permaneçam e Ele seja grande até os confins da Terra.

Raquel morre, mas a coluna que a registra permanece na terra e na história de Israel até o reino. O próprio Benjamin é figura de Cristo, não como chefe da Igreja, mas como o Filho conquistador do poder, quando o reino é estabelecido na Terra e os inimigos perecem diante d’Ele. Assim, as duas esposas de Jacó representam apropriadamente a fértil Leia, a mãe das nações, e Raquel, a primeira amada de Jacó, que é uma figura de Israel segundo a carne. Depois dela vem José, a brilhante testemunha de Cristo vendida e separada de Seus irmãos, à direita de Deus, enquanto os judeus são rejeitados. A morte de Raquel dá à luz o filho de sua tristeza, mas filho da mão direita de seu pai, que comerá a presa pela manhã e à tarde repartirá o despojo (Gn 49:27). “Pelo que Lhe darei a parte de muitos, e, com os poderosos, repartirá Ele o despojo” (Is 53:12).

W. Kelly (adaptado)

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