Origem: Revista O Cristão – A Presença do Senhor

Na Mesa do Senhor

Há momentos em nossa vida que Deus, em Sua graça, se achega muito perto e nos torna sensíveis à Sua presença e amor, quando a alma redimida prova por um momento o gosto daquele futuro eterno que a aguarda. De nenhuma outra forma isso é mais claramente percebido aqui na terra do que naquilo que era o deleite da Igreja no princípio: “ajuntando-se os discípulos para partir o pão” (At 20:7).

Não devemos jamais perder a sensação de sua presença conosco e do que a graça tem feito. Ele está sempre conosco e existem os eternos, e consequentemente imutáveis, raios de sol do Seu favor que irradiam sempre sobre nós. As nuvens não são d’Ele, embora às vezes Ele permita que elas venham. A maioria de nós tem momentos em nossa vida quando não é Deus e a plenitude de Sua graça que estão mais evidentes diante de nós, mas sim a pressão de outras coisas. É a hora em nossa vida quando estamos “perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” por um período de opressão através de múltiplas tentações. Em tal época, Deus frequentemente vê que existe uma ‘necessidade’, como diz Pedro.

A Bondade do Senhor 

Mas Ele é O que Se levanta. “Deus, que consola os abatidos”, faz isso Ele mesmo. A maneira como Ele trata conosco nestas situações tem sido a maneira de Sua graça tratar a todo o Seu povo desde o princípio. Ele faz Sua bondade passar diante de nós, e somos curvados pela visão disto diante d’Ele. Assim foi com Moisés (Êxodo 33). Quando esmagado e quase em desespero por causa do povo, ele desejava ver a glória de Deus. O Senhor disse: “Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti” (v. 19). Mas o que Deus faria por ele, para que ele não fosse esmagado por aquela glória? “Te porei numa fenda da penha e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado” (Êx 33.22). “Passando, pois, o SENHOR perante a sua face, clamou: JEOVÁ, o SENHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade… E Moisés apressou-se, e inclinou a cabeça à terra, e encurvou-se” (Êx 34:6, 8). O que ele poderia dizer, estando protegido ali, enquanto observava e ouvia tudo? Ele se apressou, inclinou a cabeça e adorou. Assim é sempre, e assim também é conosco sempre que Ele nos faz sensíveis à Sua bondade e à Sua presença.

“Quem Sou Eu?” 

Assim foi também com Davi quando ele entrou e sentou-se diante do Senhor. Faltavam palavras, ou elas simplesmente morreram no silêncio, o silêncio da adoração, pois ele também estava contemplando a Deus, que fizera com que Sua bondade passasse diante de Sua alma. “Quem sou eu, SENHOR Deus? E qual é a minha casa, que me trouxeste até aqui?… Que mais te dirá Davi, acerca da honra feita a teu servo? Porém tu bem conheces o teu servo” (1 Cr 17:16, 18). Isso é tudo que ele pôde dizer. Tanto as palavras como as expressões fracassam enquanto o coração se inclina em adoração e ação de graças, pois a expressão ou a linguagem não são necessárias para a adoração, muitas vezes o silêncio marca isso. Somos chamados a contemplar “toda a Sua bondade” estando em um abrigo, “com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor”, vemos Jesus (que foi feito um pouco menor que os anjos para o sofrimento da morte) “coroado de glória e honra”. Em breve, nossa porção será vê-Lo como Ele é, mas o Espírito frequentemente faz com que toda a Sua bondade passe diante de nós.

Reunidos para Partir o Pão 

É como estando abrigados e, além de tudo, como convidados a ouvir e participar do desdobramento de toda a bondade de Deus, que estamos reunidos para partir o pão em cada primeiro dia da semana. Que saibamos como valorizar o privilégio e nos comportarmos adequadamente em meio a essa graça abundante. Aqui passa em revista diante da alma a destruição e a derrota do inimigo e todo o seu exército no Mar Vermelho, enquanto a arca permanece firme no leito do Jordão, ambas figuras da morte de Cristo. Sua bondade havia passado diante desses pobres escravos do Egito, e no deserto soou novamente uma canção que ainda não terminou, nem jamais terminará. É renovada e entendida agora por aqueles que a cantam no deserto deste mundo, que é tão estéril para nós como foi para Israel. O Senhor Jesus, que está conosco (Mt 18:20), aqu’Ele que saiu da morte e do juízo, diz: “O meu louvor virá de ti na grande congregação” (Sl 22:25). Ele canta no meio da Igreja, o líder da música, e nos chama de Seus irmãos (Jo 20).

Estar Onde Ele Está 

Quão abençoado, então, é estar onde o próprio Senhor diz que estará “onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome”. Quem poderia estar ausente, se tivesse a sensibilidade para sentir que está na presença d’Ele? É o lugar onde Ele faz com que toda a Sua bondade passe diante de nós e nos envia para fora (se em um deserto) como um povo jubiloso, com a canção de louvor e ação de graças em nossas bocas! Somos como os discípulos em João 20, “felizes”, porque viram o Senhor e ouviram os pronunciamentos abençoados de Sua voz proclamando, como resultado de Sua morte: “Paz seja convosco”.

Já passamos por esta cena abençoada e desanuviada? É o que declaramos semana após semana. Tomaríamos outro lugar ou seríamos diferentes do que Deus Se agradou de nos fazer, por meio de Cristo, “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo”? Será que Israel voltaria novamente já estando eles na costa do Mar Vermelho? Será que Davi estando diante de Deus mudaria as circunstâncias? Será que Jó, diante de quem Deus estava naqueles capítulos maravilhosos (38-41), fazendo com que toda a Sua bondade passasse, faria qualquer coisa além de se curvar?

E quando os discípulos aprenderam, ou quando aprendemos que Ele nos chama de Seus “irmãos”, qual será o efeito disto sobre nós? O que acontecerá, irmãos, em cada um de nós se ainda ficarmos aqui? Será que vamos viver para Ele, a quem o mundo em seu orgulho ainda rejeita, como um povo completo e adorador? Que assim seja, enquanto nós somos deixados aqui para mostrar a morte do Senhor e esperar diante d’Ele na antecipação abençoada de Sua vinda breve pela segunda vez, “sem pecado para salvação”. “A noite é passada, e o dia é chegado”.

H. C. Anstey (adaptado)

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