Origem: Revista O Cristão – Árvores e Videiras

Nada Além de Folhas

“E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. Vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos. E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os Seus discípulos ouviram isso E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes. E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira que Tu amaldiçoaste se secou. E Jesus, respondendo, disse-lhes: Tende fé em Deus” (Mc 11:12-14, 20-22).

Há uma peculiaridade marcante ligada a esse milagre do Senhor Jesus. É o único que trouxe juízo ou maldição. Todo outro milagre era do caráter de bênção. Qual pode ser o significado espiritual dessa única exceção?

A figueira amaldiçoada 

Jesus está prestes a entrar em Jerusalém e vê uma figueira à distância. Ele deseja fruto. Veja-O caminhando para esta árvore única, tão bela, tão cheia de folhas. Mas quando chegou a ela, “Ele não encontrou nada além de folhas”. Certamente Aquele que viu Natanael debaixo de outra figueira sabia que não havia nada além de folhas neste árvore. No entanto, Ele veio a ela, desejando fruto. E agora Ele pronunciou aquelas palavras notáveis: “Nunca mais coma alguém fruto de ti”. Aquele foi o último dia daquela figueira, pois na manhã seguinte, aos discípulos passarem por ela, “viram que a figueira se tinha secado desde as raízes”. Não pode haver mais fruto para sempre dessa árvore; é murcha das próprias raízes. Bem, Pedro pode exclamar: “Mestre, eis que a figueira que Tu amaldiçoaste se secou”. O que essa ação notável do Senhor pode significar? Qual é o seu ensino para nós?

Vamos agora observar o contexto deste milagre. Certamente, para toda a aparência exterior, o dia anterior havia sido um dos dias mais brilhantes de Israel. A entrada de Jesus em Jerusalém havia acontecido – vestes pelo caminho, ramos de árvores cortados e espalhados pelo caminho. As folhas da profissão nunca brilharam com um verde mais fresco. E então encontramos Jesus entrando em Jerusalém e entrando no templo; mas então Ele saiu e Se retirou de tudo para ir à Betânia.

A parábola da vinha 

No dia seguinte, o julgamento foi proferido sobre aquela figueira. Ele entra no templo novamente, expulsando os que vendiam e os que compravam, derrubando as mesas dos cambistas, e não permitindo que ninguém carregasse algum fardo pelo templo. Não é tudo isso, “nada além de folhas”?

Aqui em Marcos 11, e também em Mateus 21, segue a parábola da vinha, como se fosse uma explicação do milagre da figueira. Não pode haver erro quanto ao significado da parábola. Deus plantou Sua única vinha – Israel. Foi a prova do que é chamado na Escritura de “a carne”. Israel havia se colocado nesse terreno de provação e se comprometido a cumprir a lei. Deus veio buscando fruto, mas não achou nenhum. A parábola explica como Israel havia tratado os profetas e servos de Jeová e, como a última prova do homem, Deus enviou Seu próprio Filho. Ele encontrou fruto? Nunca houve tantas folhas, como vimos, mas “nada além de folhas”. Eles disseram: “Este é o herdeiro; vinde, matemo-Lo e apoderemo-nos da Sua herança. E, lançando mão d’Ele, O arrastaram para fora da vinha e O mataram” (Mt 21:38-39). Quanto mais estudamos essa parábola, mais vemos como ela explica o significado do milagre – “Nada além de folhas”.

A conexão da Escritura é ainda mais impressionante em Mateus, pois mostra a conexão entre esse milagre e os judeus, ou judaísmo. Primeiro, há um julgamento sobre a figueira que não produz frutos. Em segundo lugar, a parábola da vinha, que ultrapassa toda a tolerância, na rejeição e homicídio do Filho.

O banquete de casamento 

E, em terceiro lugar, o banquete de casamento (Mt 22). Depois de tudo isso, nas riquezas de Sua graça, Deus preparou o banquete para o homem como um pecador perdido, e os servos foram enviados para chamar os convidados – enviados primeiro para aquela mesma nação. E o que aconteceu então? “Estes não quiseram vir” (Mt 22:3). Quão terrível é o pecado de rejeitar as riquezas da graça de Deus!

Assim, quanto a Israel como prova do homem em carne, na figueira da profissão de folhas verdes, não havia fruto para Cristo. Não há mais fruto neste dia mais brilhante da profissão, do que nos dias de trevas de Elias; no entanto, em ambos os casos e em todos os momentos, Deus tem uma eleição da graça. Isso é visto em toda a Escritura, de Abel em diante. Mas o homem religioso na carne é testado, pesado na balança e é encontrado em total falta – “nada além de folhas”.

A rejeição de Cristo 

Jerusalém era o centro da religião – a única figueira verde da profissão. Ela considerava todas as outras nações como cães. A carne, ou homem em seu estado natural, havia sido tentada agora de todas as formas possíveis, e o resultado, como visto no último teste, o envio de Jesus, o Filho de Deus, provou que havia apenas pecado no homem. Esta é uma lição que deve ser aprendida e é impossível separar o pecado e sua maldição. Assim, se a única figueira é a única nação testada na carne e se acha que a carne não produz fruto, seu juízo, sua maldição deve vir. Mas aqui chegamos à parte mais solene. O juízo da figueira foi terrível e final. Não apenas havia falta de fruto, quando completamente provada afinal, mas ela recebeu seu juízo, e não haveria fruto dela dali por diante. Não haverá fruto de Israel como na carne, como filhos de Adão, dali por diante.

Novo nascimento 

Quão pouco eles e nós também entendemos isso. Pode-se dizer: Como pode ser assim, uma vez que sabemos pela Escritura que Israel será a nação mais favorecida do mundo, quando o reino de Deus vier sobre esta Terra? A instrução do Senhor a Nicodemos resolve esta aparente dificuldade. “Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3:3). A Escritura diz o que o Senhor fará quando restaurar a casa de Israel: “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o Meu espírito e farei que andeis nos Meus estatutos” (Ez 36:26-27). A provação do homem na carne, na carne pecaminosa, acabou para sempre, secou-se desde a raiz. “Agora, é o juízo deste mundo” (Jo 12:31). Isso nos leva além de Israel, para o mundo inteiro sob julgamento. O homem em carne é como a figueira, para sempre sob o justo julgamento de Deus: nada além de folhas; profissão vazia e sem coração, mas sem fruto. O mundo inteiro é como um prisioneiro condenado; todos são considerados culpados, sob julgamento, aguardando execução. É aí que as boas novas de misericórdia e perdão começam e são tão adequadas para nós.

C. H. Mackintosh (adaptado)

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