Origem: Revista O Cristão – Nazireado
Nazireado e Relações Naturais
Nas instruções relativas àquele que fez o voto de nazireu, um dos requisitos era que “Todos os dias que se separar para o SENHOR, não se chegará a corpo de um morto. Por seu pai, ou por sua mãe, ou por seu irmão, ou por sua irmã, por eles se não contaminará, quando forem mortos; porquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça” (Nm 6:6-7).
Podemos ver facilmente como isso pode ser difícil às vezes. Se um parente próximo, tal como um pai, uma mãe ou um irmão, morresse, o nazireu não tinha permissão para ajudar no enterro; ele não deveria tocar em nenhum corpo morto, mesmo o de um ente querido com quem ele tinha um vínculo próximo.
À primeira vista (e falamos com reverência), isso pode parecer um pouco duro e irracional. Não poderia ser feita uma exceção para um caso como esse? Não, pois, como lemos no final do versículo 7, “porquanto o nazireado do seu Deus está sobre a sua cabeça”. A Escritura reconhece que algo pode acontecer de repente; um homem pode “morrer junto a ele por acaso, subitamente” (v. 9), e, na tensão e emoção do momento, o nazireu pode ser induzido a ajudar a lidar com a situação. Mas, se isso acontecesse, nenhuma desculpa poderia ser dada: ele contaminou “a cabeça do seu nazireado” (v. 9). Ele perdeu seu caráter nazireu; devendo raspar a cabeça, passar por um processo de purificação e começar seu voto novamente.
A importância moral
O impacto moral de tudo isso, sem dúvida, não estava claro para os israelitas no Velho Testamento, exceto que eles entendiam que, se alguém fizesse o voto de nazireu e se separasse para o Senhor, ele deveria obedecer implicitamente aos mandamentos dados por Jeová. Não poderia haver exceção às instruções.
Nesta dispensação da graça, podemos ver a importância moral dos três requisitos para quem fez o voto de nazireu, e especialmente o que se relaciona a evitar qualquer contato com um corpo morto. A morte fala de contaminação, e este mundo está cheio de todo tipo de contaminação para o crente. Devemos estar constantemente em guarda, pois até mesmo um pensamento errado pode ser como um homem morrendo repentinamente ao nosso lado. Podemos ser pegos desprevenidos, e nosso caráter nazireu ser estragado se nos entretivermos com esse pensamento e permitirmos que nossa mente seja contaminada.
Laços familiares
Alguém observou apropriadamente, “Ser nazireu é ser separado de toda afeição natural que pode ser tocada pela morte – ser separado para o Senhor”. Uma das áreas em nossa vida que pode ser afetada por essas reivindicações da natureza são os laços familiares, e isso talvez possa explicar por que o mandamento em Números 6:7 é tão rigoroso e não permite nenhuma exceção. Essa dificuldade frequentemente se apresenta em nosso caminho Cristão. O Senhor Jesus a reconheceu e nos alertou sobre isso. Ele podia dizer: “Se alguém vier a Mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:26). Isso não significa, é claro, que devemos realmente odiar nossos parentes mais próximos, mas sim que, em comparação com Cristo, Ele deve sempre ter o primeiro lugar em nosso coração. Ele mesmo exemplificou isso, pois Se recusou a reconhecer Sua mãe e Seus irmãos naturais de qualquer maneira especial durante Seu ministério terrenal. Nas bodas de Caná da Galileia, quando Sua mãe Lhe disse que precisavam de vinho, Ele respondeu: “Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a Minha hora” (Jo 2:4). Em outra ocasião, quando alguns O lembraram de que Sua mãe e Seus irmãos estavam esperando para falar com Ele, Ele reagiu dizendo: “Quem é Minha mãe e Meus irmãos?” E então, olhando “em redor para os que estavam assentados junto d’Ele”, Ele disse: “Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos!” (Mc 3:33-34). No entanto, enquanto estava na cruz, no final de Sua jornada aqui, como o Filho mais velho de Sua família terrenal, Ele graciosamente entrega Sua mãe aos cuidados de João.
Contudo, em nossa própria vida, quantas vezes os laços familiares podem atrapalhar o julgamento espiritual correto e, mais importante, as ações espirituais corretas. Nosso julgamento pode, em alguns casos, ser correto, mas nosso coração pode temer agir para a glória do Senhor por causa do risco de ofender aqueles que são nossos parentes. Às vezes, isso pode envolver uma dificuldade que surge entre marido e mulher, e isso exercita nosso coração profundamente. Devo ser fiel ao Senhor e correr o risco de causar dissensão e dificuldades em meu lar? Sob tais circunstâncias, alguns cederam e agiram contra sua consciência, em vez de destruir um relacionamento humano. Mas outros, enquanto honrando suas próprias responsabilidades dentro do vínculo matrimonial, agiram para a glória do Senhor e serão recompensados por isso.
O Rei Asa
O rei Asa se viu confrontado com uma difícil responsabilidade em sua vida, quando sua mãe Maaca, filha de Absalão (na verdade, ela era sua avó) fez “um horrível ídolo”. Está registrado que ele “a depôs, para que não fosse mais rainha… e… destruiu o seu horrível ídolo, e o despedaçou, e o queimou junto ao ribeiro de Cedrom” (2 Cr 15:16). Sem dúvida, foi uma coisa difícil de fazer, especialmente porque Maaca deve ter sido uma mulher mais velha na época, mas a fidelidade ao Senhor exigia isso.
Que nós também, nestes últimos dias, não nos desviemos da fidelidade ao Senhor cedendo à influência dos laços familiares, em situações em que tais laços podem nos levar a desonrar o Senhor. Prever as dificuldades que envolvem ser fiel pode fazer com que a situação pareça impossível, uma que não conseguimos enfrentar. Mas o caminho da fidelidade é sempre de bênção no final, e podemos contar com o Senhor para Sua graça soberana trazer essa bênção.
O espírito de mansidão
Tendo feito essas observações, talvez eu possa acrescentar uma advertência ao encerrar. Conheci aqueles que, em seu zelo em serem supostamente fiéis ao Senhor, lidaram com os membros da família de maneira orgulhosa, arrogante e autoconfiante. Eles abandonaram arbitrariamente as relações familiares sem procurar, com cuidado pastoral, alcançar a consciência daqueles de quem discordavam. Esse não é o Espírito de Cristo. Sempre que a separação do mal é necessária, a humilhação precisa acompanhá-la. Devemos sempre lembrar a determinação do apóstolo em Gálatas 6:1: “se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa… encaminhai [restaurai – TB] o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado”. Conheci aqueles que, quando foram outros que estavam envolvidos, mantiveram um firme posicionamento quando os laços familiares enfraqueceram a determinação de alguns que deveriam ter se posicionado mais fortemente contra o mal. Mais tarde, quando o Senhor permitiu um problema em sua própria família, eles também acharam muito difícil dissociar-se das emoções naturais que dificultavam agir de maneira correta.
O Senhor é capaz de nos dar graça para agir para Sua glória, com firmeza, mas também para fazê-lo com humildade e amor em nosso coração para com aqueles que se opõem a nós. Devemos sempre lembrar que pode chegar o momento em que seremos testados da mesma maneira.