Origem: Revista O Cristão – A Defesa da Família
A Necessidade da Palavra de Deus em Nossa Casa
“Tão-somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos.” (Dt 4:9)
Essas palavras colocam diante de nós duas coisas de importância indescritível: a responsabilidade individual e a responsabilidade familiar. O antigo povo de Deus era responsável por guardar o coração com toda a diligência, para que não deixassem escapar a preciosa Palavra de Deus. E não somente isso, mas também eram solenemente responsáveis por instruir seus filhos e netos. Certamente nós também somos de forma imperativa chamados a nos dedicar à leitura cuidadosa da Palavra de Deus; precisamos fazer da Bíblia nosso estudo supremo e que nos absorve.
É de temer que alguns de nós leiam a Bíblia por uma questão de dever, enquanto encontramos nosso deleite e refrigério no jornal e na literatura leve. (Poderíamos hoje incluir televisão, internet e Facebook?) Será que é de admirar que nosso conhecimento da Escritura seja superficial? Como poderíamos conhecer alguma coisa sobre as profundezas vivas ou as glórias morais de um volume que consideramos meramente uma fria questão de dever, enquanto, ao mesmo tempo, outra coisa é literalmente devorada?
O Senhor disse a Israel: “Ponde, pois, estas Minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos” (Dt 11:18). O “coração”, a “alma”, a “mão” e os “olhos” deveriam estar todos envolvidos em torno da preciosa Palavra de Deus. Era um trabalho real. Não deveria ser uma formalidade vazia, nem uma rotina estéril. O homem, por inteiro, deveria se entregar aos estatutos e juízos de Deus, em santa devoção.
Nosso testemunho
Será que nós, como Cristãos, nos atentamos a palavras como essa? A Palavra de Deus tem esse lugar no nosso coração, no nosso lar e nos nossos hábitos? Aqueles que entram na nossa casa ou entram em contato conosco na vida diária veem que a Palavra de Deus é primordial para nós? Aqueles com quem fazemos negócios veem que somos governados pelos preceitos da Escritura? Nossos filhos percebem claramente que vivemos na própria atmosfera da Escritura e que todo o nosso caráter é formado e nossa conduta governada por ela? É uma ilusão imaginar que a nova vida possa estar em uma condição saudável e próspera onde a Palavra de Deus é habitualmente negligenciada.
Naturalmente, não queremos dizer que nenhum outro livro além da Bíblia deva ser lido, mas nada exige maior vigilância do que a questão da leitura. Todas as coisas devem ser feitas em nome de Jesus e para a glória de Deus, e isso está entre o “todas as coisas”. Não devemos ler nenhum livro que não possamos ler para a glória de Deus e sobre o qual não possamos pedir a bênção de Deus.
A leitura em família
Os chefes de família devem ponderar seriamente sobre este assunto. Estamos plenamente convencidos de que deve haver em cada lar Cristão um reconhecimento diário de Deus e de Sua Palavra. Alguns podem, talvez, olhar para a leitura e oração regulares em família como escravidão, como rotina religiosa. Perguntamos a tais opositores: É escravidão para a família se reunir nas refeições? As reuniões de família ao redor da mesa são consideradas um dever cansativo? Certamente não, se a família for uma família bem ordenada e feliz. Por que, então, deve ser considerado uma coisa pesada para o cabeça de uma família Cristã reunir seus filhos ao seu redor e ler alguns versículos da preciosa Palavra de Deus e elevar algumas palavras de oração diante do trono da graça? Acreditamos que seja um hábito em perfeita conformidade com o ensino do Velho e do Novo Testamento.
O que pensaríamos de um Cristão professo que nunca orou e nunca leu a Palavra de Deus em particular? Poderíamos considerá-lo um Cristão feliz, saudável e verdadeiro? Certamente não. Se é assim com um indivíduo, como podemos considerar que uma família está em um estado correto, onde não há leitura familiar, nem oração familiar, nem reconhecimento familiar de Deus ou de Sua Palavra?
Não é preciso de forma alguma torná-la um serviço longo e cansativo. Geralmente, tanto em nossa casa quanto em nossa assembleia, exercícios curtos, frescos e fervorosos são de longe os mais edificantes.
Alguém pode dizer que existem muitas famílias que parecem muito exigentes com relação à sua leitura e oração matinal e noturna, porém todo o seu histórico doméstico, desde a manhã até a noite, é uma contradição flagrante do seu, assim chamado, serviço religioso. Em circunstâncias tão dolorosas e humilhantes como essa, o que dizer da leitura familiar? Infelizmente será uma formalidade vazia; em vez de ser um sacrifício matinal e noturno, será uma mentira matinal e noturna.
Para a glória de Cristo
Devemos medir tudo em nossa vida privada, em nosso ambiente doméstico, em nosso histórico do dia, em todas as nossas interações com os outros e em todas as nossas transações comerciais com este único padrão: a glória de Cristo. Nossa única grande pergunta deve ser: “Isto é digno do santo nome que é invocado sobre mim?” Se não é, então não toquemos; viremos as costas com firme decisão, e fujamos daquilo com santa energia. Que não ouçamos nem por um momento a desprezível pergunta: Que mal há nisso? Um coração verdadeiramente devotado jamais consideraria tal pergunta. Sempre que você ouvir alguém falando assim, pode concluir imediatamente que Cristo não é o objeto governante do coração.
Todos nós temos muita necessidade de considerar nosso caminho – de olhar bem para o estado real do nosso coração em relação a Cristo, pois aqui está o verdadeiro segredo de toda a questão. Se o coração não é fiel a Ele, nada na vida privada, na família ou na assembleia poderá estar certo – nada em lugar algum. Mas se o coração for fiel a Ele, estará tudo certo. Certamente o amor a Cristo é a grande salvaguarda contra toda forma de erro e mal. Um coração cheio de Cristo não tem espaço para mais nada, mas, se não há amor a Ele, não há segurança contra o erro mais grosseiro ou a pior forma de mal moral.