Origem: Revista O Cristão – Juventude
“Ninguém despreze a tua mocidade”
Em sua primeira epístola a Timóteo, Paulo diz a ele: “Ninguém despreze a tua mocidade” (1 Tm 4:12). Quando jovem, lembro-me de gostar dessas palavras, e talvez os jovens de hoje também possam se relacionar com esse sentimento. Mais de cem anos atrás, um homem chamado Joseph Conrad escreveu um livro intitulado “Juventude”, no qual descreve suas próprias experiências como o segundo comandante de um navio da Inglaterra com destino a Bangcoc, Tailândia. Parecia que quase tudo deu errado naquela viagem, mas Conrad enfrentou tudo isso com a autoconfiança típica de um jovem. Ele tinha apenas vinte anos na época, um jovem típico de alto astral e autoconfiança. Mais tarde, quando escreveu o livro aos quarenta anos, refletiu sobre a exuberância, energia e confiança que exibira naquela viagem, além de observar algumas das indiscrições que o caracterizavam, devido à sua falta de experiência. Talvez alguns de nossos leitores de meia-idade e mais velhos possam se relacionar com esse sentimento.
Um exemplo
A Palavra de Deus menciona a juventude várias vezes e da mesma forma nos dá instruções equilibradas sobre ela. Antes de tudo, como vimos, Paulo diz a Timóteo, que era evidentemente de natureza tímida e retraída, para não deixar que aqueles a quem ele ministrava desprezassem sua juventude. Por que os mais velhos, mesmo em coisas naturais, às vezes desprezam a juventude? Devido à falta de experiência e, talvez, um espírito imprudente e que pensa que sabe tudo. Por outro lado, por que os jovens às vezes desprezam os mais velhos? Porque eles podem percebê-los como tendo uma atitude ultraconservadora e atrapalhada, relutante em aprender algo novo. Mas Deus reconhece energia espiritual e devoção em qualquer idade, e se isso estiver presente, aqueles que observam um homem mais jovem não devem menosprezá-lo por causa de sua idade. No entanto, é abundantemente claro nas instruções de Paulo que algo mais é necessário – deve haver uma caminhada piedosa. Timóteo deveria ser “o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Da mesma forma, ele deveria se dedicar “em ler, exortar e ensinar” (1 Tm 4:13). Deve haver uma caminhada de acordo com a verdade, e não simplesmente um conhecimento profundo dela.
Questionando
É comum em nossa juventude questionar o que aprendemos, à medida que amadurecemos e começamos a pensar por nós mesmos. Não há nada de errado nisso, pois, às vezes, o que aprendemos é errado, seja nas coisas naturais ou nas espirituais. Novas invenções são frequentemente o resultado de questionar o pensamento atual e, nas coisas espirituais, foi uma volta à Palavra de Deus que gerou movimentos como a Reforma. Outro comentou apropriadamente a mesma coisa:
“Não há nada de errado em os jovens terem uma atitude como a dos bereanos, ‘examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim’ (At 17: 11) […] No entanto, esse exame das Escrituras deve ser feito com humildade e dependência do Senhor, não com espírito de rebelião ou orgulho. É esse espírito de orgulho e rebelião que exige uma admoestação”.
É interessante notar que o próprio Paulo, quando jovem, chamado Saulo, era o que poderia ser chamado de “ativista estudantil”, que usava sua energia e zelo juvenil para tentar derrubar o que ele sentia ser uma séria ameaça à religião de seus pais. Mas suas ideias jovens independentes, apenas o levaram a pecar seriamente contra Deus e o homem. Quando foi abatido pelo Senhor no caminho de Damasco, se tornou Cristão e começou a usar essa energia com lucro. Ao refletir sobre suas atividades antes de ser salvo, ele foi obrigado a se chamar chefe dos pecadores.
Prós e contras
Foi Deus quem criou a juventude com força e energia, mas o mais sábio dos homens (Salomão), no final de sua vida, poderia dizer: “a adolescência e a juventude são vaidade” (Ec 11:10). Jeremias também comentou: “Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade” (Lm 3:27). O mesmo Deus que fez da juventude o que é, também reconhece que o pecado a corrompeu e que muitas vezes é necessário direcionar essas energias juvenis na direção certa, em vez de deixá-las seguir um curso errado. Até o mundo às vezes reconhece isso, pois Benjamin Disraeli, primeiro ministro da Grã-Bretanha durante o século XIX, pôde escrever: “Juventude é um erro, hombridade é uma luta, velhice é um arrependimento”. Sem dúvida, ele reconheceu em seus anos mais maduros que, como outros jovens, tinha sido propenso a cometer erros por causa de seu excesso de confiança.
Lembre-se de teu Criador
Nossa juventude não precisa ser assim. Da mesma forma, os comentários de Disraeli sobre hombridade e velhice não precisam ser assim na vida de um Cristão. No capítulo seguinte (Eclesiastes 12), Salomão nos dá o antídoto para as indiscrições e asneiras da juventude. Ele diz: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade” (Ec 12:1). A criatura não pode se dar bem sem o seu Criador, e especialmente agora que o pecado entrou neste mundo. Os desejos naturais do homem o desviam, e isso talvez seja mais evidente quando somos jovens. O temor de Deus deve estar presente e, de fato, Salomão traz esse pensamento, logo no final do livro: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os Seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem” (Ec 12:13). Para nós hoje, os mandamentos de Deus não consistem mais em manter uma certa lei para agradar a Deus, pois o teste do homem no Antigo Testamento deixou claro que não havia bem no homem natural. Mas quando o Senhor Jesus veio, Ele falou aos homens sobre o mandamento mais importante que deve ser obedecido. Quando os judeus lhe perguntaram: “Que faremos para executarmos as obras de Deus?” Sua resposta foi: “A obra de Deus é esta: que creiais nAquele que Ele enviou” (Jo 6:28-29).
Para agradar a Deus, seja na juventude ou na maturidade, precisamos de uma nova vida de Deus. Então, podemos usar nosso zelo e força juvenil da maneira correta e evitar as armadilhas que são tão fáceis de experimentar na juventude. Mais do que isso, podemos ter um jovem que não será desprezado, mas ajudará os outros. Mais uma vez citando as palavras de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4:16).