Origem: Revista O Cristão – Os Nomes do Nosso Senhor Jesus Cristo
Pesquisa com Células-Tronco
Nos últimos cinco anos, a pesquisa com células-tronco tem sido um assunto controverso. Na América do Norte, o assunto foi noticiado em 9 de agosto de 2001, quando o presidente George Bush dos EUA permitiu a retomada das linhas existentes de células-tronco, mas colocou uma moratória na colheita de novas células-tronco embrionárias em laboratórios do governo. Outros países como Grã-Bretanha, França e Itália também aprovaram leis que regem a pesquisa com células-tronco. Entusiastas proponentes de tais pesquisas sentem que oferecem os maiores benefícios potenciais para a humanidade no tratamento de muitas doenças crônicas, incluindo câncer, diabetes, Parkinson e esclerose múltipla. O debate continua em muitas partes do mundo, e os Cristãos podem se perguntar qual deve ser sua atitude em relação a isso. Tal pesquisa simplesmente envolve o homem usando sua habilidade dada por Deus para aliviar alguns dos efeitos da queda, ou cruza uma linha moral em uma área que a Palavra de Deus proibiria?
Resumidamente, as células-tronco são células primitivas que têm o potencial de se desenvolver na maioria dos 220 tipos diferentes de células que compõem o corpo humano (por exemplo, células do músculo cardíaco, células cerebrais e células do sangue). Existem dois tipos básicos de células-tronco usadas em pesquisas, adultas e embrionárias. As células tronco adultas são retiradas de seres humanos adultos (por exemplo, células da medula óssea). Como a extração dessas células não causa danos ao indivíduo, não há uma controvérsia real sobre as pesquisas que as envolvem. No entanto, as células tronco adultas são limitadas na sua capacidade de se diferenciarem nos muitos tipos de células do corpo e, por isso, não são tão úteis como as células tronco embrionárias. Elas também são difíceis de remover e, portanto, são limitadas em quantidade. Células-tronco embrionárias podem se diferenciar em quase todas as células do corpo e, portanto, têm um potencial de pesquisa muito maior. Estas devem ser obtidos de embriões humanos, e a fonte mais comum é de embriões congelados excedentes produzidos por fertilização in vitro em clínicas de fertilidade.
O que os pesquisadores esperam
Ao experimentar essas células-tronco, os pesquisadores esperam ser capazes de desenvolver tecidos que, por exemplo, darão ao diabético um pâncreas normal ou a alguém com insuficiência renal um novo conjunto de rins. O objetivo final da pesquisa com células-tronco é criar um órgão substituto ou parte de um órgão. A pesquisa com células-tronco é semelhante ao que é conhecido como “clonagem terapêutica”, cujo objetivo é fazer um embrião que seja o “clone” exato de uma pessoa. Suas células-tronco seriam então extraídas e usadas para criar um órgão ou talvez um tipo de tecido. Quando isso fosse posteriormente transplantado no indivíduo, não haveria rejeição porque o transplante conteria o DNA do indivíduo. Embora isso não seja tecnicamente possível no momento, o potencial é realmente impressionante quando consideramos as doenças crônicas que afligem muitos indivíduos.
Podemos ter muita empatia com aqueles indivíduos que sofrem, às vezes por toda a vida, com uma doença crônica debilitante. Muitos de nós somos muito gratos pelos avanços na tecnologia médica que aliviaram o sofrimento e salvaram vidas. No entanto, quando as questões morais envolvem a pesquisa do homem em problemas envolvendo a vida e a morte, a Palavra de Deus deve ser o nosso guia. Temos a certeza de que Deus em Cristo “nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2 Pe 1:3). Acredito que a Palavra de Deus responde à questão da pesquisa com células-tronco embrionárias para nós.
O coração da controvérsia
No coração da controvérsia das células-tronco está a questão de saber se um embrião é um ser humano com alma e espírito. A maioria das células-tronco embrionárias é extraída de embriões humanos muito jovens – normalmente com poucos dias de vida. A extração das células-tronco mata o embrião imediatamente. Seria isto homicídio aos olhos de Deus?
Tal como acontece com muitas outras questões morais, devemos lembrar que a Escritura é escrita para corações que querem fazer a vontade de Deus. Assim, podemos não encontrar uma resposta exata para cada pergunta que surge, mas o coração que quer fazer a vontade de Deus descobrirá que a Escritura deixa a mente de Deus clara no assunto.
Com referência à questão diante de nós, não conheço nenhuma Escritura que nos diga com absoluta certeza quando um embrião humano obtém uma alma e um espírito. No entanto, vamos nos referir a duas Escrituras que eu acredito que falam disso. Em primeiro lugar, em Êxodo, temos instruções quanto a uma lesão a uma mulher que carrega um feto em desenvolvimento. Os versículos são os seguintes:
“E se homens lutarem entre si e ferirem uma mulher grávida, fazendo com que ela dê à luz, e não houver nenhum dano, ele será, em qualquer caso, multado, conforme o marido da mulher impuser a ele, e dará isso conforme o estabelecido pelos juízes” (Êx 21:22-25 – JND).
Eu creio que esta Escritura nos mostra que um feto é visto por Deus como um ser humano. Se a criança nasceu (após o ferimento de sua mãe) sem qualquer problema, então apenas uma multa era imposta. Mas se a criança perdeu a vida, então quem causou a morte deveria perder sua vida. Se a lesão fosse menos grave, o indivíduo causador da lesão pagaria uma penalidade adequada de acordo com o grau da lesão.
O que Deus vê
Em segundo lugar, temos os comentários de Davi no Salmo 139:14-16 sobre seu próprio desenvolvimento no ventre. Aqui está o que ele disse por inspiração:
“Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as Tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não Te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da Terra. Os Teus olhos viram o meu corpo ainda informe, e no Teu livro todas estas coisas [os meus membros – JND] foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia”.
Aqui vemos claramente que Deus tem Seu olhar sobre um ser humano em desenvolvimento desde o princípio e que Ele vê toda a sua substância, embora informe (Note que as Escrituras são muito precisas em dizer “informe” no sentido de ainda não totalmente formado, mas não diz “imperfeito”, o que implicaria algo defeituoso). Além disso, estas Escrituras nos dizem que todos esses membros foram escritos no livro de Deus, mostrando-nos que Deus tem um interesse intenso no desenvolvimento de Sua criatura.
A partir dessas Escrituras, fica claro que qualquer interferência adversa do homem com um embrião humano em desenvolvimento em qualquer ponto é um assunto sério. Eu prefiro acreditar que Deus vê um embrião em desenvolvimento desde a concepção como um ser humano com alma e espírito. Assim, tirar sua vida, na verdade, equivale a um homicídio. Sabemos que os abortos foram feitos legalmente a pedido por mais de trinta e cinco anos na América do Norte e em outras áreas do mundo, principalmente por uma questão de conveniência. Em alguns países do mundo (a China, por exemplo), os abortos são insistidos para limitar o tamanho das famílias. Os crentes sempre viram isso como sendo moralmente errado. Eu creio que a extração de células-tronco embrionárias e, assim, matar o embrião equivale à mesma coisa.
As ramificações de tudo isso são mais sérias e, além da questão da pesquisa com células-tronco, colocam em questão toda a ideia de fertilização in vitro. Embora este artigo não seja primariamente sobre fertilização in vitro, talvez alguns comentários sobre o assunto sejam validos, uma vez que ele está intimamente ligado à pesquisa com células-tronco. Podemos certamente ter empatia com casais que querem desesperadamente filhos e que, por várias razões, não conseguem tê-los da maneira normal. Uma coisa é passar por uma investigação razoável para ver se há algo que a ciência médica possa corrigir para tornar isso possível. E outra coisa inteiramente diferente é recorrer à fertilização in vitro, que quase sempre deixa embriões em excesso e os problemas que daí resultam. Se é moralmente errado usá-los para pesquisa com células-tronco, então se torna uma importante questão o que fazer com esses embriões.
Filhos – Um presente de Deus
Por toda a Palavra de Deus, as crianças são apresentadas como sendo um dom de Deus, e é claro que só Deus tem a prerrogativa de controlar se as crianças nascem ou não. O Salmo 127:3 nos diz que “os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre, o Seu galardão”. Em Gênesis 20:18 lemos que “o SENHOR havia fechado totalmente todas as madres da casa de Abimeleque”, enquanto em Gênesis 30:22 lemos que “lembrou-Se Deus de Raquel, e Deus a ouviu, e abriu a sua madre”. Em Rute 4:13, está registrado, concernente a Rute, que “o SENHOR lhe deu conceição, e ela teve um filho”. Muitas outras Escrituras poderiam ser citadas para mostrar que Deus mantém em Sua mão o dar ou não dar filhos. Todas estas considerações levantam a questão de se os crentes devem estar envolvidos nesta prática, em vista do que a Escritura diz sobre Deus dando a concepção.
Em conclusão, eu diria que extrair células-tronco de embriões humanos e matá-los no processo não é diferente do aborto. Os crentes não devem ter parte nisso. Que não nos envolvamos em áreas que as Escrituras nos mostram que estão além do domínio apropriado do homem. Lembremo-nos de que a raiz desses problemas é frequentemente o exercício da vontade do homem independente de Deus. Assim, ele procura manipular tudo neste mundo para seus próprios fins. O egocentrismo o impele a usar a tecnologia moderna para explorar até mesmo a reprodução humana sem levar em conta as reivindicações de Deus ou as crianças envolvidas. Que nós, que conhecemos o Senhor e reconheçamos Suas reivindicações, mantenhamo-nos bem longe de tal atitude e não sejamos seduzidos pela propensão do homem para colocar sua tecnologia em uma área que pertence somente ao Senhor.
