Origem: Revista O Cristão – Ofertas de Cheiro Suave

Nossa Apreciação de Cristo

Durante a história do Cristianismo, desde os dias dos apóstolos até agora, tem havido uma forte tendência dos crentes de se concentrarem em si mesmos e no que Deus fez e fará por eles. Isso não é surpresa, pois desde a queda do homem no jardim do Éden, o coração do homem tem sido não só egoísta, mas também egocêntrico, o que é muito pior. Seus pensamentos giram em torno de si mesmo – suas ambições, seu prazer, sua vontade. De fato, o pecado em si não é somente fazer coisas erradas, mas é, em sua raiz, o exercício de uma vontade independente. É triste dizer, mas essa atitude não é comum apenas no mundo; ela tende também a permear o Cristianismo.

Como resultado, os crentes muitas vezes consideram a obra de Cristo na cruz apenas como uma forma de escapar do fogo do inferno e olham para Deus como Alguém humanitário que está ali para suprir todas as suas necessidades, para resolver todos os seus problemas e para dar-lhes um caminho fácil por este mundo. É verdade que o Senhor prometeu cuidar de nós e suprir nossas necessidades. Ele quer que dependamos d’Ele e que venhamos a Ele com nossas dificuldades. Porém, se nosso relacionamento com Ele não vai além disso, perdemos muito e desonramos Aquele que tem muito mais do que isso para nós.

A perspectiva de Deus 

Deus quer nos tirar de nós mesmos para termos um relacionamento com Ele de tal forma que vejamos tudo, não pelo nosso lado, mas pela perspectiva d’Ele. Deus vive e Se move na eternidade, e o homem, também, sendo feito à imagem e semelhança de Deus, foi feito para a eternidade. Vivemos em uma cena temporal, e no momento nossa mente está limitada pelo tempo, mas lemos em Eclesiastes 3:11 que Ele “pôs o mundo [ou o infinito, a eternidade] no coração deles”. Quando Deus eleva nosso coração acima deste mundo, vemos as coisas de uma forma mais ampla: nós apreciamos os pensamentos de Deus sobre tudo, e não apenas nossos limitados pensamentos. Este é um privilégio abençoado para nós como crentes, e particularmente considerando a verdade dada à Igreja no Novo Testamento. No entanto, temos figuras dessa preciosa verdade no Velho Testamento, e uma das melhores delas é o holocausto.

O termo “holocausto” remonta ao tempo de Abraão, mas a verdade acerca dele aparece logo no início da história do homem, pois lemos em Gênesis 4:4 que Abel “trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura”. A gordura era a porção do Senhor, que Abel ofereceu por fé, e fala da força e energia interior no sacrifício. Isso foi finalmente visto em perfeição em Cristo, o Verdadeiro Holocausto. Esta oferta foi para o próprio Deus, embora oferecida pelo homem, e é revelada integralmente nas ofertas voluntárias detalhadas na lei mosaica.

O holocausto 

O holocausto, então, é o primeiro a ser mencionado, nas ofertas que nos são apresentadas nos primeiros capítulos de Levítico, como aquela que nos mostra Cristo oferecendo-Se a Si mesmo a Deus em plena obediência e para a glória de Deus. A oferta era voluntária, mostrando-nos que a obediência de Cristo foi voluntária; não foi forçada, mas sim: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu” (Sl 40:8). Além disso, o que está em questão não é tanto a expiação, mas, sim, o fato de que tudo devia ser “de cheiro suave ao SENHOR” (Lv 1:9). A expiação, é claro, é mencionada, pois o sangue devia ser aspergido “em redor sobre o altar” (ARA), mas nas ofertas voluntárias o pensamento é mais sobre a excelência do sacrifício do que sobre a culpa do ofertante. Assim, ao colocar a mão sobre a cabeça do holocausto, o ofertante se identificava com toda a excelência e valor do sacrifício.

Todo o holocausto era para o Senhor; “o sacerdote queimará tudo isto sobre o altar” (Lv 1:9). Nada devia ser comido ou usado de qualquer outra maneira. Isso nos mostra o deleite de Deus Pai em Seu Filho amado, que em obediência voluntária Se submeteu perfeitamente à vontade de Seu Pai, não importa o que custasse. Ele Se tornou “obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:8). O pecado não podia ser de cheiro suave, mas o sacrifício de Cristo, em tudo o que Ele era e em toda a Sua obediência voluntária, era de suavidade especial para Deus Pai. “Cristo Se entregou a Si mesmo em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef 5:2).

Graus de apreciação 

De nossa parte, pode haver graus de apreciação do que Cristo foi para Deus, como evidenciado pelos vários animais para o holocausto que são mencionados. O novilho era um animal relativamente grande, e fala de uma grande apreciação do que Cristo foi para Deus e da excelência de Sua Pessoa. A ovelha ou cabra eram menores, e a rola ou pombo, bem pequenos. Mas como é belo; em cada caso, o comentário sobre o sacrifício foi o mesmo: “holocausto é, oferta queimada, de cheiro suave ao SENHOR” (Lv 1:9, 13, 17). Seja qual for a medida em que entendemos e apreciamos o que Cristo foi para Deus, nosso sacrifício de louvor e adoração é um cheiro suave para o Senhor.

No caso da rola ou do pombo, parte da ave devia ser retirada antes de ela ser oferecida. Mais do que isso, era o sacerdote quem matava a ave, não o ofertante; este não era o caso do novilho nem da ovelha ou cabra. O sacerdote tipifica o Senhor Jesus, que está, Ele mesmo, pelo Seu Espírito, ali para nos ajudar em nossa fraqueza quando O apresentamos a Deus em adoração. Um hino expressa bem isso: “A todas as nossas orações e louvores, Cristo acrescenta Seu doce perfume”.

Coisas para remover 

As penas eram removidas, novamente pelo sacerdote, porque são figura da aparência exterior. Em algumas aves as penas são muito grossas, como, por exemplo, na grande coruja cinzenta. Quando ela ataca sua presa, o objeto de seu ataque geralmente tenta se defender, mas geralmente consegue apenas uma boca cheia de penas, porque elas são muito grossas. Mas as penas devem ser removidas, falando agora daquilo em nossa adoração que é meramente da natureza e não do Espírito.

Por fim, o papo deve ser removido, pois o papo de uma ave contém comida que ainda não foi digerida. Ela é mantida ali até ser transferida para o estômago da ave para digestão. Como crentes, podemos usar expressões em nosso louvor e adoração que tenhamos lido ou ouvido, mas sobre as quais ainda não meditamos e tornamos nossas. Isso é apenas expressar os pensamentos de outras pessoas, que ainda não são realmente nossos. Esta não é a verdadeira adoração, pois é a apreciação de Cristo de outra pessoa e não proveniente do nosso próprio coração. O Senhor Jesus, tipificado pelo sacerdote, precisa remover tudo isso, para que o que é apresentado a Deus seja apenas a realidade – aquilo que é do Espírito.

Em conclusão, então, vemos que a estimativa de Deus em relação a Seu amado Filho excede em muito a nossa, pois nossa apreciação d’Ele tende a ser baseada em nossa necessidade. Se permitimos que Deus leve nossos pensamentos para além de nós mesmos, para ver tudo pelo lado de Deus, não apenas nossos próprios pensamentos são grandemente expandidos, como também Deus é muito mais honrado e nosso Senhor Jesus Cristo muito mais glorificado.

W. J. Prost

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