Origem: Revista O Cristão – A Nossa Vocação Celestial

O Cristianismo Terrenal

Em Josué 1:12, a Palavra de Deus se refere aos rubenitas, aos gaditas e metade da tribo de Manassés. Devemos lembrar que eles escolheram tomar sua herança no lado oriental do Jordão, porque estavam bem adaptados às circunstâncias dali (Números 32). Ora, quando chegou a hora de conquistar a terra de Canaã, eles não se recusam a entrar, como fez a geração anterior, quando os espiões fizeram seus corações derreterem. Pelo contrário, eles se associam com seus irmãos, mas não para tomar posse da Terra. Eles já haviam escolhido sua herança do outro lado do Jordão, porque o lugar era “terra de gado” (Nm 32:4).

Oscuidados terrenais 

O mesmo acontece com muitos Cristãos hoje. O ponto principal na vida de tais crentes são as circunstâncias desta vida, as necessidades cotidianas, tais como recintos para seu gado e cidades para suas famílias. Tais pessoas não estão, propriamente falando, com falta de fé. Pelo contrário, eles experimentam que o Senhor pode entrar com graça em todas as suas circunstâncias, Se adaptando a eles. Seu Cristianismo não é mundano, mas sim terrenal. Israel era uma figura de Cristianismo mundano quando eles se recusaram a entrar na terra com Moisés no início, mas as duas tribos e meia são o tipo daqueles que rebaixam o Cristianismo a uma vida de fé para as circunstâncias terrenais que experimentam, fazendo com que sua vida consista dessas coisas. Moisés é o primeiro a se indignar, mas depois ele os suporta, vendo que, embora sua fé fosse fraca, ainda assim era fé, e que esses laços terrenais não os separavam de seus irmãos.

Tal tendência a diminuir o Cristianismo para os cuidados da Terra é evidente em todas as partes. Com muita pretensão ao poder, pouco se conhece além de um Cristo em Quem confiar para seu cuidado providencial e nos detalhes, grandes ou pequenos, da vida cotidiana. Cristo é de fato conhecido como um Pastor, mas mesmo assim, quão debilmente a extensão de Seus recursos é apreciada! Os campos verdejantes não estão nos currais, nas pastagens, ou nas cidades de Gileade (a leste do Jordão), mas sim na Terra de Canaã.

A Canaã celestial 

É bom confiar n’Ele para tudo, mas que possamos conhecer algo do gozo da entrada, mesmo agora, lá onde um Cristo glorificado pode ser encontrado, de estar desapegado deste mundo, afastado dessa cena, para ser introduzido, morto e ressurreto com Ele, em uma Canaã celestial. Lá, o motivo da nossa caminhada não será mais “muito gado”, mas, tendo deixado tudo para trás – o ego e os assuntos desta vida – no fundo do rio da morte, estaremos prontos para lutar para tomar posse de todos os nossos privilégios em Cristo e desfrutar deles no poder do Espírito. É bom lutar contra a infidelidade e o poder de Satanás neste mundo, mas deixe que a morte e a ressurreição sejam uma realidade para nós e não apenas uma crença.

Princípios mundanos 

As duas tribos e meia nos chamam novamente a atenção em Josué 22. Eles haviam passado armados diante de seus irmãos para lutar contra os inimigos do Senhor na Terra de Canaã. Agora eles recebem de Josué permissão para retornar à sua herança do outro lado do Jordão. Não havia aparentemente nada neles que poderíamos considerar como falhas. No entanto, um problema logo se apresentou entre eles.

Quando o Cristão permite, em qualquer medida, que os princípios deste mundo governem sua conduta, sua posição se torna necessariamente muito complicada, ao passo que nada é mais simples que o caminho da fé. Dessa forma, as duas tribos e meia acharam necessário construir currais para o gado, cidades cercadas para suas famílias e abandonar suas esposas e filhos durante muitos anos. Agora, quando a oportunidade chega para eles voltarem para suas casas, uma nova complicação é apresentada. O Jordão os separa do resto das tribos e eles estão inquietos. Sua posição os expõe a uma divisão, e eles veem que pode chegar o momento em que eles serão tratados como estranhos por seus irmãos. O perigo de sua situação os obriga a estabelecer um testemunho pelo qual eles proclamam publicamente que servem a Jeová, assim como em uma ocasião anterior (Js 1:16-18); sua posição duvidosa os havia compelido a fazer uma profissão em alta voz. Então eles constroem um grande altar nas margens do Jordão dentro dos limites do seu território. Sua própria sabedoria os leva a estabelecer este testemunho. Poderia ser chamada de uma confissão de fé, contra a qual, por enquanto, nada poderia ser dito. No entanto, isso tinha a aparência de outro centro de reunião. Este ato – resultado de uma boa intenção –, tinha sabor do homem. Seu artifício para manter a unidade fez parecer que eles estavam negando-a, e eles se expõem a serem mal interpretados.

O pecado da independência 

Os filhos de Rúben e Gade finalmente chamaram o altar de ‘o altar de Ede’, que significa “um testemunho”. Com esse altar de Ede, um mal ainda maior estava em risco de se infiltrar e era que isso poderia abrir as portas para a independência. Finéias, um exemplo de zelo por Cristo, enxerga além de tudo isso. Ele traz diante dessas duas tribos e meia duas coisas que poderiam resultar desse ato – o pecado de Acã e o que havia acontecido na iniquidade de Peor. O pecado de Acã era cobiçar as coisas do mundo, enquanto Peor era caracterizado por uma aliança corrupta com o mundo religioso.

Que Deus nos proteja do mundanismo, da aliança com o mundo religioso e da independência, o mais sutil e perigoso de todos, porque é a raiz de todo pecado. Cristo é sempre o Santo e o Verdadeiro, e nossa responsabilidade é sermos fieis a Ele. Que possamos ser encontrados andando em santidade e dependência, sem as quais não há comunhão com Ele.

Adaptado de Meditations on Joshua

H. L. Rossier

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