Origem: Revista O Cristão – Adão e Cristo

Nova Criação

A criação é obra de Deus, um ato de poder divino e soberano. O homem pode, dentro de limites, modelar e formar materiais físicos, mas somente Deus pode, por Sua Palavra, trazer à existência aquilo que nunca existiu antes. “Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu”. Isso, estando completamente fora de toda a experiência do homem, é conhecido apenas por revelação: “Pela fé entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente”.

A primeira criação veio perfeita das mãos de Deus. “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”. Mas, em Sua sabedoria, Deus Se agradou em colocar tudo o que havia feito sob o homem que Ele havia criado e colocar o primeiro homem, que era da Terra, terreno, em uma posição de responsabilidade. Este homem, quando tentado, desobedeceu e caiu, e não apenas ele próprio se afastou de Deus, se tornando sujeito à morte e condenação, mas também levou toda a criação a gemer. “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou”.

Os propósitos de Deus cumpridos 

Os propósitos de Deus em referência a esta criação terão seu cumprimento quando os direitos e poder d’Aquele que é o Segundo Homem, o Último Adão, o Senhor do céu, forem manifestados (veja Salmo 8; Atos 3:21). “a mesma criatura [criação – JND] será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8:21). Deus ainda terá glória para Si mesmo naquela mesma criação em que Sua glória foi reduzida a nada.

Há mais do que isso apresentado na Escritura. Deus não está contente, se é que se pode falar assim, em reabilitar a velha criação. Ele traz uma “nova criação”, a qual agora é uma realidade, moralmente ou espiritualmente, para os homens que creem em Cristo. Daí em diante, “fará novo” todo o céu físico e a Terra, para que tudo possa permanecer imutável conforme Ele mesmo, e não dependente, como antes, da responsabilidade e poder de um homem terrestre para mantê-lo, mas na absoluta perfeição e imutabilidade d’Aquele que era o Último Adão. É uma esfera na qual não apenas todas as Suas glórias podem ser manifestadas, mas na qual o próprio Deus pode descansar eternamente.

Nova criação manifestada 

A “nova criação” não terá sua verdadeira exibição até depois do dia em que o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, “transformará nosso corpo de humilhação em conformidade com Seu corpo de glória” (Fp 3:21 – JND), ou mesmo, em seu sentido mais amplo, até que os novos céus e a nova Terra apareçam quando não haverá mais “mar”, esse emblema de inquietação e instabilidade. Mas, espiritualmente, agora é uma realidade para o crente em Cristo, embora seja apenas “pela fé” que possamos entendê-la, assim como é somente pela fé que entendemos o que a criação tinha como propósito a princípio (Hb 11:3).

O fato de ser realmente uma “nova criação”, e não a melhoria ou modificação de algo já existente, pode muito bem ser a razão pela qual nos envolvemos tão pouco nessa maravilhosa verdade da qual falamos. A alma que não a recebe como revelada por Deus não pode conhecê-la, pois está fora de sua experiência como a criação física.

As coisas velhas que passaram 

Está escrito quanto aos céus físicos e à Terra que, antes que os novos sejam introduzidos, os velhos passam. “Os céus passarão”, diz Pedro; “e a Terra, e as obras que nela há, se queimarão mas nós aguardamos novos céus e nova Terra”. Mas isso é igualmente verdadeiro quanto à “criação” moral ou espiritual da qual falamos. A declaração mais simples sobre isso está contida em 2 Coríntios 5:17-18: “Se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – JND] é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por Jesus Cristo”. Assim, vemos três coisas: As coisas velhas passarão, todas as coisas se tornam novas e todas as coisas são de Deus.

Quando o Senhor Jesus estava na Terra, descobrimos que, em Seu ensinamento registrado no Evangelho de João, Ele tem o cuidado de destacar claramente que a condição moral do homem diante de Deus é de morte. A própria rejeição d’Ele por Seu povo (João 1:11) provou isso. Antes de introduzir o assunto do novo nascimento em João 3, há uma exposição completa em João 2 do estado miserável do homem, seja considerado no aspecto natural ou religioso. E existe uma declaração bem clara em João 12:24: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”.

Em 1 Coríntios, o homem natural é colocado de lado por ser totalmente incapaz de receber as coisas do Espírito de Deus (1 Co 2:14). A morte de Cristo prova que todos morreram (2 Co 5:14). Em Efésios 1-2, o homem é visto como morto quando Deus começa a obra com ele. E assim, de fato, Cristo morreu, embora para Ele isso seja como tendo entregado a vida que Ele tinha como Homem sobre a Terra. Assim também, se a questão é vestir o novo homem, isso é precedido por ter se “despido do homem velho”.

O velho não melhora 

Não há melhoria, nem modificação da vida ou natureza que o homem possui em sua antiga posição diante de Deus como descendente de Adão. Ela, espiritualmente, está tão totalmente removida na cruz, quanto os céus e a Terra serão removidos fisicamente no porvir. O Senhor Jesus Cristo, que esteve sozinho diante de Deus como perfeito nessa velha condição de vida, teria permanecido sozinho se Ele não tivesse morrido. Mas Ele morreu voluntariamente nela, e assim essa condição terminou, exceto para aqueles cujos pecados não foram retirados por Ele.

Mas se as coisas velhas já passaram, todas as coisas se tornam novas. Onde a morte entrou, Deus introduziu uma nova vida. Não é a restauração de uma vida antiga, mas a real comunicação de uma nova vida, tão verdadeiramente quanto quando Deus soprou pela primeira vez naquele corpo que Ele havia formado do pó da terra, e ele se tornou uma alma vivente. A primeira tinha essa Terra como sua esfera; a segunda pertence aos lugares celestiais. A primeira era natural; a segunda é espiritual. Não é apenas mencionada como uma nova vida e natureza, mas, na realidade, como uma nova criação. E é bom para nós que o simples fato de haver essa nova criação por si só afete nosso coração.

Se alguém estiver em Cristo 

Há um imenso poder nas nove palavras iniciais da Bíblia: “No princípio, criou Deus os céus e a Terra”, e certamente não há menos poder para a alma que pondera sobre essas outras palavras: “Se alguém está em Cristo, nova criatura [criação – JND] é”. Eles nos falam do poder divino e criativo exercido na associação indissolúvel do crente com o próprio Cristo, e é nessa esfera que Ele está como ressuscitado dentre os mortos. O grão de trigo morreu e agora tem muito fruto, fruto agradável a Deus.

“E tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou Consigo mesmo por Jesus Cristo”. O Senhor Deus pode visitar Adão no Éden, Deus Todo-Poderoso pode Se dar a conhecer a Abraão e chamá-lo de “amigo”, Jeová poderia habitar entre Israel, exclusivamente e por trás de um véu, mas essa Escritura fala de uma condição na qual há um conhecimento perfeito de Deus como totalmente revelado em graça e proximidade a Ele, assim como o próprio Cristo está próximo. É agora, para a fé, aquilo que futuramente será verdadeiro também para a percepção: “E o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus”; Ele habitará com eles.

A natureza divina 

E aí não há apenas proximidade de pessoa, mas perfeita adequação moral. O crente que é desta nova criação participa nela da “natureza divina”. “Deus é luz”, e assim o crente é tratado como filho da luz e chamado a andar assim porque é “luz no Senhor”. “Deus é amor”, e assim o crente é instruído a andar nesse amor, e “quem não ama, não conhece a Deus”. Esses pontos são amplamente tratados na epístola de João. Mas talvez seja mais facilmente apreendido quando vemos que, como essa “nova criação” nunca está separada de Cristo, mas sempre “n’Ele”, assim as características morais a ela pertencentes são aquelas que são perfeitamente expressas em Sua própria Pessoa bendita. “Conhecê-Lo” é saber o que elas são e não há outra maneira de conhecê-las.

É necessário, no entanto, lembrar aqui que é somente como ressuscitado dentre os mortos que Ele Se tornou tanto o Representante como o Cabeça desta nova criação. Embora, de fato, sendo o Senhor do céu e o “Filho do Homem que está no céu”, Ele veio, no que diz respeito à primeira criação, “nascido de mulher”, mas nessa ordem de coisas Ele morreu, e é somente como ressuscitado dentre os mortos que Ele assume o lugar e o caráter de que falamos.

Entretanto, nunca se deve negligenciar o fato de que o crente está neste mundo em um corpo que é da primeira criação e, consequentemente, que ele está no meio de relacionamentos divinamente designados, relacionados a ela, dos quais nenhum pode ser ignorado sem que a Palavra de Deus e o próprio Deus por quem foram estabelecidos, sejam desprezados.

Que o Senhor conceda a cada um de nós ver quão maravilhosa coisa é pertencer agora, em Cristo, a uma nova criação que é toda de Deus, e que possamos ser capacitados a dizer, de forma prática, com o apóstolo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o Qual me amou e Se entregou a Si mesmo por mim”.

J. S. A. (adaptado)

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