Origem: Revista O Cristão – Ovelhas e Cordeiros

Noventa e Nove Que Não Precisam de Arrependimento

Dos dois versículos que abrem Lucas 15, parece que as palavras de nosso Senhor sobre graça e discipulado atraíram os publicanos e pecadores para Ele, enquanto afastaram os fariseus e escribas. Ele realmente recebia pecadores e comia com eles: Tais ações estão de acordo com a própria natureza da graça. Os fariseus fizeram o comentário como uma provocação, contudo o Senhor o aceitou como um elogio. Ele então prosseguiu por parábolas para mostrar que não apenas recebia pecadores, mas realmente os procurava; Ele também demonstrou que tipo de recepção os pecadores recebem quando são acolhidos.

Primeiro, a parábola da ovelha perdida: Aqui vemos no pastor uma imagem do próprio Senhor. As noventa e nove ovelhas, que representam a classe dos fariseus e escribas, foram deixadas não no aprisco, mas no deserto – um lugar de esterilidade e morte. A única ovelha perdida representa a classe dos publicanos e pecadores. Eles são os que estão perdidos, e sabem disso – o “pecador que se arrepende” (v. 7). O Pastor encontra a ovelha; o trabalho e o esforço são d’Ele. E quando a encontra, Ele a segura e a leva para casa. Os ombros d’Ele se tornam a segurança dela. Ele nunca tem que dizer: “Estou triste, pois perdi a minha ovelha que havia sido achada”.

É impossível encontrar na Terra os “noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento” (v. 7), embora, infelizmente, seja fácil encontrar noventa e nove que se imaginam ser assim. No entanto, se eles puderem ser encontrados, haveria mais júbilo no céu por um pecador arrependido do que por eles. Todas as miríades de santos anjos no céu nunca deram causa a tanta alegria quanto um pecador arrependido dá. Que graça surpreendente é essa!

A parábola da dracma perdida segue o mesmo tema geral, mas com alguns detalhes especiais. A mulher com suas atividades na casa representa a obra subjetiva do Espírito na alma dos homens, em vez da obra objetiva de Cristo. O Espírito acende uma vela dentro do coração escuro e cria a perturbação que termina na descoberta da dracma. Aqui o júbilo é na presença dos anjos; na verdade, não é o júbilo dos anjos, mas da Divindade, diante de Quem eles estão.

Em seguida, segue a parábola do “filho pródigo”. As palavras de abertura do capítulo são muito significativas. O Senhor estava dizendo: “Que homem dentre vós não vai após a perdida?” (v. 4). “Qual a mulher não busca com diligência?” (v. 8). Se um pai tivesse um filho pródigo que voltasse, não poderia agora dizer: “Qual de vocês” não “correrá e se lançará sobre o pescoço dele e o beijará?”. Duvidamos que algum homem chegue ao ponto do pai desta parábola: A grande maioria dos homens certamente não o faria. Esta parábola apresenta a graça de Deus Pai. Mais uma vez, é uma figura do pecador que se arrepende, e agora temos permissão para ver em forma de parábola as profundezas das quais o pecador é alçado e as alturas às quais ele é elevado de acordo com o coração do Pai, pelo evangelho.

Na melhor roupa vemos o símbolo de nossa aceitação no Amado; no anel, o símbolo de um relacionamento eterno estabelecido; nas sandálias, o sinal de filiação, pois os servos entravam nas casas de seus senhores com os pés descalços. O bezerro cevado e a alegria expunham o júbilo do céu e a gozo do Pai em particular. O filho estava morto moral e espiritualmente, mas agora ele era como alguém ressuscitado para uma nova vida.

Se o filho mais novo retrata o pecador arrependido, o filho mais velho representa, com precisão, o espírito do fariseu. Um estava com fome e entrou, o outro estava com raiva e ficou de fora. A chegada da graça sempre divide os homens nessas duas classes – aqueles que sabem que não são dignos de nada e aqueles que se imaginam dignos de mais do que têm. Disse o filho mais velho: “nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos” (v. 29). Assim, ele também encontrou companhia e prazer num círculo de amigos fora do círculo do pai. A única diferença estava no caráter dos amigos – os do filho mais novo eram de má reputação, enquanto os do mais velho, presumivelmente, eram respeitáveis. O religioso justo aos seus próprios olhos não está mais em verdadeira comunhão com o coração do Pai do que o pródigo, e ele acaba do lado de fora enquanto o pródigo é trazido para dentro.

F. B. Hole (adaptado)

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