Origem: Revista O Cristão – Dependência e Obediência

Obediência ou a Liberdade do Santo

O espírito de obediência é o grande segredo de toda piedade. A fonte de todo mal desde o início tem sido a independência de vontade. A obediência é o único estado legítimo da criatura, ou Deus deixaria de ser supremo – deixaria de ser Deus. Onde há independência, sempre há pecado. Essa regra, se lembrada, nos ajudaria maravilhosamente a guiar nossa conduta.

Nossa vontade própria 

Não há nenhum caso em que devamos fazer nossa própria vontade, pois não temos a capacidade de julgar corretamente sobre nossa conduta ou de apresentá-la a Deus. Posso ser chamado a agir independentemente da mais alta autoridade do mundo, mas nunca deve ser no princípio de que estou fazendo minha própria vontade, que é o princípio da morte eterna.

A liberdade do santo não é licença para fazer sua própria vontade. Uma total renúncia própria é o único meio de andar com a bênção completa que pertence à nossa feliz posição de serviço a Deus, a nossos irmãos e à humanidade. Se algo pudesse ter tirado a liberdade do Senhor Jesus, isso O teria impedido de ser sempre obediente à vontade de Deus. Tudo o que se move na esfera da vontade do homem é pecado. Somos santificados para a obediência (1 Pe 1:2); a essência da santificação é não ter vontade própria. Lembremo-nos de que a verdadeira escravidão é estar sendo escravizado por nossa própria vontade, enquanto a verdadeira liberdade consiste em ter nossas próprias vontades inteiramente colocadas de lado. Quando fazemos nossa própria vontade, o “eu” é o nosso centro.

Verdadeiro serviço 

O Senhor Jesus tomou “forma de Servo” e, “achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:6-8). Quando o homem se tornou pecador, ele deixou de ser um servo, embora seja, em pecado e rebelião, o escravo de um rebelde mais poderoso que ele. Quando somos santificados, somos trazidos ao lugar de servos, bem como ao de filhos. O espírito de filiação apenas se manifestou em Jesus, ao fazer a vontade do Pai. Satanás procurou fazer Sua filiação divergir da obediência irrestrita a Deus, mas o Senhor Jesus nunca faria nada, desde o início até o fim de Sua vida, exceto a vontade do Pai.

Em Hebreus 13:17-25, o espírito de obediência é imposto àqueles que governam na Igreja – “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles” (ARA). É para nosso proveito em tudo, buscar esse espírito. Eles “velam por vossa alma”, diz o apóstolo, “como aqueles que hão de dar conta delas”. Aqueles a quem o Senhor coloca em serviço, Ele faz responsável diante d’Ele mesmo. Este é o verdadeiro segredo de todo verdadeiro serviço. Deve ser obediência, seja naqueles que governam ou nos que obedecem. Eles são servos, e essa é a responsabilidade deles. Se eles não guiarem, dirigirem, repreenderem etc., “o Senhor” cobrará deles. Por outro lado, aqueles aconselhados tornam-se diretamente responsáveis perante o “Senhor” pela obediência.

Responsabilidade ao Senhor 

O grande princípio guardião de toda conduta na Igreja de Deus é responsabilidade pessoal para com o “Senhor”. Nenhuma orientação de outra pessoa pode jamais se interpor entre a consciência de um indivíduo e Deus. Aqueles que são mencionados neste capítulo como tendo o governo na Igreja tiveram que “dar conta” de sua própria conduta, e não das almas que foram confiadas a eles. Não existe algo como dar conta da alma de outras pessoas; “cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14). A responsabilidade individual sempre assegura a manutenção da autoridade de Deus. Se aqueles que olhavam pela alma de outros tivessem sido fiéis em seu serviço, não teriam que prestar contas “gemendo”, no que dizia respeito a eles, mas ainda assim seria muito “inútil” para os outros, se agissem desobedientemente.

Onde quer que o princípio de obediência não esteja em nosso coração, tudo está errado; não há nada além de pecado. O princípio que nos atua em nossa conduta nunca deve ser: “Devo fazer o que acho certo”, mas “importa obedecer a Deus” (At 5:29).

Uma boa consciência 

O apóstolo então diz: “Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente” (Hb 13:18). É sempre uma armadilha, para aqueles que estão continuamente ocupados com as coisas de Deus, não ter uma “boa consciência”. Ninguém está tão propenso a cair, quanto aquele que está continuamente ministrando a verdade de Deus, se não tiver o cuidado de manter uma “boa consciência”. O contínuo falar sobre a verdade e estar ocupado com outras pessoas tem uma tendência a endurecer a consciência. O apóstolo não diz: “Ore por nós, pois estamos trabalhando duro” e coisas do gênero, mas o que lhe dá confiança em pedir suas orações é para que ele tenha uma “boa consciência”. Vemos o mesmo princípio mencionado em 1 Timóteo 1:19: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé”. Onde não há diligência na busca de manter uma “boa consciência”, Satanás entra e destrói a confiança entre a alma e Deus, ou entramos em falsa confiança. Onde existe o sentido da presença de Deus, existe o espírito de humilde obediência. No momento em que uma pessoa é muito ativa no serviço ou tem muito conhecimento e é colocada à frente de alguma forma na Igreja, existe o perigo de não ter uma boa consciência.

O Deus da paz 

Ele é “o Deus da paz”, tanto em relação aos nossos pecados quanto em nossas circunstâncias. Mas é somente em Sua presença que há paz estabelecida. No momento em que entramos em pensamentos e raciocínios humanos sobre as circunstâncias, ficamos perturbados. Não somente a paz nos foi feita pela expiação, mas repousa sobre o poder d’Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos, e, portanto, o conhecemos como “o Deus de paz”.

A bênção do santo não depende da velha aliança da qual o homem era parte e que poderia falhar, mas de Deus que, por meio de toda a angústia, pecado e poder de Satanás, “tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo” e assim assegurou a “eterna redenção” (Hb 9:12). Tudo o que o próprio Deus havia pronunciado quanto ao julgamento contra o pecado e todo o poder perverso de Satanás repousava sobre Jesus na cruz, e o próprio Deus o ressuscitou dentre os mortos. Aqui, então, temos total conforto e confiança da alma. Nada “nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” argumenta a fé (veja Rm 8:31-39), pois, quando todos os nossos pecados foram colocados sobre Jesus, Deus interveio com grande poder, e “o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, Grande Pastor das ovelhas”. O sangue era tanto a prova e testemunho do amor de Deus pelo pecador quanto a justiça e majestade de Deus contra o pecado. Essa aliança é baseada na verdade e santidade do Deus eterno, tendo sido plenamente cumprida e respondida na cruz do Senhor Jesus. Seu precioso sangue encontrou todas as reivindicações de Deus. Se Deus não é “o Deus de paz”, Ele estaria afirmando a insuficiência do sangue de Seu querido Filho. E sabemos que isso é impossível. Deus descansa nele como um cheiro suave.

Comunhão com Deus ao fazer Sua vontade 

Então, quanto ao efeito de tudo isso na vida do santo, o conhecimento disso produz comunhão com Deus e deleite em fazer Sua vontade. Ele está “operando em vós”, como é dito aqui, “o que perante Ele é agradável por Cristo Jesus”.

A única coisa que deveria causar alguma hesitação na mente do santo quanto a partir para estar com Cristo é fazer a vontade de Deus aqui. Podemos imaginar alguém pensando na alegria de estar com Cristo e depois seja preso pelo desejo de fazer a vontade de Deus aqui (veja Fp 1:20-25). Isso pressupõe confiança em Deus, como “o Deus de paz”, e confiança em Seu poder sustentador enquanto estiver aqui. Se a alma está trabalhando no tumulto de sua própria mente, não pode ter a bênção de conhecer a Deus como “o Deus de paz”.

A carne é tão facilmente despertada que muitas vezes há a necessidade da palavra de exortação – “Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta exortação” (v. 22). O espírito de obediência é o único espírito de santidade.

Que o Senhor nos dê graça para andar em Seus caminhos.

J. N. Darby, selecionado

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