Origem: Revista O Cristão – Conhecimento
Obtendo o Conhecimento Bíblico
A verdade bíblica é conhecida pelos Cristãos de duas maneiras, pelo intelecto e pela experiência. A mesma pessoa pode e deve possuir essas duas formas de conhecimento, mas é possível que ela tenha a inteligência sem a experiência ou a experiência sem a inteligência.
Experiência sem Inteligência
Se a experiência de uma verdade é vivida sem inteligência, a perda para esta alma será no caminho para encontrar a sabedoria. Como exemplo, a certeza de um crente de sua própria salvação pessoal. Ele recebeu algo da palavra de Deus pela obra do Espírito Santo dentro dele, que lhe assegurou que é salvo, e não tem mais dúvidas ou temores sobre este assunto. No entanto, talvez ele não possa explicar, nem ver claramente, as verdades reveladas nas Escrituras que têm relação com a salvação. Por causa disso, ele está desfrutando daquilo que não compreende plenamente, exceto no que diz respeito a si mesmo, pois ele sabe que em sua alma a salvação lhe pertence.
Enquanto ele anda com Deus, essa falta de compreensão intelectual não fará com que escorregue, mas no momento de algum conflito ele estará em grande desvantagem, pois não será capaz de usar corretamente a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”. Poderá haver confusão quanto ao que este texto significa ou que aquele outro texto quer dizer, a mente ficará confusa, e pelo menos por um tempo pode haver derrota e a alma pode ser posta em dúvida.
Nós vemos crentes queridos e fiéis que, por falta de inteligência no sentido claro da Palavra de Deus, são várias vezes derrotados pelo inimigo e frequentemente sob severa pressão espiritual. Não podemos, portanto, estar ociosos para saber o significado do que Deus diz, pois “Assim diz o Senhor” é de grande importância para o crente.
Inteligência sem Experiência
Contudo, nessas observações, não estamos tão preocupados com aqueles que têm a experiência da verdade sem a inteligência clara de seu significado, como estamos a respeito de alguns que têm a compreensão intelectual de uma verdade sem a devida experiência de sua realidade. Dizemos ‘experiência devida’, porque não queremos levar a delicada consideração da experiência Cristã para além dos devidos limites. É comparativamente fácil falar do conhecimento intelectual de uma verdade, pois as palavras podem expressar esse conhecimento, mas a experiência é o que pertence ao coração e é, para o Cristão, individualmente, a energia vital das palavras que ele profere. A cabeça pode testar o conhecimento, já o coração deve testar as experiências. Um Cristão que passou pelo conhecimento experimental de uma verdade discerne o espírito do que fala descrevendo aquilo que ele não sentiu.
Um homem pode ser tão claro quanto um Cristal, mas tão frio quanto o gelo. Ele pode ter a capacidade de detalhar as diversas partes de uma verdade divina, mas ainda assim não ser capaz de mover nenhum sentimento em direção a Deus. Por outro lado, palavras erradas e pensamentos mal formados podem ir direto para a alma e atrair afeições para Deus, mesmo quando o ouvinte estiver plenamente consciente da falta de conhecimento intelectual nas palavras que são proferidas.
Orgulho Espiritual
Como já mencionamos, se um Cristão tem falta de conhecimento espiritual de alguma verdade de Deus, ele está, por causa dessa falta de conhecimento, exposto ao inimigo e poderia, em espírito, se afastar de Deus. O que podemos dizer, então, sobre o perigo que cerca aquele que, sendo conhecedor de uma doutrina no intelecto, tendo seu poder mental alimentado por esses mistérios, não é versado na experiência da verdade que ele conhece? Ele está em perigo de cair na mesma condenação que o próprio Satanás caiu, que é, se inchar no seu orgulho. Sim, ele está em perigo do orgulho espiritual, de se gabar do seu conhecimento das verdades divinas, até mesmo nos mais sublimes assuntos como o da glória de Deus, a morte e ressurreição de Seu filho, e a maneira que o homem é abençoado em Cristo! Tal é a sutileza do coração do homem que ele pode manter uma verdade de Deus e usar para a exaltação própria, sim, e frequentemente o faz. “A ciência [conhecimento] incha” e o crente, sem ter a experiência da verdade conhecida, se torna soberbo e com orgulho que será para sua eventual vergonha e desonra.
Ausência da Moral de Deus
Sem querer detalhar tal triste estado de alma, talvez possamos mencionar uma ou duas causas dele, para ajudar a evitar tal condição. A principal raiz do mal, então, é a ausência moral da presença de Deus em nosso espírito. A Bíblia é lida, ou provavelmente livros que explicam suas verdades são lidos, e as doutrinas são compreendidas por simples força humana, pela capacidade intelectual, ou pela memória ou algo do tipo. Em uma palavra, o Espírito de Deus, que habita em nós, é ignorado e a mente do crente recebe permissão para tentar compreender as verdades divinas ao invés de o crente se submeter, humildemente e com reverência, ao efeito moral da verdade de Deus sobre seu espírito. Não podemos aprender as verdades divinas a não ser que a aprendamos na presença de Deus. Um processo em nossas almas acompanha a correta aquisição de conhecimento.
É menos perigoso ser estúpido e não ser capaz de compreender uma verdade doutrinalmente, mas ainda assim viver no poder e se mover em sua força, do que conhecer os detalhes dela e ainda assim estar completamente alheio à sua força. Num caso, o próprio sentimento de ignorância pode ajudar a manter o crente humilde, no outro caso, o sentimento de conhecimento irá ensoberbecê-lo. No primeiro, a alma buscará a Deus e Sua proteção será desejada. No segundo, a verdade, ou a habilidade humana de manejar a verdade, e não a de Deus, será confiada. Muitos são maravilhosamente versados nas Escrituras, e têm por anos vivido no orgulho de seu conhecimento! O conhecimento que têm da letra da verdade tem sido usado simplesmente para os capacitar a desprezar seus companheiros Cristãos, assim como um cientista pode usar seu conhecimento para desprezar os homens normais por causa da ignorância deles.
O Remédio
O remédio para isto está na atitude moral que o Cristão tem individualmente diante de Deus. É um assunto totalmente privado entre Deus e o crente. Mas o comportamento privado da alma diante de Deus é, de fato, algo que merece grande consideração. Quando fomos convertidos, tivemos que lidar apenas com Deus. Quando recebemos paz, lidamos apenas com Deus. Em todas as grandes crises espirituais em nossas vidas, lidamos apenas com Deus, e se morrermos, teremos que ir embora deste mundo somente com Deus. Em uma palavra, tudo o que é estável e permanente na alma resulta dos tratos pessoais com Deus. Agora, se tomamos qualquer verdade somente pela inteligência, deixamos Deus fora de nossa obtenção pessoal do conhecimento das Escrituras. Mais precisamente, negligenciamos o conhecimento de Deus, porque as doutrinas das Escrituras nos dão o conhecimento de Deus. Que estejamos em guarda, já que é algo terrível para a prosperidade da alma dos meros mortais tomar o conhecimento de Deus como se fosse apenas casos científicos.
O Conhecimento de Deus
Deus se revelou graciosamente para Seu povo na e pela Sua Palavra, e cada sentimento da revelação que possamos ter certamente irá produzir em nossas almas uma experiência refrescante do próprio Deus. Quando esse conhecimento pessoal de Deus, pelo Seu Espírito, é ganho, a vida e os pensamentos do crente serão formados e coloridos por tal conhecimento. O crente será dominado pelo que passou por ele e se tornará parte dele. Sua vida prática será a linguagem do seu ser interior. Ele mostrará em sua vida prática o que vive dentro dele.
E essa vida prática, por nosso modo de vida e fala, recebe crédito das almas daqueles que ouvem. É uma testemunha, um testemunho de Deus. Por outro lado, o conhecimento adquirido apenas intelectualmente dos mais profundos mistérios de Deus, terá o mesmo poder sobre a alma humana que uma instrução científica.
Faithful Words for Young and Old (adaptado)