Origem: Revista O Cristão – Oferta pelo pecado e pela culpa
A Oferta pela Culpa
“Então, restituí o que não furtei” (Sl 69:4).
A oferta pela culpa (Lv 5-6) é às vezes considerada como uma espécie de oferta pelo pecado secundária, mas há características nela que lhe conferem um caráter inteiramente próprio. Na oferta pelo pecado aprendemos a culpa do pecado, mas a oferta pela culpa nos ensina o dano que o pecado causou; o pecador não apenas sofre ele mesmo, mas seu pecado faz com que outros sofram. Três direções são indicadas nas quais o pecado opera; “nas coisas sagradas do Senhor” (Lv 5:15); contra “os mandamentos do Senhor” (Lv 5:17); “contra o Senhor” em uma ofensa contra “o seu próximo” (Lv 6:2).
Contra a santidade de Deus
Para ter uma visão correta desses diferentes aspectos do pecado, devemos voltar ao início da história do homem. Quando Adão pecou, Deus foi o primeiro a sofrer, pois Adão cometeu uma transgressão e pecado nas coisas santas do Senhor. Deus formou o homem à Sua própria imagem e semelhança, mas Satanás planejava estragar tudo e ofender a Deus. Ele conseguiu, e Deus perdeu o melhor de Sua criação – a coroa de toda a Sua obra. O pecado de Adão foi uma punhalada no próprio coração de Deus, pois Deus foi o primeiro a sofrer.
Contra os mandamentos
O pecado de Adão também foi contra os mandamentos do Senhor. Seu ato de desobediência foi uma rebelião e um desafio à supremacia de Deus. O pecado destronaria Deus Todo-Poderoso se pudesse, pois o pecado não é apenas uma punhalada no coração de Deus, mas também uma tentativa de atingir Seu trono. A natureza de Deus é amor, mas Seu caráter é luz; tanto Sua natureza quanto Seu caráter foram desafiados pelo pecado de Adão, e ainda são desafiados por todo o pecado de sua raça.
Transgressão contra o próximo
Como o pecado foi rápido em avançar para transgredir contra o próximo do homem, o que é considerado uma transgressão contra o Senhor! Tão logo houve um homem contra quem pecar, a transgressão foi cometida, e de irmão contra irmão. No homicídio de Abel, Caim transgrediu naquilo “que lhe foi entregue para guardar” (KJV) e havia “tirado por meio de violência” (KJV) a vida de seu irmão.
A próxima coisa a notar é que não era o transgressor quem estimava a extensão do dano causado por sua transgressão. Moisés, que representava a Deus, tinha que mensurá-la segundo o siclo do santuário (Lv 5:15). Quão prontamente estabelecemos nosso próprio padrão, ou nos comparamos com os outros e justificamos a nós mesmos! É somente na presença de Deus que aprendemos a excessiva pecaminosidade do pecado ao desafiar a Deus e o dano que ele causa aos outros, e só então percebemos a necessidade de um grande sacrifício expiatório.
Um carneiro sem defeito
Embora as ofertas pelo pecado fossem graduadas, variando de um novilho até a décima parte de um efa de flor de farinha, havia apenas uma oferta que poderia atender adequadamente à transgressão – um carneiro sem defeito. A primeira vez que um carneiro aparece no quadro divino é em Gênesis 22, onde um, preso pelos chifres entre os arbustos, morreu no lugar de Isaque. Isso dá a ideia de substituição, mas quem poderia ser um substituto adequado para homens pecadores? Só há uma resposta para isso – o Filho do Homem. Na grandeza de Seu amor, Ele tomou este lugar.
O carneiro também significa força e determinação. Ele é figura do Senhor vindo do céu dizendo: “Eis que venho para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:9). Nada poderia desviá-lo dessa vontade. Mas o carneiro, além disso, indicava completo crescimento e maturidade. Não havia imaturidade ou falta de conhecimento no Senhor. Ele veio com pleno conhecimento da avaliação que Deus faz do pecado, e das exigências que a justiça eterna deve fazer Àquele que Se colocou como substituto do transgressor.
Restituição da quinta parte
Chegamos agora àquela parte da figura [representada por esta oferta] que deve encher de gozo cada um dos filhos de Deus, pois encherá o céu com louvor eterno. A restituição devia ser feita para cada transgressão e uma quinta parte acrescentada a ela. A parte lesada tinha de ser recompensada com muito mais do que havia perdido. Certamente nenhum pecador poderia fazer isso, mas Aquele que faz isso acontecer é Aquele que fez expiação pelo pecado. É a voz de Jesus que diz no Salmo 69:4: “Então, restituí o que não furtei”. Considere o dano feito a Deus, quando o Senhor teve que dizer: “não somente viram, mas também odiaram tanto a Mim como a Meu Pai” (Jo 15:24 – AIBB). Poderia essa inimizade profundamente enraizada ser removida e os inimigos reconciliados? A resposta é: “sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho”, e lemos agora sobre aqueles “que amam a Deus” (Rm 5:10; 8:28). Dessa forma, o próprio Deus foi enriquecido e será glorificado para sempre, pois a própria transgressão deu ao Filho de Deus a oportunidade de suportar o juízo e acrescentar infinita glória para Deus, contra Quem a transgressão foi cometida.
Quando tudo isso foi feito, a transgressão contra os mandamentos do Senhor foi resolvida, e a quinta parte foi acrescentada a ela. O resultado é que nós, que antes “não éramos” sujeitos “à lei de Deus” (Rm 8:7), agora descobrimos que temos, “segundo o homem interior … prazer na lei Deus” (Rm 7:22). Somos chamados de “filhos obedientes”, e é maravilhoso como a obediência voluntária a Deus é frequentemente mencionada nas epístolas. É bom que estejamos em contínuo exercício de coração para não falharmos nisso, para não sermos achados retendo de Deus aquilo que Jesus morreu para garantir em nós para Ele.
Transgressão contra o nosso próximo
Finalmente, quanto à transgressão contra nosso próximo. “Quando estávamos na carne”, influenciávamos os outros com nossas palavras e ações e vivíamos no espírito de Caim, dizendo: “Sou eu guardador do meu irmão?” Vivíamos para agradar a nós mesmos, muitas vezes até ferindo os outros. Na figura que estamos estudando, um homem poderia transgredir contra seu próximo mentindo para ele, mas qual deve ser a resposta para isso em nós agora? “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef 4:25). Um homem poderia transgredir contra o seu próximo ao negar que algo lhe foi entregue para guardar, como Caim negou sua responsabilidade por Abel. A resposta para isso em nós é: “tenham os membros igual cuidado uns dos outros” (1 Co 12:25).
Desta forma Deus triunfou e triunfa quando nós, a quem a própria vida de Cristo foi concedida, manifestamos essa vida na vida prática. “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai.” (Cl 3:12-17). Que glória para Deus há em uma vida assim!
J. T. Mawson (adaptado)