Origem: Revista O Cristão – Oferta pelo pecado e pela culpa

A Oferta pelo Pecado

Em uma edição anterior de O Cristão, consideramos as ofertas de cheiro suave. Agora chegamos ao que poderíamos chamar de ofertas obrigatórias – aquelas que não eram voluntárias, como eram as ofertas de cheiro suave, mas sim mandatórias. Nesta categoria temos as ofertas (ou expiações) pelo pecado e pela culpa, embora a oferta pela culpa fosse, em certo sentido, uma subdivisão da oferta pelo pecado. Assim, toda oferta pela culpa era uma oferta pelo pecado, embora nem toda oferta pelo pecado fosse uma oferta pela culpa. Enquanto as ofertas de cheiro suave nos ocupam com a excelência do sacrifício e, portanto, falam de adoração, a oferta pelo pecado nos ocupa com o cumprimento das reivindicações da natureza santa de Deus e com a aniquilação do pecado. Mas devemos lembrar que todas essas distinções das várias ofertas se fundem em Cristo, pois n’Ele é tudo uma única oferta. No entanto, ao examinar a obra de Cristo (em figura) nessas diferentes ofertas, o Espírito de Deus nos capacita a entender e valorizar mais os detalhes desse sacrifício supremo – o próprio Cristo.

Uma distinção importante entre as ofertas voluntárias (e particularmente o holocausto) e a oferta pelo pecado deve ser mencionada desde já, pois é crucial para o entendimento das duas categorias. Nas ofertas voluntárias, quando o ofertante colocava a mão sobre a cabeça do animal, toda a excelência da oferta era transferida para o ofertante. Isso tipifica para nós a preciosa verdade de que não apenas o crente hoje é purificado de seus pecados, mas ele também é visto como “em Cristo”. Ele está diante de Deus em toda a perfeição do próprio Cristo.

No entanto, quando o ofertante colocava a mão sobre a cabeça da oferta pelo pecado, a transferência acontecia em outra direção: todos os pecados do ofertante eram transferidos para a oferta. Assim, o animal, em figura, tomava sobre si o pecado do ofertante, e sendo o animal sacrificado, o ofertante era purificado daquele pecado.

Três tipos de ofertas pelo pecado 

Havia na verdade três tipos diferentes de oferta pelo pecado – a oferta pelo pecado e pela culpa, o grande dia da expiação e a novilha vermelha. Não vamos nos deter no tipo da novilha vermelha, já que isso é para nós a figura da restauração da comunhão em vez da aniquilação absoluta do pecado. Para uma discussão mais completa sobre a novilha vermelha e o assunto do arrependimento e restauração, o leitor pode consultar a edição de janeiro de 2007 da revista O Cristão.

O dia da expiação 

Considerando o grande dia da expiação, novamente, não entraremos em detalhes aqui neste artigo, uma vez que não é, estritamente falando, uma das ofertas que é abordada nesta edição. No entanto, pode ser suficiente dizer que há uma diferença entre o grande dia da expiação e as ofertas pelo pecado e pela culpa. O dia da expiação era feito anualmente e era a base sobre a qual Deus poderia continuar com Seu povo Israel. Como tal, ele era a base para todas as outras ofertas, pois no dia da expiação era lançado o fundamento para o relacionamento de Deus com Seu povo escolhido. Um novilho era primeiro oferecido pelo sacerdote, pois ele também era um pecador e precisava de perdão. Por outro lado, pelo povo, havia dois bodes. Um deles era sacrificado como oferta pelo pecado, o que nos fala de propiciação – satisfazendo as exigências da natureza santa de Deus. O outro era levado para o deserto e solto, e nos fala de substituição. O bode vivo “levará sobre si todas as iniquidades deles à terra solitária” (Lv 16:22). Assim eram perdoados os pecados dos filhos de Israel perante o Senhor.

Pecados por ignorância 

Mas agora temos a oferta pelo pecado – uma oferta que era necessária de tempos em tempos, quando pecados por ignorância eram cometidos. Da mesma forma, a oferta pela culpa era instituída onde um mandamento conhecido havia sido violado e onde ofensas específicas são mencionadas. Era por causa da posição do povo diante de Deus, com base no dia da expiação, que essas outras ofertas pelo pecado podiam ser aceitas. Assim, as ofertas pelo pecado e pela culpa assumiam mais o caráter de restauração do que de aniquilação absoluta do pecado. Nem é preciso dizer que todos esses sacrifícios eram feitos porque “ainda o caminho do santuário [Santo dos Santos – JND] não estava descoberto [ou manifesto] (Hb 9:8).

Além disso, notamos, com a oferta pelo pecado, que nenhuma provisão foi feita para o pecado “à mão levantada” (Nm 15:30), isto é, desobediência voluntária. O perdão era apenas para pecados por ignorância. Nisto percebemos que “a lei nenhuma coisa aperfeiçoou” (Hb 7:19), pois certamente precisávamos de perdão para os pecados por vontade própria, bem como para os pecados por ignorância. Quatro categorias diferentes de oferta pelo pecado nos são dadas, dependendo de quem pecou.

Quatro categorias 

Nas duas primeiras categorias, temos o pecado do “sacerdote ungido” e um pecado que envolvia toda a congregação. Em tais tipos de pecado, a comunhão de toda a congregação era interrompida e, em ambos os casos, um novilho – uma oferta grande – era necessário. Vários detalhes são dignos de nota.

Em primeiro lugar, o sangue em ambos os casos deve ser aspergido sete vezes “perante o SENHOR, diante do véu do santuário” (Lv 4:6, 17). “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Aspergido sete vezes, o sangue fala da perfeição da obra de Cristo aos olhos de Deus.

Em segundo lugar, um pouco do sangue devia ser colocado sobre as “pontas do altar do incenso aromático, perante o SENHOR” (Lv 4:7, 18). O altar de incenso falava de adoração, e o sangue ali preservava a base da adoração, que era interrompida pelo pecado de um sacerdote ou de toda a congregação.

Terceiro, o sangue do novilho era derramado à “base do altar do holocausto, que está à porta da tenda da congregação” (Lv 4:7, 18), o que fala de aproximação individual a Deus. Era desse altar que as pessoas podiam se aproximar como indivíduos e, assim, a consciência individual era satisfeita.

Por fim, todo o novilho era levado para fora do arraial e queimado ali. Isso era necessário, pois o pecado jamais será, em si, de cheiro suave para Deus. Aquilo que era figura de nosso bendito Senhor sendo feito “pecado por nós” devia ser levado para fora do arraial e queimado lá. Assim também lemos em Hebreus 13:11-12: “os corpos dos animais cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o Santuário [Santo dos Santos – JND], são queimados fora do arraial. E, por isso, também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, padeceu fora da porta”.

A conexão entre a oferta pelo pecado e o holocausto 

No entanto, na oferta pelo pecado, o Espírito de Deus nos mostra de três maneiras como o holocausto e a oferta pelo pecado são uma só. Primeiro, em ambas os animais eram mortos no mesmo lugar – à porta do tabernáculo, perto do altar do holocausto (Lv 6:25). Segundo, a gordura da oferta pelo pecado deveria ser queimada no altar, “por cheiro suave ao Senhor” (Lv 4:31). Terceiro, as cinzas do holocausto e da oferta pelo pecado eram misturadas umas com as outras, uma vez que ambas eram no final colocadas no mesmo lugar fora do arraial, “onde se lança a cinza” (Lv 4:12; Lv 6:9-11). É somente neste versículo (Lv 4:31) que as palavras “por um cheiro suave” são usadas com uma oferta pelo pecado, pois na cruz de Cristo não houve apenas a aniquilação do pecado, mas também glória e honra foram trazidas a Deus pela perfeita obediência d’Aquele que levou nossos pecados. Isso trouxe um cheiro suave e nos mostra que a oferta é toda uma só – centrada em Cristo.

Para o governante, para o povo 

Há duas outras ofertas pelo pecado que são mencionadas: aquela oferecida quando um governante [ou príncipe] pecava e, por fim, quando uma das pessoas comuns pecava. Em nenhuma delas a comunhão de toda a congregação era interrompida, por isso o sangue era colocado, não nas pontas do altar do incenso, mas nas pontas do altar do holocausto. Como já salientamos, era a este altar que o povo vinha, e era ali que podiam ver o sangue nas pontas do altar, mostrando que o sacrifício havia sido feito. Eles não conseguiriam ver caso o sangue estivesse nas pontas do altar de incenso dentro do primeiro véu.

Além disso, notamos, nestas duas últimas ofertas pelo pecado, que o próprio ofertante é quem devia matar o animal, mostrando assim que ele deveria estar total e completamente identificado com sua oferta. Precisava ser pessoal; ele tinha que colocar a mão na cabeça do animal e depois matá-lo.

Vemos também que, enquanto a oferta por um governante devia ser um macho, a oferta por uma pessoa comum era fêmea, mostrando-nos que maior energia era necessária para um governante, de acordo com a maior responsabilidade em seu pecado.

Levando em conta a pobreza 

Finalmente, e mais precioso, vemos no pecado das pessoas comuns como Deus levava em conta a pobreza. A pessoa poderia trazer uma cabra, mas talvez pudesse comprar apenas um cordeiro; isso era aceitável. No caso de uma oferta pelo pecado por causa de uma transgressão, a concessão para a pobreza ia ainda mais longe, para rolas ou pombinhos, ou talvez apenas uma pequena quantidade de flor de farinha.

A estimativa e o valor da obra de Cristo variam consideravelmente de um crente para outro. Alguns têm um amplo entendimento dessa obra, enquanto outros têm uma visão muito simples e limitada dela. Deus faz provisão para isso, e Ele a ilustra por meio da pobreza material no Velho Testamento; no Novo Testamento alguns podem ser pobres espiritualmente. Mas os olhos de Deus repousam em Cristo, e é a avaliação de Deus dessa obra que é importante. Assim, no Novo Testamento há apenas alguns versículos que conectam nossa fé e crença com a obra de Cristo, enquanto há muitos versículos que conectam a fé com a Pessoa de Cristo. A obra de Cristo é importante, pois um entendimento de Sua obra dá maior paz e descanso à alma e uma apreciação mais rica de tudo o que Ele fez por nós. Mas, se um crente se apropria somente de Cristo, com muito pouco entendimento de Sua obra, Deus aceita isso, pois, tendo o próprio Cristo, o crente tem todo o valor de Sua obra diante de Deus.

Ao tratar da oferta pelo pecado, por uma questão de espaço, tivemos que passar por alguns detalhes bem superficialmente. Lamentamos por isso, mas confiamos que uma referência a alguns desses detalhes pode nos estimular a examiná-los mais profundamente e, assim, apreciar mais o valor d’Aquele de Quem se pôde dizer: “Quando a Sua alma se puser por expiação do pecado” (Is 53:10).

W. J. Prost

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