Origem: Revista O Cristão – Opinião versus Verdade
Opinião versus Verdade
Frequentei a Universidade de Toronto durante a década de 1960 e, todas as semanas, uma edição do jornal estudantil chamado “The Varsity” era publicada. Ainda está em circulação, e sempre foi um jornal independente, publicado totalmente por estudantes da Universidade de Toronto desde 1880. Durante meus dias de estudante, lembro-me de notar que quase sempre havia uma citação no topo da primeira página, relacionada às nossas opiniões. Uma delas era assim: “Permitam-se ser culpados, presos, condenados – sejam enforcados – mas publiquem suas opiniões”. E outra: “Publique suas opiniões; não é apenas um direito: É uma obrigação”.
Sessenta anos depois, vemos perguntas na Internet como: “Existem plataformas onde posso escrever minha opinião?”. Ou alguém pergunta: “Como faço para publicar meu artigo de opinião?” Voltando alguns anos, muito antes da Internet, um ato do parlamento na Inglaterra em 1872 instituiu a “esquina dos oradores” no Hyde Park para estar disponível das 18h00 às 22h00, às quartas e domingos, para qualquer pessoa falar publicamente sobre qualquer assunto. De uma forma mais ampla, agora temos um grande número de influenciadores de mídia social que, por causa de seu suposto conhecimento e experiência em várias áreas, são capazes de criar grande número de seguidores que ouvem suas opiniões. Eles dão conselhos sobre como criar filhos, administrar finanças, perder peso e praticamente qualquer outra coisa que possa atrair seu interesse. Todas são suas próprias opiniões, é claro! No momento, grandes protestos públicos estão sendo realizados nas principais cidades do mundo, onde as pessoas que se sentem fortes sobre um determinado ponto de vista estão fazendo suas vozes serem ouvidas. A maioria desses protestos diz respeito ao conflito entre Israel e Palestina, em Gaza. Antes dos meios modernos de comunicação, era mais difícil espalhar amplamente os pensamentos, mas ao longo da história do homem, as pessoas sempre quiseram dar a conhecer suas opiniões.
Propósitos dos “influenciadores”
Para muitos dos chamados “influenciadores” de hoje, devemos admitir que esta seja provavelmente uma “viagem do ego” para eles, embora possam dar bons conselhos. No entanto, esses conselhos podem estar misturados com um desejo de ganho pessoal, ou podem abraçar alguma ideia particular que o influenciador deseja impor à sociedade, a fim de (esperançosamente) mudar a opinião pública. As perguntas que surgem com frequência são: “Posso ouvir com segurança este conselho ou é suspeito?” “Este indivíduo é confiável e me diz a verdade?” Ou “a verdade está sendo distorcida por segundas intenções?” Na mídia, todos estamos familiarizados com as chamadas “notícias falsas” e com a distorção da verdade por aqueles que inclinam suas reportagens enfatizando certos detalhes enquanto omitem outros. Como indivíduos que vivem em um mundo confuso, enfrentamos essas questões constantemente, mas como Cristãos também devemos decidir a quem ouvir, e especialmente em questões morais e espirituais. A Internet está cheia de sites que prometem ensino bíblico, mas obviamente nem todos são confiáveis.
O título deste artigo é “Opinião versus Verdade”, e me lembro de um ditado frequente de um irmão mais velho, agora com o Senhor. Ele disse: “Sempre que você diz ‘eu penso’ sobre qualquer assunto moral ou espiritual, você pensa errado, a menos que seu pensamento seja fundamentado na Palavra de Deus”. Esta é uma boa declaração, pois o Senhor Jesus poderia dizer: “Santifica-os na (Tua – KJV) verdade: A Tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17). A Palavra de Deus nos dá a verdade absoluta sobre questões morais e espirituais, e todas as opiniões sobre esses assuntos devem estar sujeitas à luz da Palavra de Deus. Deve ser nosso desejo nos tornarmos tão familiarizados com a Palavra de Deus que, sempre que uma questão moral é enfrentada, imediatamente pensamos: “O que a Bíblia diz sobre isso?”
Uma maneira de contornar a verdade
Mesmo que saibamos o que a Escritura diz, é fácil racionalizar nosso caminho e dizer: “Sim, eu sei que a Bíblia diz isso, mas minhas circunstâncias são diferentes e, portanto, essa passagem não se aplica a mim”. Devemos lembrar que nunca somos mais sábios do que a Escritura. A Palavra de Deus é para todos os tempos, para todas as culturas e para todas as circunstâncias. É uma coisa maravilhosa tê-la em nossas mãos, saber que ela é a verdade, e sempre nos aponta para Cristo, que é a verdade.
No entanto, há aqueles que usam a Palavra de Deus e, ainda assim, corrompem a verdade. A Escritura pode ser citada fora de contexto ou fora de equilíbrio com outras passagens. Paulo chama isso de “erro sistematizado” (Ef 4:14 – JND). Isso traz à tona o fato de que o Espírito de Deus é o Intérprete da Escritura e que há o que Paulo chama de “a unidade do Espírito”, à qual o Espírito de Deus procura levar cada Cristão, de acordo com a Palavra de Deus. Nossa mente natural pode querer agir em coisas espirituais, e então nossas vontades podem ser envolvidas, de modo que distorcemos o significado da Palavra de Deus. É somente pelo Espírito de Deus que podemos interpretar a Escritura de maneira correta e equilibrada.
O lugar certo para opiniões
Tudo isso, então, talvez leve a uma pergunta: “As opiniões em questões morais e espirituais estão sempre fora de lugar?” Não, pois a própria Bíblia registra aqueles cujas opiniões eram valiosas e dignas de serem ouvidas. Citaremos dois exemplos.
Quando Davi era rei, ele tinha um conselheiro chamado Aitofel. Está registrado que “era o conselho de Aitofel… como se a Palavra de Deus se consultara” (2 Sm 16:23). Observe que não é dito que ele havia perguntado a Deus, apenas diz que era “como se” ele tivesse feito isso. Ele tinha um dom incomum de olhar para as situações e dar bons conselhos. Nem sempre eles foram sobre uma questão moral e espiritual, e não eram um substituto para buscar conselho do Senhor, mas eram dignos da atenção de Davi.
No Novo Testamento, Deus achou por bem incluir em Sua Palavra a opinião do apóstolo Paulo, quando os coríntios lhe fizeram perguntas sobre o casamento. Paulo fala sobre “o meu parecer [a minha opinião – ARA]” (1 Co 7:25, 40), e a palavra “parecer” tem o pensamento de uma opinião. Como um homem piedoso e apóstolo, a opinião dele sobre um assunto era muito valiosa. Parte do que ele disse aos coríntios era do Senhor, enquanto parte era sua opinião ou parecer sobre um assunto.
Assim, a opinião de alguém que caminha com o Senhor e que talvez tenha experiência pode ser muito útil quando enfrentamos uma pergunta difícil. Mas o Senhor deve ser sempre o ponto de referência final. Sempre que recebemos conselhos, é bom levá-los ao Senhor e perguntar-Lhe se é um bom conselho. Apenas tenhamos cuidado para não rejeitar bons conselhos simplesmente porque não concordam com nossos próprios pensamentos.
A verdade vem de Deus
Resumindo, então, devemos lembrar que a verdade sobre tudo deve, em última análise, vir de Deus. Isso é especialmente verdadeiro em qualquer questão moral e espiritual. No entanto, o conselho de outras pessoas que estão preparadas para dá-lo pode ser muito valioso, e não devemos desprezá-lo. Às vezes, nossos próprios pensamentos podem substituir os pensamentos de Deus, e outro que olha para a situação pode ver mais claramente. Mas nunca busquemos o conselho de alguém simplesmente porque pensamos que ele ou ela concordará com o nosso ponto de vista. Em vez disso, procuremos alguém que ande com o Senhor e que conheça a Palavra de Deus.