Origem: Revista O Cristão – Oração
O Espírito Santo e a Oração
É necessário reconhecer a função ou ofício do Espírito Santo em oração. Considere a magnitude do fato de que o Espírito Santo desceu no Pentecostes e permanece conosco para sempre (Jo 14:16). Ele habita no crente individualmente (1 Co 6:19). Tal fato é imensamente importante. Descobrimos que o Espírito que habita em nós é nosso Instrutor e Guia na oração, e toda oração verdadeira é no Espírito. “Orando no Espírito Santo” (Jd 20). “Orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef 6:18).
A intercessão do Espírito
Quando Cristo estava com Seus discípulos, Ele os ensinou a orar. João também havia ensinado seus discípulos. Mas agora tudo isso mudou. Era conveniente para os discípulos que Cristo partisse para que o Espírito Santo viesse, e Ele estando aqui, toma o ofício de formar nossa mente e coração em oração. Verdadeiramente, não sabemos o que devemos orar como deveríamos, mas o próprio Espírito que habita em nós faz intercessão. As palavras “por nós” em Romanos 8:26[1] não estão nos melhores textos e apenas estragam o sentido. Eles dão a ideia de que o bendito Espírito e os santos são dois grupos distintos, e que o Espírito externamente intercede por nós. Este não é o sentido, como está claro nas próximas palavras – “E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos” (v. 27). Deus, que olha para o coração, vê o que o Espírito operou em nossos desejos e orações. Ele conhece a intercessão que o Espírito faz em favor dos santos e eles estão de acordo com Deus. A estrutura dessa Escritura (Rm 8:26-27) é notável. Quanto a nós mesmos, o Espírito é tão identificado conosco que Deus, ao buscar os corações, encontra aí a mente do Espírito, e isso é o que Ele graciosamente recolhe, e não as atividades da carne. Mas no que diz respeito a Deus – seja qual for a condescendência do Espírito para nós – o Espírito está em todo o Seu próprio poder e dignidade como uma Pessoa da Deidade, para pleitear pelos santos. Que solenidade, que valor divino, veste a oração dos santos, quando a forma em que eles vêm diante de Deus é aquela da intercessão pelo próprio Espírito! Do nosso lado a oração pode chegar a um gemido inarticulado, mas para Deus ela sobe no auge da própria intercessão do Espírito.
[1] N. do T.: A tradução de J. N. Darby traz: “o próprio Espírito faz intercessão com gemidos que não podem ser expressos”. ↑
Nosso Consolador em oração
A influência disso na oração é muito encorajadora. Aqui encontramos o Espírito Santo habitando em nós, graciosamente identificando-Se em terna empatia com nossa fraqueza. A Igreja que Cristo comprou com Seu próprio sangue é tão preciosa que o bendito Espírito tinha que vir morar aqui e cuidar dela. Estando aqui, Ele é nosso Paracleto, isto é, o Administrador de nossos afazeres. Ele Se opõe à carne em nós (Gl 5:17), ajuda em nossas fraquezas, condescende com nossa ignorância e entra em nossas tristezas com gemidos que não podem ser proferidos. Nós não pensamos o suficiente sobre a empatia do Espírito de Deus para conosco. Ele é Aquele outro Consolador [Paracleto] que, o Senhor disse que deveria O substituir na Terra. Jesus levou nossas dores e o Espírito ajuda em nossas fraquezas; Jesus gemeu no túmulo de Lázaro, e o Espírito intercede pelos santos com gemidos que não podem ser proferidos. Quão grande deve ser o interesse do Espírito Santo em nós quando Ele vem e habita em nós, não descontinuando Sua permanência, embora nossos caminhos tantas vezes O entristeça (Ef 4:30).
O Senhor, de fato, ensinou os discípulos a orar, e Ele o fez perfeitamente. Mas Ele agora renunciou o ofício de Intercessor na Terra em favor do Espírito Santo, para cuja orientação, portanto, estamos comprometidos. Procuremos estar “orando no Espírito Santo” – sabendo que o Espírito entra com total empatia em todas as nossas fraquezas e em todas as nossas circunstâncias, e nos dará desejos, sentimentos e expressões apropriados a toda experiência, seja feliz ou triste, por meio do qual a alma pode passar. Nós temos o próprio Espírito Santo agora, para compor nossas orações.
Confiança na oração
“E esta é a confiança que temos n’Ele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos” (1 Jo 5:14-15). Sabemos que o poder formativo no coração, as palavras de Cristo habitando ali e um coração correto e não condenável com confiança em Deus são as condições da oração bem-sucedida. Nos presentes versículos, tudo isso é presumido. Supõe-se que estamos pedindo de acordo com a Sua vontade, e o que temos aqui é que, pedindo assim, Deus sempre nos ouve. Ele não é como o homem, frequentemente ocupado a ponto de não poder ouvir, ou descuidado, a ponto de não ouvir. É uma coisa preciosa e maravilhosa para a criatura – o homem –, apesar da queda, ser tão restaurado à harmonia moral com Deus a ponto de, sob a orientação do Espírito, poder pedir de acordo com Sua vontade onisciente. Certamente esta é uma prova do desejo de Deus de que o homem desfrute da comunhão com Ele mesmo. Que possamos valorizar este privilégio como deveríamos!
A oração quando não conhecemos a mente de Deus
Nosso espírito nem sempre está nesse nível, e Romanos 8:26-28 reconhece isso. Não sabemos sobre o que orar como deveríamos, mas o Espírito ajuda em nossas fraquezas. E aquele que sonda nosso coração sabe como ajuntar tudo o que é do Seu próprio Espírito naqueles corações. Quanto ao resultado, “sabemos” que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. E isso dá paz, quer nossos pedidos sejam concedidos ou não. Portanto, não devemos refrear a oração porque não estamos no plano mais elevado da comunhão. Pelo contrário, é nosso privilégio – em tudo – deixar que nossos pedidos sejam tornados conhecidos perante Deus (Fp 4:6). Um exemplo instrutivo disso é a oração de Paulo sobre o espinho na carne (2 Co 12:8-9). Por isso ele suplicou ao Senhor que o espinho fosse retirado dele. Mas sua oração não estava de acordo com a mente de Deus, pois Ele tinha algo melhor reservado para Paulo, o qual Paulo teria perdido se seu pedido fosse concedido.
O crente pode, como um castigo, receber aquilo que, ininterruptamente, ele clama, mas o resultado não será felicidade. Nós lemos: “E Ele satisfez-lhes o desejo, mas fez definhar a sua alma” (Sl 106:15). Apresentar nossos pedidos, com submissão, é, no entanto, sempre nosso privilégio. O exemplo de Paulo mostra isso. Ele suplicou ao Senhor por seu desejo não apenas uma vez, mas três vezes. Em resultado, tal submissão foi formada em sua alma, e finalmente ele teve prazer nas próprias fraquezas que ele antes implorava ao Senhor para remover. Agora, um coração descontente e insubmisso pode censurar a Deus por não responder às suas orações, mas no retrospecto da eternidade, quanta causa de louvor pode ser descoberta nos pedidos que nosso gracioso Deus agora Se recusa a conceder.
de Practical Remarks on Prayer
