Origem: Revista O Cristão – Oração
Oração
Considerando algumas palavras sobre o verdadeiro caráter da oração, diria que, quanto mais simples agirmos de acordo com os preceitos e exortações divinos será melhor, pois eles são frutos da absoluta sabedoria divina, que conhece a perfeição divina e os desejos humanos.
A resposta para a oração me parece ser o executar de ações divinas em poder, a partir do que fluiu da sabedoria divina, formando desejos e vontades na alma. Isso se conecta com o amor e se conecta com a confiança que a fé expressa. Portanto, se a oração é apenas para que algo seja consumido com deleites, ela não é respondida (Tg 4:3); se estiver no Espírito e na oração de fé, é respondida de acordo com a solicitação. Assim, também, ela está conectado ao estado moral da alma – a entrada nos pensamentos de Deus e o que Seu amor nos faria desejar, movidos por esse amor. Cristo, perfeito nisso, podia dizer: “Eu bem sei que sempre Me ouves”, exceto na expiação, onde, no entanto, como resultado, Ele foi ainda mais gloriosamente ouvido.
Pensamentos confusos
Muitas vezes estamos confusos em nossos pensamentos; há coisas que nos pressionam como seres humanos aqui embaixo, e nós nos lançamos no amor e temos certeza de que seremos atendidos em amor, embora a resposta possa ser outra que não procuramos. Mas Deus atende à intenção moral da oração – a que Seu Espírito produziu – embora o pedido confiante, no qual a sabedoria falhou, possa não ser realizado. Mas o que desce para nós é sempre o que subiu para Deus, como operado em nós pela sabedoria de Deus, e a confiança operada em nós por habitar em amor; portanto, nossas orações devem fluir do que é imediatamente tirado de Cristo estando no coração pela fé – identidade de interesse com Ele no segredo do Senhor conosco. Mas pode haver a percepção, por meio da apreensão espiritual da santa bondade de Deus, da necessidade de acordo com ela e do desejo de coração em relação a ela, e ainda não haver o entendimento da maneira divina de atender à necessidade. Este é o caso em Romanos 8:26-27 “E Aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do espírito; e é Ele que segundo Deus intercede pelos santos”.
Graça para as circunstâncias
A graça desce e opera por meio das circunstâncias, embora possa não haver remédio para as circunstâncias. Mas há uma vontade, um desejo segundo Deus; o Espírito Santo está lá.
Então, também, “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”; a fé percebe a intenção de Deus; portanto, no conhecimento de Sua vontade, sabe que tem as petições, e essa confiança no ouvido e no braço de Deus é sempre alcançada. A graça desce e toma seu lugar em Cristo e na fé por meio d’Ele, nas necessidades dos homens e santos aqui embaixo, e em Cristo, de acordo com a sabedoria e a mente de Deus, e produz perfeita confiança em Seu amor e na atividade desse amor. O mesmo aconteceu em Cristo; Ele foi a perfeição nisso aqui embaixo, enquanto nós, apenas de acordo com a medida em que entramos em Sua mente.
Confiança na oração
Mas o grande princípio geral é que o que desceu às nossas necessidades em sabedoria, sobe e é respondido em poder, mas essa descida está em graça em Cristo, para que seja imediatamente conectada ao amor divino, e a confiança da fé expressa isso. O grande segredo é estar com Deus. Se Deus confia Seus pensamentos a cargo de alguém, e assim ele é um profeta, então seguem-se as ações. Deus não deixa cair por terra Suas palavras, e no caso de profetas, o que é falado com autoridade, é sempre em espírito de oração, como é habitual, como Tiago nos ensina falando de Elias a respeito da fome e toda a história apresentada com autoridade. Também, o próprio Senhor, no caso de Lázaro. Mas que lugar isso dá à oração – relação dependente com Deus em graça, por ter sido admitida em Seus interesses. E porque Ele assumiu todos os nossos interesses em Seu próprio amor, ainda que encorajados a apresentar toda a nossa vontade como uma criança, temos perfeita confiança n’Ele.
A sabedoria divina, agindo no meio deste mundo, em amor, procura o exercício do poder divino. Não é simplesmente a sabedoria divina, mas como o próprio Cristo, a sabedoria divina se exercitando no meio do mal; então, como vimos, nela se produz dependência e confiança, onde a vontade divina é conhecida com certeza de resposta. O poder divino está à nossa disposição, e quando não está, é a expressão de uma necessidade submissa a essa vontade e confiante no amor divino que dá paz.
As leis da natureza
Não vejo dificuldade em Deus responder à oração relacionada às leis gerais, se admitirmos que Deus é livre para agir em Seu próprio mundo, tão livre quanto eu. Altero as leis físicas gerais quando vou, a pedido, visitar uma pessoa doente? Minha vontade age sobre e por essas leis físicas; a gravidade está na Terra, a força nos meus músculos, a eletricidade nos nervos que os colocam em movimento, no entanto eu, do meu modo pobre, respondi a uma oração. Agora reconheço plenamente mais poder em Deus, porque Ele pode mudar Suas leis, mas sem introduzir um único elemento novo, ou lei que o governe. As leis permanecem as mesmas; Sua vontade interfere para se elevar acima delas. Mas não falo de milagres, que ocorrem quando Ele muda uma lei, mas de quando Ele trabalha por meio destas leis – de efeitos particulares de Sua vontade. Isto pode ser milagroso, como quando um forte vento leste agia no mar, e outro levava gafanhotos, ou trazia codornas, mas Ele pode dar atividade ou quantidade especial a agentes que agem de acordo com as leis regularmente. Tenho certeza de que, de qualquer forma, Ele ouve e responde à oração. A própria ação da mente na estrutura do homem é tão maravilhosa, que tais resultados podem ser produzidos; e certamente a própria mente de Deus, quanto às circunstâncias externas, pode fazer muito mais. Leis que limitam a natureza, eu admito; leis que limitam a Deus eu não admito.
Uma parte instrumental de Deus
As dificuldades, quanto à oração para mudar a mente de Deus, que às vezes confundem uma alma sincera e são comuns aos infiéis, são, penso eu, erradas. Quanto ao efeito brilhante da oração em nossa alma, é exatamente o mesmo princípio que age com os incrédulos. No momento em que acredito que Deus realiza a verdadeira obra Ele próprio, Deus não apenas nos dá bênçãos com Ele próprio, mas também nos dá uma parte na outra parte de Sua bem-aventurança – ajudando a abençoar os outros. Eu prego, e o homem recebe a vida eterna; todavia, é inteiramente obra de Deus, não minha. Deus graciosamente me dá uma parte instrumental, mas como reconhecendo toda a dependência d’Ele nela. Essa dependência é mais percebida na oração; Deus faz a obra, mas eu estou mais diretamente familiarizado com Ele, e Ele age como fez na pregação. Além disso, tenho mais em comum com Deus em oração; alcanço casos mais difíceis e distantes, o poder de Satanás, o mundo e todos os obstáculos às almas que, de outra forma, não posso alcançar. Há mais intimidade, interesses comuns com Deus, embora na dependência d’Ele e em uma esfera mais ampla do que na pregação.
Aplica-se, também, a toda ação que podemos buscar da parte de Deus, até nossas próprias necessidades; apenas que, podemos não receber o que pedimos quando o amor não nos dá aquilo que pedimos.