Origem: Revista O Cristão – Edificando Sabiamente

Ordem e Desordem Mundial Revisitadas

Em uma edição recente da revista O Cristão (fevereiro de 2023), comentei o conceito de ordem mundial e como ela está sendo corroída pelos eventos dos últimos anos. Usando citações de vários autores de hoje, apontei que a chamada “ordem mundial” dos últimos 75 anos corria o risco de ser seriamente perturbada por eventos como a pandemia da Covid, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e pela ascensão da China como superpotência mundial. Eu também citei um proeminente jornal canadense, onde o autor enfatizou que a condição padrão do mundo é de desordem, em vez de ordem. Ele apontou que, “a ordem deve ser infinitamente reconstruída… [em] um mundo hostil que está incansavelmente trabalhando para desfazer nossos esforços”.

Qualquer um que olhe para a atual situação mundial com uma mente sensata e honesta admitirá que a ordem mundial está de fato dando lugar à desordem, tanto no nível individual quanto no governamental. Podemos ser gratos, de fato, pela medida de estabilidade que existe, mas ela está sendo rapidamente varrida.

Enquanto escrevo isso em março de 2023, ocorreu um evento há alguns dias que incide sobre esse assunto e talvez mereça um comentário. O presidente chinês, Xi Jinping, fez uma visita de Estado à Rússia por vários dias, e tanto ele quanto o presidente russo, Vladimir Putin, tiveram longas discussões sobre o relacionamento entre os dois países. A visita foi assistida com a pompa e cerimônia habituais, e depois de assinarem documentos relativos à sua cooperação pretendida com o outro, ambos os homens emitiram declarações públicas sobre o sucesso da visita. Suas declarações mostraram claramente que ambos os países pretendem trabalhar juntos para promover seus respectivos interesses econômicos e militares, mas o mais importante talvez tenha sido uma declaração de Xi Jinping. Ele é citado como tendo dito: “Não importa como o cenário internacional possa mudar, a China permanecerá comprometida com o avanço da abrangente parceria estratégica de coordenação China-Rússia para a nova era”. Considerando outras declarações que foram feitas, tanto recentemente quanto no passado, fica claro que a Rússia e a China pretendem trabalhar juntas em direção a uma nova ordem mundial que diminuirá a influência do Ocidente e, em vez disso, enfatizará as políticas e as perspectivas dos estados totalitários.

Preparando o cenário 

Tem-se assinalado muitas vezes que é perigoso tentar interpretar a profecia à luz dos acontecimentos deste dia da graça de Deus, pois a Igreja, como companhia celestial, não é objeto de profecia. Como a profecia diz respeito à Terra, o período da Igreja é deixado de fora do cálculo do tempo profético. No entanto, como estamos tão perto da vinda do Senhor, não é errado olhar para fora e ver Deus “preparando o cenário” para eventos que ocorrerão depois que a Igreja for chamada para o lar. Podemos muito bem nos perguntar: Será que a Rússia e a China serão capazes de efetuar essa “nova era” que eles imaginam? Embora eles possam ter algum efeito sobre o mundo a curto prazo, ainda é claro a partir da profecia que durante o período da tribulação, a besta romana, como chefe da confederação ocidental, dominará a cena. Seu poder será tal que “toda a Terra” se maravilhará com ele e dirá: “Quem poderá batalhar contra ela?” (Ap 13:3-4). É bem possível que o acordo entre a Rússia e a China leve o Ocidente, e especialmente a Europa, a se unir em oposição a eles. As disputas internas serão esquecidas em seus esforços para sua união contra inimigos comuns. Isso já aconteceu em grande medida, alimentado tanto pela pandemia da Covid quanto pela guerra Rússia-Ucrânia.

Sabemos que, no tempo do fim, a Rússia certamente será uma força a ser considerada, mas é claro que eles não descerão à terra de Israel para “arrebatar a presa” (Ez 38:12) até que a besta e seus exércitos, e também o rei do norte, tenham sido destruídos pelo Senhor. Não se diz muito especificamente sobre a China na profecia, mas eles estarão envolvidos no tempo do fim, pois lemos em Apocalipse 16:12 que “a sua água (do rio Eufrates) secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente”. Na questão do governo totalitário versus democracia, parece que no fim não haverá necessidade de a China e a Rússia tentarem forçar essa questão, pois, apesar da existência de governos democráticos na maioria dos países ocidentais, é claro que a besta romana será um governante despótico. Embora possa haver oposição à sua ascensão ao poder, ainda vemos na Escritura que, a respeito dos vários reinos sob Seu controle, “Deus tem posto em seu coração que cumpram o Seu intento, e tenham uma mesma ideia, e que deem à besta o seu reino” (Ap 17:17). No entanto, essa transição para o regime totalitário não será sem luta e, evidentemente, não será completa.

A imagem de Nabucodonosor 

Na imagem que Nabucodonosor viu em seu sonho (Dn 2:31-35), lemos que os pés e os dedos dos pés eram “parte de barro de oleiro e em parte de ferro” (v. 41). O ferro tem sido muitas vezes comparado ao regime totalitário, enquanto o barro pode representar uma forma democrática de governo. Esses dois não se misturam e, embora possa parecer haver prós e contras para ambos, sabemos, pela Escritura, que Deus usa formas totalitárias de governo. Historicamente, muitos governos autoritários foram liderados por homens perversos que oprimiram o povo, enquanto eles próprios viviam em luxo. No século 20, o mundo testemunhou a terrível baixa de vidas humanas que resultou da ação de ditadores como Stalin, Hitler, Mao Tse Tung, Pol Pot, Nicolae Ceausescu e outros. A mesma tradição está sendo levada adiante por homens como Vladimir Putin hoje.

Embora a democracia tenha aparentado funcionar por um tempo, está ficando cada vez mais claro que ela só funciona quando a liberdade de escolha que ela oferece tem como resultado os serviços e sacrifícios que decido fazer por mim mesmo. À medida que a moralidade declina, a democracia é incapaz de lidar com os resultados desastrosos. Se a nossa interpretação do significado do ferro e do barro estiver correta, então é evidente que a luta entre democracia e totalitarismo ocorrerá dentro do Império Romano revivido. Assim, o reino da besta romana, embora forte, não terá a coesão e a força do antigo Império Romano. Como diz a Escritura, “por uma parte o reino será forte e por outra será frágil” (Dn 2:42). No entanto, ele não será vencido nem pela Rússia nem pela China. Pelo contrário, ele será destruído pelo próprio Senhor, assim como também a Rússia será destruída no fim.

A vinda do Reino de Cristo 

Como aqueles que conhecem o Senhor Jesus como Salvador, podemos descansar na plena certeza de que Ele logo terá o Seu lugar de direito. Todo o governo puramente do homem desaparecerá, pois naquele glorioso reino milenar, “o principado [governo – ARA] estará sobre os Seus ombros” (Is 9:6). Ele tomará Seu lugar como Rei, e o mundo experimentará o primeiro governo realmente justo em sua história. Será um governo totalitário, mas com Cristo como o Cabeça, será justo e reto. Será caracterizado por uma “vara de ferro”, mas uma versão melhor diz que “Ele os pastoreará com uma vara de ferro” (Ap 19:15 – JND). Todo o poder justo do ferro será exercido com o cuidado e a ternura de um pastor.

Como cidadãos celestiais, podemos “vigiar do lado de fora”, por assim dizer, e ver o cenário sendo preparado para a realização dos planos de Deus. O homem pode executar várias manobras para tentar estabilizar este mundo, e várias alianças podem ser formadas para apoiar um tipo de ordem mundial sobre outra. No entanto, no final, os propósitos de Deus serão cumpridos, e todo o resto cairá por terra. Podemos continuar em paz, como diz o hino:

Por meio das cenas de lutas e do deserto na vida,
Trilhamos nosso caminho em paz. (J. N. Darby)

W. J. Prost

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