Origem: Revista O Cristão – Orgulho e Humildade
O Caráter e a Energia do Cristão
Filipenses 2 nos dá o caráter Cristão, ou como homens falam, a graça Cristã; o capítulo 3 nos dá a energia que eleva o Cristão acima das coisas do presente. O capítulo 2 fala de Cristo descendo e Se humilhando; e o capítulo 3 fala d’Ele no alto, e do prêmio de nossa vocação celestial.
Um pouco de cuidadosa atenção mostrará que o capítulo 2 apresenta os graciosos frutos conectados com o estudo de coração sobre a humilhação do bendito Senhor e a absorção do espírito dessa humilhação. O capítulo 3 dá a imagem daquela energia abençoada que considera o mundo como escória, vence no caminho e aguarda o tempo em que o poder do Senhor terá subjugado até o poder da morte em nós e todos os seus efeitos, e nos transformará em glória. Precisamos desses dois princípios e dos motivos relacionados a eles. Podemos ver muito da energia do Cristianismo em um crente e nos regozijarmos com isso, enquanto outro exibe muita graciosidade em seu caráter, mas nenhuma energia que vença o mundo. Onde a carne, ou mera energia natural, se mistura em nosso caminho com a energia divina, o caminho do crente sincero e devoto requer ser corrigido pelo primeiro – mais comunhão interior e semelhança graciosa com Cristo, mais se alimentar do Pão que desceu do céu. Além de exibir Cristo, daria peso e seriedade à sua atividade – tornando-a mais real e divina. Por outro lado, aquele que mantém um comportamento gracioso e julga, talvez, o que vê como sendo carnal na energia de outro, falha ele próprio nessa energia e lança uma ofensa sobre aquilo que é realmente de Deus em seu irmão.
Graça e devoção
Ah, se soubéssemos como nos julgar um pouco a nós mesmos e sermos completos em nosso caminho Cristão, se tivéssemos proximidade com Cristo o suficiente para atrair d’Ele toda graça e toda devoção e para corrigir em nós mesmos o que quer que tente estragar um ou o outro! Não que eu espere que todos os Cristãos tenham sempre todas as mesmas qualidades. Eu não acho que é a mente de Deus que eles devam ter. Eles devem se manter humildemente em seus lugares. O olho não pode dizer à mão, não tenho necessidade de ti, nem a mão aos pés. A completude está em Cristo somente. Dependência mútua e completa um do outro sob Sua graça é a ordem do Seu corpo. É difícil para algumas mentes ativas pensar assim, mas é a verdadeira humildade e contentamento não ser nada e servir e estimar os outros mais excelentes que nós mesmos. Eles têm aquilo em que somos deficientes. Nossa parte é fazer o que o Senhor nos propôs a fazer, servir e contar com Ele para tudo, pois na verdade Ele o faz, e ficar contente em ser nada quando temos feito em silêncio a Sua vontade, para que Ele seja tudo.
A humilhação de Cristo
O capítulo 2 nos traz a humilhação de Cristo, mas o modo como é apresentada é muito belo. Os filipenses, que já no início da história do evangelho mostravam graça a esse respeito, haviam pensado em Paulo em sua prisão distante e Epafrodito que, dando efeito ao seu amor e cheio de zelo gracioso, não considerou sua vida para realizar este serviço e ministrar às necessidades do apóstolo. O apóstolo faz um uso comovente desse amor dos filipenses, enquanto o reconhecia como um refrigério da parte de Cristo. Ele havia encontrado “conforto em Cristo… consolação de amor… comunhão no Espírito… entranháveis afetos e compaixões” no renovado testemunho do afeto dos filipenses. Seu coração foi atraído também para eles. Se eles o fizessem perfeitamente feliz, eles deveriam estar completamente unidos e felizes entre si mesmos. Quão graciosamente e com que delicadeza ele se volta para notar suas falhas e perigos aqui em associação com suas expressões de amor para com ele! Quão calculado para ganhar e fazer quaisquer Evódia e Síntique envergonharem-se de disputas onde a graça está assim em ação! Então ele fala dos meios para andar neste espírito. Todos devem pensar nos dons e vantagens espirituais de seu irmão, assim como dos seus. Para fazer isso, ele deve ter a mente que havia em Cristo. Isso nos leva ao grande princípio do capítulo.
O primeiro Adão
Cristo é apresentado em total contraste com o primeiro Adão. O primeiro homem se colocou em posição para ser igual a Deus: “Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:5). Como resultado, ele se tornou desobediente até a morte. Mas o Bendito, sendo em forma de Deus, não o teve por usurpação, e na forma de um servo foi obediente até a morte. Ele era realmente Deus, como Adão era realmente homem, mas o ponto aqui é observar a condição e o status de cada um, respectivamente, e um veio em ambição e Outro em graça. Cristo era verdadeiramente Deus mesmo quando Ele tomou a forma de um homem, mas Ele tomou a forma de um servo e também era realmente um Homem e um Servo em graça. Cristo em amor Se humilhou, enquanto Adão por egoísmo buscou ser exaltado. Cristo foi exaltado como Homem, enquanto Adão foi rebaixado com tal. Não foi meramente que Cristo suportou pacientemente os insultos dos homens, mas Se humilhou a Si mesmo. Isso era amor. Havia dois grandes passos nisso. Sendo na forma de Deus, Ele tomou a forma de homem, e como Homem Ele Se humilhou a Si mesmo e foi obediente até a morte, e isto, a morte da cruz. Essa é a mente que deve estar em nós – o amor se tornando em nada para servir aos outros. O amor se deleita em servir, o ego gosta de ser servido. Assim, a verdadeira glória de um caráter divino está na humildade, enquanto o orgulho humano se mostra no egoísmo. Quando a primeira está em nós, desenvolvem-se afetos e devoção graciosos e contando com afeições graciosas que em outros são desenvolvidas, uma fonte de genuíno gozo e bênção para a Igreja.
Amor que se sacrifica a si mesmo
Graciosas afeições fluem dessa humildade, na qual o “eu” desaparece pelo amor. “E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós”. Ele faz da fé dos filipenses a principal coisa – era a oferta a Deus. Sua parte era apenas suplementar em relação a isso, embora fosse para a morte. Pois os filipenses eram de Cristo, o fruto do trabalho da alma de Cristo, a coroa de Cristo e gozo como Redentor. Então o apóstolo os viu e se alegrou neles. Seu serviço havia ministrado para isso. Se seu serviço continuasse e ele abrisse mão de sua vida, ele se regozijaria nisso, tanto mais evidentemente o amor abnegado, pois o amor se deleita nisso. E eles, por esta razão, deveriam se regozijar com ele, pois era realmente sua glória, assim, entregar-se por Cristo.
Vestido com Seu caráter
Se olharmos para nós mesmos, nunca poderíamos falar em nos humilhar, pois não somos nada. Mas praticamente em Cristo, a mente que estava n’Ele deve estar em nós, e na graça temos que nos humilhar, ter a mente que estava n’Ele, terminar com o nosso “eu” e servir. Então esses amáveis frutos da graça fluirão sem impedimentos, qualquer que seja o estado da Cristandade ao nosso redor. Devemos operar nossa própria salvação com temor e tremor em meio aos perigos espirituais da vida Cristã, evitando pretensões de grandeza e distinções espirituais. Deus trabalha em nós e isso dá a noção da seriedade e realidade do conflito em que estamos engajados; obediência, a coisa mais humilde de todas, pois não há vontade nela, caracterizando nosso caminho, buscaremos a mente de Cristo e seremos revestidos de Seu caráter. Bendito privilégio! Sejamos mais zelosos em mantê-lo do que nossos direitos humanos e importância, e as benditas graças do amor celestial fluirão e manterão juntos os corações dos santos, em um amor que tem primariamente Cristo por seu objetivo. Em tal estado, é fácil considerar os outros melhores do que a nós mesmos. Como Paulo viu o valor dos filipenses para Cristo, ele apenas se ofereceu pela fé deles. Isso se torna fácil, porque quando estamos perto de Cristo, vemos o valor dos outros para Ele e n’Ele, e vemos nosso próprio nada, talvez também nossas próprias falhas no amor.
Adaptado de The Girdle of Truth
