Origem: Revista O Cristão – Os Ouvidos
Os Ouvidos do Senhor
Há três passagens na Escritura que se referem aos ouvidos e que revelam, à nossa alma, o coração de nosso bendito Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Os ouvidos abertos para ouvir
“Sacrifício e oferta não quiseste; os Meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então Eu disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de Mim: Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração” (Sl 40:6-8).
Os ouvidos são os órgãos pelos quais recebemos instrução. Eles simbolizam a posição do homem diante de Deus em sua responsabilidade de ser obediente. Quando Deus formou o homem do pó da terra, Ele formou (cavou) nele os ouvidos como sendo os órgãos ouvintes de seu corpo. (Um escultor com seu martelo e cinzel faz isso no mármore.) Adão, porém, se fez como surdo [não deu a devida importância] às instruções de Deus e tornou-se desobediente. Ouvidos que ouvem, no entanto, recebem instruções e obedecem. “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rm 10:17).
Aqueles sacrifícios de animais no Velho Testamento e várias outras ofertas nunca poderiam glorificar a Deus em relação ao pecado. Havia Um, no entanto, que “era cada dia as Suas delícias, alegrando-Me perante Ele em todo o tempo” (Pv 8:30 – ACF). “Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não Te agradaram. Então, disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade” (Hb 10:5-7). A Septuaginta, a tradução grega do Velho Testamento, de onde a citação do Senhor foi tirada, dá o verdadeiro sentido dos ouvidos sendo abertos, ou escavados, no Salmo 40 – isto é, Se tornando um Homem diante de Deus, para Quem a obediência é o único caminho correto.
Esta, então, é a encarnação do Filho de Deus, sobre Quem lemos em Filipenses 2:5-8: “Cristo Jesus que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-Se [esvaziou-Se – JND] a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” E assim, referindo-se aos “dias da Sua carne”, diz-se que, “ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu” (Hb 5:7-8). Ele era o Homem perfeitamente dependente e obediente. Nunca houve outro como Ele. O cumprimento da vontade de Seu Pai era tudo para Ele. Ele preferiu morrer a deixar de fazer isso em qualquer aspecto. “O Qual, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-Se à destra do trono de Deus” (Hb 12:2).
Os ouvidos abertos para obedecer
“O SENHOR Deus Me abriu os ouvidos, e Eu não fui rebelde, não Me retraí. Ofereci as costas aos que Me feriam e as faces, aos que Me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que Me afrontavam e Me cuspiam” (Is 50:5-6 – ARA).
Tendo observado o caráter da vinda de Cristo a este mundo e com a cruz em vista, agora vemos o caráter de Seu caminhar pelo mundo. No contexto do versículo acima, Seus ouvidos são abertos momento a momento à medida que caminhava, para que Ele possa conhecer a vontade do Pai quanto ao Seu serviço. Ele diz: “Porque Eu desci do céu não para fazer a Minha vontade, mas a vontade d’Aquele que Me enviou” (Jo 6:38).
Ele ainda diz: “O Senhor JEOVÁ Me deu uma língua erudita, para que Eu saiba dizer, a seu tempo, uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-Me todas as manhãs, desperta-Me o ouvido para que ouça como aqueles que aprendem” (Is 50:4). Ele, com toda a humildade, serviria as necessidades de todos os que Ele encontrasse, mas como guiado pelo Pai. Ele veio não para ser servido, mas para servir, e para dar a Sua vida em resgate de muitos. Ele nunca deu um passo ou disse uma palavra sem primeiro receber instruções de Seu Pai. “Porque Eu não tenho falado de Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o Seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai Mo tem dito” (Jo 12:49-50). Ao servir aos cansados em suas necessidades, Ele o fez em perfeita dependência e obediência.
Não só vemos o Senhor como o Servo perfeito aqui, mas também contemplamos Sua perfeita confiança em Seu Deus. “O Senhor Jeová, porém, Me ajudará; pelo que não Me sinto confundido, e por este motivo pus o Meu rosto como uma pederneira [pedra], e sei que não serei envergonhado” (Is 50:7 – TB). Mesmo com a sombra da cruz diante de Sua alma, lemos: “oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que O podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia” (Hb 5:7). E outra vez O ouvimos dizer: “O SENHOR, tenho-O sempre à Minha presença; estando Ele à Minha direita, não serei abalado. Alegra-se, pois, o Meu coração, e o Meu espírito exulta; até o Meu corpo repousará seguro. Pois não deixarás a Minha alma na morte [no Sheol – JND], nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção. Tu Me farás ver os caminhos da vida” (Sl 16:8-11 – ARA).
Essa é a dependência contínua da orientação do Pai para cada passo – para cada palavra. Ele sempre foi o Homem de fé, o Dependente e Obediente, e o Servo perfeito.
Os ouvidos devotados para servir
“Mas, se aquele servo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e a meus filhos, não quero sair forro [livre – ACF]. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre” (Êx 21:5-6).
Aqui vemos um servo hebreu cujo tempo de serviço está terminado, mas que, por amar seu senhor, sua esposa e seus filhos, não sairá livre. Ele apresenta claramente seu propósito, em seguida, sua orelha é furada com uma sovela, como uma marca de servidão perpétua.
Quão maravilhosamente isso retrata o coração e o caminho do nosso bendito Senhor e Salvador! Nós O ouvimos dizer a Seu Pai: “Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer” (Jo 17:4). Quando Seu ministério público aqui acabou, o Senhor poderia ter retornado à glória com toda a honra. Ele não faria isso, no entanto, sem primeiro completar aquela obra do Calvário, que tão infinitamente glorificou a Deus Seu Pai. E se Ele não tivesse completado aquela obra, Ele teria que voltar sem assegurar para Si uma noiva celestial e uma família para Deus. Não, Seu amor por Seu Pai e Seu amor por Seu povo O mantiveram aqui até que tudo tivesse sido feito. Ele declararia Seus desejos e Se colocaria sob o julgamento de Deus para a glória de Deus e nossa bênção.
Assim, Seus ouvidos foram abertos (um corpo preparado para Ele) para fazer a vontade do Pai em tudo, mas especialmente no que diz respeito à obra do Calvário. Além disso, Seus ouvidos foram abertos para receber instruções com relação a ministrar as necessidades daqueles cansados que Ele encontraria em Seu caminho aqui embaixo. E, finalmente, Sua orelha estava furada, comprometendo-Se com a devoção ao serviço de Seu Pai e àqueles que são Seus agora e para sempre.
Agora, a Palavra para cada um de nós é: “Quem tem ouvidos, ouça” (Ap 3:13). E também nos é dito: “Vede, pois, como ouvis” (Lc 8:18). Em nosso serviço, então, seja para Deus ou para o homem, que possamos estar atentos à Palavra de nosso Senhor para nós. Que o Espírito de Cristo dê Seu caráter ao nosso serviço enquanto esperamos por Ele na dependência e com coração devotado. Só então experimentaremos o poder em nosso serviço e teremos o sentido consciente de Sua aprovação repousando sobre ele.