Origem: Revista O Cristão – Os Ouvidos

Ouvindo

Devemos estar de posse de liberdade e descanso para ouvir Sua voz. Se não houver descanso, você não poderá Lhe dar ouvidos. Não pretendo negar nem por um momento que há um exercício anterior ligado ao silenciamento dos desejos naturais, ao desaparecimento de outros sons que estavam prontos para encher os ouvidos da alma. Ou seja, mortificar o que se intromete, a fim de que os ouvidos desimpedidos possam ser direcionados para Ele, sem distração , e não para coisas que um coração doentio desperdiça, numa vida cansada e inquieta, ao alimentar-se de si mesmo.

Há um descanso na pessoa que ouve bem que é muito abençoado de testemunhar. Havia algo disso em Maria, quando ela se sentou aos pés de Jesus, e ouviu a Sua Palavra. Sua atitude era repousante; ela se sentou e ouviu.

Não nego a atividade da vida, seja em sua seriedade em conquistar, seja em sua prontidão para se render; mas afirmo que deveria ser atividade repousante — uma atividade que é mantida viva e sustentada por um objeto fora de si.

“Como o solo, quando ressecado com o calor do verão, Bebe alegremente da bem-vinda chuva; Nós também, ouvindo a Seus pés, Recebemos Suas palavras e sentimos Seu poder.”

Abstração e absorção 

Vamos notar aqui um ou dois resultados da escuta com esse espírito.

Primeiro: tal pessoa é abstraída (despojada) de tudo, exceto do objeto da alma. Outros sons que de outra forma poderiam influenciar, agora deixam de interessar ao tal. Os ouvidos são voltados para captar cada nota da voz do Encantador; e, oh! Que voz é! Até mesmo Seus inimigos declararam que “nunca homem algum falou assim como este Homem”.

A noiva (quando o dia da união ainda não havia amanhecido e na inquietude do seu afeto) fica fascinada enquanto ouve no crepúsculo e anuncia com êxtase “a voz do meu amado” – d “meu amado falou” – toda a sua alma se volta para ouvir o que o noivo de seu coração tem a dizer.

Ao lado da abstração está a absorção de toda a ocupação da alma; os ouvidos, não apenas curvados para ouvir, mas absorvendo cada expressão de Sua voz; e isso, também, não como alguém que está separado de mim, mas Aquele a Quem estou unido.

“É a Sua voz que acorrenta o meu coração; É a Sua mão que separa; É a música que ouço. Fascinante, pressione-me para mais perto; Todos os outros sons se foram; Flutuo pela corrente sozinho: Todo o universo acima, Como um espelho para o Seu amor”

W. T. Turpin (adaptado)

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