Origem: Revista O Cristão – Paciência

Paciência da Esperança

A expressão “paciência da esperança” é tirada de 1 Tessalonicenses 1:3, onde Paulo se dirige a Cristãos relativamente novos em Tessalônica, os quais tinham desfrutado apenas de um breve tempo com Paulo, já que ele foi obrigado a fugir da perseguição depois de passar apenas algumas semanas com eles. No entanto, durante esse tempo, Paulo os instruiu especialmente na bendita esperança da vinda do Senhor para eles.

O assunto sobre esperança também ocupa um lugar de destaque no livro de Romanos, onde aparece 15 vezes na KJV e 17 vezes na tradução de J.N. Darby [e 13 vezes na versão em português (ARC)]. Nesta epístola, somos vistos como tendo sido redimidos e feitos aptos para a presença do Senhor, contudo, ainda como homens na Terra, fazendo nosso caminho em meio às dificuldades, mas com a esperança da bênção eterna no final do caminho. É importante ver que a palavra “esperança” na Escritura não carrega consigo nenhum grau de incerteza quanto ao cumprimento daquilo que se espera; a única incerteza é quanto ao momento da realização da esperança. Isso é diferente do significado geral que a palavra tem na linguagem cotidiana, onde esperança geralmente denota incerteza, em todos os sentidos, sobre um evento futuro.

Salvação eterna 

A questão da nossa salvação eterna é abordada nos primeiros capítulos de Romanos, e o assunto é resumido no capítulo 5, onde lemos, “Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes; e nos gloriamos [regozijamos – KJV] na esperança da glória de Deus” (Rm 5:1-2).

Nesta verdade, o crente pode descansar, pois ele foi justificado pela fé, tem paz com Deus sobre a questão de seus pecados e pode regozijar-se “na esperança da glória de Deus”. Dificilmente um crente bem instruído duvidaria da força dessas palavras e da certeza delas. A obra de Cristo é completa; estamos diante de Deus em graça e não temos temor algum de juízo por nossos pecados. Como alguém observou: “É relativamente fácil para o crente deixar a questão de sua salvação e destino eternos com Deus, pois entendemos que está inteiramente em Suas mãos”. Realmente nos regozijamos na esperança que temos diante de nós.

Nossa esperança 

No entanto, ainda não estamos em casa, mas antes temos diante de nós uma esperança, e como lemos em Romanos 8:25, “se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos”. A espera com paciência está ligada à nossa fé, pois é na proporção da força de nossa fé que nossa esperança é sustentada. (É digno de nota que a palavra “fé” também seja proeminente no livro de Romanos, ocorrendo não menos que 40 vezes na KJV [e igualmente nas versões em português].) Se nossa fé é forte, e estamos totalmente convencidos da verdade do que Deus disse, então nossa esperança também será forte, e, de fato, esperaremos com paciência pela realização dela. No entanto, ainda somos homens e mulheres na Terra, e as provações e tristezas do caminho podem ocasionalmente ameaçar abalar a nossa fé e esperança.

Esperanças relacionadas a esta vida 

Para cada crente, pode muito bem haver certas esperanças que estejam relacionadas a esta vida – certos sonhos e ambições muito preciosos que gostaríamos de realizar aqui. Essas esperanças podem assumir muitas formas e, é claro, são sentidas com mais força quando somos jovens. Pode ser uma esperança que até mesmo uma pessoa do mundo pode ter, como sucesso financeiro, posses, fama ou poder. Expectativas assim podem bem ainda estar presentes no coração do crente. Entretanto, pode ser uma esperança relacionada a coisas da vida cotidiana – coisas que não são erradas em si mesmas. Talvez haja uma carreira em particular que gostaríamos de seguir, ou pode ser uma esperança de se ter um cônjuge e talvez uma família que possa, com o tempo, nos cercar. Pode ser uma esperança relacionada a coisas espirituais, talvez por um lar, que gostaríamos de usar para o Senhor. Em outros casos, pode haver o desejo de servir ao Senhor de uma maneira específica, ou de ver um grupo de crentes caminhando bem em um determinado lugar. Todas essas coisas podem, em vários momentos, tomar conta do nosso coração e gerar um desejo ardente por sua concretização.

Quando o tempo passa, e nossa esperança não se concretiza, nossa fé é testada. Embora possamos não ceder ao desespero que frequentemente toma conta do homem do mundo, é fácil o desânimo entrar. Lemos em Provérbios 13:12 que “a esperança que se adia faz adoecer o coração” (ARA), e vemos muitas pessoas no mundo hoje que estão doentes dessa forma. É triste dizer, mas alguns deles são crentes, cujas esperanças nesta vida não se realizaram, e cujas ambições parecem ter sido frustradas completamente. Não apenas o desânimo, mas também a amargura pode surgir, e talvez até mesmo um sentimento (embora talvez não falado) de que “o caminho do Senhor não é justo” (Ez 18:25 – AAIB).

Qual é a solução? 

Antes de tudo, devemos entender que, como crentes nesta dispensação da graça de Deus, não nos foi prometido nada neste mundo. As bênçãos de Israel eram terrenais, mas todas as nossas bênçãos são celestiais; e embora Deus, em Sua bondade para conosco, possa nos conceder misericórdias pelo caminho, devemos entender que estas são, de fato, misericórdias, não bênçãos. Nos últimos 150 anos, o Senhor concedeu muito, na forma de misericórdias temporais, a algumas partes do mundo, especialmente à Europa Ocidental e à América do Norte. Como resultado, muitos crentes que vivem nessas áreas hoje tendem a ver essas coisas como normais e legítimas para eles, considerando-as parte das bênçãos de Deus. O Senhor Jesus pôde dizer aos Seus discípulos: “No mundo tereis aflições” (Jo 16:33), e em Sua oração ao Pai, Ele pôde dizer: “não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo” (Jo 17:14). Os crentes podem olhar para trás para a cruz do Calvário e firmar Sua fé na obra de Cristo; também podem olhar para a frente para a glória e firmarem sua esperança no que Deus prometeu. Mas nada lhes foi prometido entre a cruz e a glória, exceto o privilégio de seguir um Cristo rejeitado e de ter Sua alegria completa neles.

Quando essa verdade se apodera da alma, ficamos livres das ansiedades e frustrações que tantas vezes tendem a nos dominar. Não devemos desejar coisas como poder, dinheiro e fama, pois “as nações do mundo buscam todas essas coisas” (Lc 12:30 – ACF). Entretanto, não é errado ter determinadas esperanças relacionadas à vida aqui. O crente está morto para o mundo e morto para o pecado, mas nunca é dito que ele morreu para o natural. Esperanças como uma carreira, um cônjuge adequado, uma família ou um lar não estão em desacordo com o Cristianismo. Da mesma forma, no plano espiritual, é completamente legítimo ter a esperança de servir ao Senhor de uma maneira particular, para ser usado como um instrumento de bênção para o povo de Deus e ver os santos de Deus juntos caminhando bem e em harmonia. No entanto, em todas essas coisas, devemos permitir que o Senhor molde nossas circunstâncias, antes de tudo, para a Sua glória, e depois para nossa bênção final. Qualquer objeto, qualquer esperança, que fique aquém do próprio Cristo, mesmo algo bom em si mesmo, não é digno do crente.

Deus Se deleita em nossa felicidade 

Ao dizer tudo isso, não queremos dar a impressão de que a intenção do Senhor é que levemos uma vida solitária e ascética. Não, Ele Se deleita com a nossa felicidade e nos disse no Salmo 37:4: “Deleita-te também no Senhor; e Ele te concederá o que deseja o teu coração”. Esses desejos certamente incluem aquelas alegrias naturais que Ele graciosamente providenciou para nós. Mas devemos permitir que Ele faça essa escolha por nós e não insistir em nossos próprios planos.

Nossas próprias esperanças e ambições podem ser muito boas em si mesmas, mas os propósitos do Senhor para nós nos levam a um plano superior, onde vivemos e nos movemos à luz da eternidade, e não apenas para esta vida aqui. Embora Deus deseje nossa felicidade, devemos lembrar que felicidade é um estado de espírito, não uma questão de circunstâncias. É no caminho da Sua vontade que não apenas O honraremos, como também seremos extremamente felizes. Mais do que isso, estaremos edificando para a eternidade, e não para o tempo.

Isso é verdade até mesmo nas coisas espirituais, onde as esperanças não realizadas podem ser algo particularmente difícil de aceitar. Sem dúvida, Paulo sentiu isso intensamente quando teve que dizer, no final de uma vida árdua e fiel: “Na Ásia todos se apartaram de mim” (2 Tm 1:15). No entanto, não há nenhum indício de desânimo em toda a epístola, apesar do declínio geral que estava tomando conta da profissão do Cristianismo. A fé de Paulo permaneceu forte e ele pôde dizer: “Eu sei em Quem tenho crido” (2 Tm 1:12). Em anos mais recentes, quando um irmão mais novo estava ocupado com problemas entre os santos e indagou em voz alta: “O que será de nós?”, um irmão mais velho sabiamente respondeu: “A Escritura não conhece futuro algum para o crente a não ser glória”.

Ter acalentadas esperanças de que podemos mergulhar alegremente na vontade do Senhor para nós é o caminho da alegria e bênção, pois então nossa própria vontade não está operando, mas sim dizemos, como o Senhor Jesus disse: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22:42).

W. J. Prost

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