Origem: Revista O Cristão – Jó: O Homem e Seu Caráter
A Paciência de Jó
Como vimos em outro lugar nesta edição de O Cristão, Jó viveu há muito tempo, provavelmente há mais de 3.000 anos. No entanto, no livro de Tiago, que foi escrito pelo menos 1.500 anos depois que Jó viveu, Tiago se refere à “paciência de Jó” (Tg 5:11). O livro de Tiago foi escrito para as 12 tribos de Israel e leva em conta que, enquanto alguns deles eram claramente salvos, outros não eram. Parece que todos os que foram abordados tinham pelo menos professado fé em Cristo, mas alguns não fizeram mais do que isso; eles eram meros professos, sem nova vida em Cristo.
Aparentemente, a nação de Israel nem sempre gostou de ouvir sobre Jó, pois ele era evidentemente um gentio e não parte de Israel. Embora reconhecessem o livro de Jó como parte dos escritos inspirados do Velho Testamento, eles não gostavam de pensar em um gentio como sendo tão bom aos olhos de Deus que o próprio Deus pudesse dizer dele: “Ninguém há na Terra semelhante a ele, homem sincero e reto” (Jó 1:8).
A série de provações
Ao olharmos um pouco para a história de Jó, sua paciência é realmente admirável. Mal podemos conceber uma série de provações em nossa vida que mesmo remotamente se assemelhe ao que Jó suportou. Em primeiro lugar, o Senhor permitiu que toda a sua propriedade – toda a sua riqueza – fosse tirada em um dia. Seus bois e suas jumentas foram roubados pelos sabeus; raios destruíram suas ovelhas e os caldeus levaram todos os seus camelos. Mais do que isso, todos os seus dez filhos foram mortos em um dia, provavelmente causado por o que hoje seria chamado de tornado. No entanto, em tudo isso, Jó não perdeu a paciência ou a confiança em Deus. No final de tudo isso, ele continuou a justificar e adorar a Deus, e disse: “Bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).
Mas o pior estava por vir, pois o Senhor então permitiu que Satanás tirasse sua saúde e ferisse Jó “de uma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça” (Jó 2:7). Neste ponto, até mesmo sua esposa se voltou contra Deus, porém, mais uma vez Jó aceitou tudo da parte do Senhor, e “em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2:10).
O teste dos três amigos
Mas outra coisa fez com que Jó perdesse a paciência. Foi assim que seus três amigos o trataram, essencialmente chamando-o de hipócrita e dizendo-lhe que toda essa calamidade era o julgamento de Deus sobre ele por transgressão. Eles estavam errados, é claro, mas as acusações deles quebrantaram Jó, e ele perdeu a paciência com eles. Mais do que isso, ele até ficou impaciente com Deus e se aventurou a encontrar falhas nos caminhos de Deus com ele. Ele corajosamente manteve sua retidão, de modo que Eliú finalmente teve que repreendê-lo dizendo: “Achas que é justo dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?” (Jó 35:2 – ARA). Como resultado das palavras de Eliú e mais tarde das palavras do próprio Deus, Jó foi capaz de ver com clareza. Mas o homem, cuja paciência era seu ponto forte, finalmente perdeu a paciência. Toda a sua integridade, retidão, abominação do mal e temor a Deus foram o resultado da graça de Deus, mas Jó assumiu o crédito disso para si mesmo. Como resultado, sob pressão suficiente de seus três amigos, ele falhou nessa mesma coisa. De maneira semelhante, embora por razões diferentes, Abraão falhou em sua fé e Moisés falhou em sua mansidão, porque eles estavam ocupados consigo mesmos em vez de confiar e honrar ao Senhor. O que o Senhor nos deu em Sua graça soberana só pode ser vivido na prática com essa mesma graça.
A paciência do Senhor Jesus
Agora vamos nos voltar para Outro cuja paciência foi provada de uma maneira muito pior do que a de Jó. Estamos, é claro, nos referindo ao nosso Senhor Jesus Cristo. No mundo de sua época, Jó era um homem rico, honrado e respeitado antes que todas as suas provações viessem sobre ele, mas o Filho de Deus, que veio a este mundo como Homem, foi rejeitado desde o início. Ele nasceu nas circunstâncias mais pobres e, durante todos os anos de Sua vida na Terra, foi o mais pobre dos homens. Ele era constantemente insultado, desprezado e não recebia honra ou respeito, exceto de alguns. Ele muitas vezes dependia da caridade dos outros, particularmente das mulheres, para Suas necessidades diárias.
Oh, sim, muitos iriam a Ele em busca de cura, de comida e para ouvir “as palavras de graça que saíam de Sua boca” (Lc 4:22). Mas eles não O reconheceram por Quem Ele era. Os líderes Judeus o chamaram de samaritano, além de dizer que ele estava possuído por um demônio (Jo 8:41, 48).
Mais tarde, quando Ele enfrentou a cruz, aqueles que se beneficiaram de Seu poder que os curou e os alimentou foram persuadidos a exigir que Ele fosse crucificado. Seus próprios seguidores O abandonaram, um O negou com juramentos e maldições, e outro O traiu. Finalmente, Ele suportou o julgamento de Deus pelo pecado sozinho, nunca proferindo uma palavra de resistência ou impaciência. Alguma vez houve Alguém como Ele, para demonstrar paciência que nunca falhou? Nenhuma quantidade de rejeição, falsa acusação ou sofrimento fez com que qualquer coisa saísse d’Ele, exceto a perfeição divina que estava lá. Ele era Aquele em Quem não havia pecado, que não cometeu pecado e que não conheceu pecado. Cada provação a que Ele foi submetido apenas mostrava a excelência absoluta de Sua Pessoa.
Podemos admirar o caráter de Jó como homem e o que a graça de Deus operou nele, quanto à sua paciência em todas as suas provações e sofrimentos. No entanto, mesmo um homem como este, quando colocado ao lado de nosso Senhor Jesus Cristo, prova ser um fracasso. A paciência de Jó é mencionada no livro de Tiago como um exemplo para nós, e os profetas também são mencionados, sem dar seus nomes, como aqueles que sofreram com paciência. Mas Aquele, cuja paciência era como nenhum outro homem, deveria estar sempre diante de nós, fazendo com que nosso coração se curvasse diante d’Ele em admiração, louvor e adoração.