Origem: Revista O Cristão – Paz
O Pacificador
“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9). “Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo” (Ef 6:23).
O começo da vida dos dois filhos de José foi brilhante e abençoado. Manassés era o filho mais velho, mas Jacó, idoso e experiente, abençoou Efraim em lugar de Manassés. Jacó era o segundo filho, e ele havia aprendido algo sobre a maneira de Deus abençoar. José pensou que isso era um engano, mas Jacó se recusou a mudar a bênção. A rivalidade na família pode começar por pequenas coisas, mas continua com facilidade por gerações. Podemos nos beneficiar em aprender esta lição. Jacó teve dificuldade em aprender que a verdadeira bênção vem de Deus. Quando Deus é deixado de fora de nossa vida, o zelo de comportar-se de modo a chamar a atenção para si estraga facilmente a paz entre os irmãos. No livro de Juízes, temos dois exemplos de rivalidade entre Efraim e Manassés.
Gideão
Quando o Senhor chamou Gideão para libertar Israel do empobrecimento causado pelos midianitas, ele disse: “Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai. E o SENHOR lhe disse: Porquanto Eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como se fossem um só homem” (Jz 6:15-16). Vemos nisso que, embora Gideão tenha sido testado com a pobreza, ele estava contente, não demonstrando aspirações em deixar sua herança familiar. Ele assumiu o lugar mais baixo de sua família. O raciocínio humano descartaria esse tipo de pessoa, mas o Senhor nosso Deus tem uma maneira especial de usar aqueles que são humildes. Por isso, é improvável que caiam na armadilha da rivalidade familiar.
Enquanto Gideão preparava os milhares de Israel para lutar contra os midianitas, o Senhor lhe disse que eram muitos: “para Eu dar aos midianitas em sua mão; a fim de que Israel não se glorie contra Mim, dizendo: A minha mão me livrou” (Jz 7:2). Por causa do baixo estado espiritual de Israel, era necessário impedir que aqueles que fossem para a batalha buscassem uma reivindicação à fama. Mas os filhos de Efraim, que não foram chamados inicialmente para a batalha, não testemunharam esta lição. Eles repreenderam Gideão após a vitória sobre os midianitas. Eles não entenderam o propósito de Deus ao trabalhar por meio da fraqueza humana para engrandecer Sua glória.
“Então os homens de Efraim lhes disseram: Que é isto que nos fizeste, que não nos chamaste, quando foste pelejar contra os midianitas? E contenderam com ele fortemente. Porém ele lhes disse: Que mais fiz eu agora do que vós? Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? Deus vos deu na vossa mão os príncipes dos midianitas, Orebe e Zeebe; que mais pude eu fazer do que vós? Então a sua ira se abrandou para com ele, quando falou esta palavra” (Jz 8:1-3). Aqui vemos Gideão como um pacificador. Três coisas são dignas de nota. Primeiro, ele ocupa o lugar mais baixo, no início e no final de sua resposta: “Que mais fiz eu agora do que vós?” “Sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda” (Pv 26:20 – ARC). Segundo, ele distingue a herança de Efraim da sua em Abiezer (Manassés). Ele volta o foco para a herança que o Senhor lhes havia dado, ampliando a herança deles. Embora reconheça a abundância dada a Efraim, Gideão se apega à sua parte dada por Deus. Há muitas bênçãos para todos e cada um de nós dentro dos limites de nossa própria herança. Não precisamos ir a outro lugar atrás de coisas melhores. Terceiro, ele reconhece o que Deus havia feito por meio dos homens de Efraim. Gideão não havia esquecido o quão insignificante ele e os trezentos homens haviam sido na batalha. O Senhor conquistou a vitória. Gideão poderia facilmente reconhecer o mesmo com os filhos de Efraim. Suas palavras não eram meras lisonjas; ele procurou acalmá-los em suas atitudes erradas, apontando o que o Senhor havia feito através deles. “Então a sua ira se abrandou para com ele”.
Faz bem ao coração ler no final do capítulo: “e sossegou a terra quarenta anos nos dias de Gideão” (Jz 8:28). Este é o resultado de um verdadeiro pacificador.
Os filhos de Gideão
Na sequência da história, temos o triste final dos sessenta e nove filhos de Gideão, que foram mortos pelo seu meio-irmão Abimeleque. Não se pode deixar de pensar que todos esses filhos estarão entre os chamados “filhos de Deus” dos quais o Senhor falou quando disse: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”. Aqueles que, como Abel, deram a vida por seus irmãos, na ressurreição com Cristo estarão na família de Deus. Jotão, que sobreviveu, falou contra o mal feito, mas nunca tomou em suas próprias mãos a vingança da vida deles. O Senhor fez recair sobre Abimeleque o sangue inocente que ele havia derramado.
Jefté
Um segundo caso de rivalidade entre Efraim e Manassés aconteceu enquanto Jefté era juiz. “Então se convocaram os homens de Efraim, e passaram para o norte, e disseram a Jefté: Por que passaste a combater contra os filhos de Amom, e não nos chamaste para ir contigo? Queimaremos a fogo a tua casa contigo. E Jefté lhes disse: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os filhos de Amom; e chamei-vos, e não me livrastes da sua mão; E, vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha vida, e passei contra os filhos de Amom, e o SENHOR mos entregou nas mãos; por que, pois, subistes vós hoje, para combater contra mim? E ajuntou Jefté a todos os homens de Gileade, e combateu contra Efraim; e os homens de Gileade feriram a Efraim; porque este dissera-lhe: Fugitivos sois de Efraim vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés” (Jz 12:1-4). Nesse caso, vemos que a raiva e a autodefesa pessoal predominam sobre a libertação do inimigo. Insultos pessoais se confundem com fidelidade na preservação da herança que Deus lhes dera. Jefté é provocado a entrar em guerra contra os homens de Efraim. Ele foi fiel em defender a herança deles contra Amon e é mencionado pelo nome em Hebreus 11 por sua fé, mas onde estava o pacificador entre eles? Onde estava o intercessor que daria a vida por seus irmãos?
Na batalha, a raiva deteriora-se em vingança. “Porque tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e sucedeu que, quando algum dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os gileaditas perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não, Então lhe diziam: Dize, pois, Chibolete; porém ele dizia: Sibolete; porque não o podia pronunciar bem; então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão; e caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil” (Jz 12:5‑6). Certamente estava errado que os homens de Efraim subissem a Jefté como eles fizeram, mas o que começou como um insulto a Jefté, porque ele era filho de uma prostituta, agora leva os homens de Manassés a escolherem uma característica defeituosa na fala dos homens de Efraim e julgá-los com base nisso. É difícil encontrar paz quando palavras e discursos são confundidos com atitudes altivas e vingativas. A atitude errada dos homens de Efraim deveria ter sido tratada, não sua fala defeituosa. O resultado desse julgamento indiscriminado é que 42.000 homens de Efraim morrem. Alguns deles, talvez, merecessem morrer; somente o Senhor – seu Pacificador – sabe quantos morreram por falta de julgamento.
Estas coisas foram escritas “para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm 15:4). Que o Senhor nos ajude a unir a misericórdia e a verdade, para que a justiça e a paz possam se beijar uma a outra. Este é o papel abençoado de um pacificador.