Origem: Revista O Cristão – A Criação de Filhos – Parte 2
A Palavra de Deus
Em outros artigos desta edição de “O Cristão”, já comentamos sobre a importância da sabedoria de Deus, conforme encontrada em Sua Palavra, a Bíblia. Devemos entender que a sabedoria de Deus não é meramente uma melhoria ou um acréscimo à sabedoria do homem; antes, é o exato oposto da sabedoria do homem. Quando consideramos qualquer assunto moral ou espiritual, a Palavra de Deus deve ser nossa fonte de sabedoria e nosso guia. As Santas Escrituras sempre exaltam a Cristo e, em última análise, Cristo é a sabedoria de Deus para o caminho do crente.
Como pais, podemos ter visto a importância da Palavra de Deus em nossa própria vida e a necessidade da orientação dela na criação de nossos filhos. Mas todos desejaríamos que nossos filhos sentissem a mesma reverência, necessidade e desejo pela Escritura. Como isso pode ser alcançado?
A Palavra tecida em nossa vida
Em primeiro lugar, é importante que nossos filhos vejam os princípios e as instruções da Bíblia interligados na própria estrutura de nossa vida, seja no lar, em nossa vida profissional, na educação ou em nossa vida de assembleia. Eles devem ver claramente que ler a Palavra de Deus não é meramente um ritual religioso, mas uma Palavra viva para nós, destinada a ser, na realidade, uma parte de todos os aspectos de nossa vida.
Pais Cristãos piedosos vão querer ter um tempo de leitura privada da Palavra de Deus e oração. Isso é importante, pois todos devemos, em última análise, alimentar-nos de Cristo individualmente antes de o fazermos com outros. Isso é verdade inclusive na família. Quando a vida é agitada, isso pode ser difícil, mas como todos sabemos, é muitíssimo necessário ler a Palavra de Deus diariamente e orar. Maria de Betânia sentou-se aos pés do Senhor e ouviu Sua Palavra, e quando sua irmã Marta reclamou com o Senhor que Maria a havia deixado para servir sozinha, Sua resposta foi: “Mas uma só [coisa] é necessária” (Lc 10:42). É o mesmo conosco hoje; os “cuidados desta vida” nunca devem nos privar de tempo individual na Palavra de Deus e em oração.
Lendo a Palavra
Em segundo lugar, é importante que leiamos a Palavra de Deus com nossos filhos. Visto que normalmente nos alimentamos mais de uma vez por dia, é bom ter as Escrituras diante de nós pela manhã e à noite também. Um pai pode muitas vezes ter que ir trabalhar de manhã cedo e nem sempre é prático para ele ler com os filhos nessas circunstâncias. Nesse caso, a mãe deve assumir. Lembro-me bem de minha própria mãe lendo a Bíblia para nós na mesa do café da manhã e enfatizando sua importância. Então, depois do jantar, meu pai assumia e lia a Palavra de Deus. À medida que fui crescendo, vi outro lado de meu pai que não conhecia antes. Ele trabalhava para um fazendeiro próspero e, na minha adolescência, no verão, também fui contratado para trabalhar com ele. Demorávamos apenas meia hora para o almoço, mas meu pai comia rápido, para ter tempo de ler, não só a Bíblia, mas também um livro de ministério. Quando eu estava com ele, ele lia em voz alta para que eu pudesse tirar proveito também. Isso me impressionou profundamente quando jovem e me motivou a fazer o mesmo.
Além disso, quando lemos as Escrituras para nossos filhos, várias coisas são muito importantes. Em primeiro lugar, deve ficar claro para eles que é para nosso prazer, e não apenas um dever a ser cumprido. Deve ser um momento relaxante, quando a família pode desfrutar da Palavra de Deus juntos, assim como eles desfrutam da comunhão durante uma refeição.
Leia tudo da Palavra
Em terceiro lugar, um irmão mais velho, há muito tempo com o Senhor, costumava nos dizer: “Não hesite em ler com seus filhos qualquer parte da Palavra de Deus. Ela nos adverte e expõe a maldade do coração natural do homem, mas nunca desperta a carne em nós ou provoca maus pensamentos em nossas mentes”. Esse é um bom conselho, pois os pais às vezes podem ser tentados a pular certas passagens da Palavra de Deus que revelam os detalhes sórdidos do pecado e falam de coisas que podemos considerar desnecessárias para nossos filhos ouvirem. Lembremo-nos de que “Toda Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2 Tm 3:16 – ACF). É muito melhor para as crianças ouvirem essas coisas no contexto da Palavra de Deus (dentro dos limites do que sua faixa etária pode entender) do que fazer com que aprendam essas coisas do mundo quando vão para a escola ou, mais tarde, no local de trabalho.
Finalmente e imprescindível, a Palavra de Deus deve ser trazida ao nível deles e explicada a eles de uma forma que possam entender. É claro que há partes da Bíblia que as crianças podem não entender imediatamente, mas quando “enchei de água essas talhas” (Jo 2:7), podemos contar com o Senhor para transformá-la em vinho mais tarde.
A morte de um filho
Podemos ver uma ilustração da importância disso, em figura, na vida de Eliseu. A mulher sunamita, de 2 Reis 4, havia sido muito bondosa com Eliseu, a ponto de construir para ele um quarto especial na casa dela, onde ele ficava sempre que passava por ali. Como resultado, o Senhor deu a ela um filho. Mais tarde, porém, enquanto o filho estava na fazenda com o pai, adoeceu repentinamente e morreu mais tarde naquele dia. Sua mãe imediatamente o deitou na cama de Eliseu, em seu quarto, e então cavalgou para o Monte Carmelo para se encontrar com o profeta.
Eliseu instruiu seu servo Geazi a pegar seu cajado (de Eliseu) e colocá-lo no rosto da criança. Geazi fez o que lhe foi pedido, mas teve que voltar e relatar que “não havia nele voz nem sentido” (2 Rs 4:31). O cajado era bom e pertencia a Eliseu, mas era rígido e inflexível; não trouxe vida à criança. Como aplicação, o cajado pode representar para nós a Palavra de Deus apresentada a uma criança, mas de uma forma que não se adapta à sua idade e entendimento. Da mesma forma, quando consideramos seu comportamento subsequente no próximo capítulo, é duvidoso se Geazi teve o discernimento espiritual e o cuidado piedoso que eram necessários nessa situação.
O modo de transmitir vida
Quando Eliseu chega até a criança e a encontra morta, ele faz algo diferente. Em primeiro lugar, ele “orou ao Senhor”. Então ele “deitou-se sobre o menino, e, pondo a sua boca sobre a boca dele, e os seus olhos sobre os olhos dele, e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre ele; e a carne do menino aqueceu” (2 Rs 4:33-34). Ele se adaptou ao tamanho da criança, apresentando diante de nós a necessidade dos adultos descerem ao nível de uma criança, mental e espiritualmente. Ele não usou um cajado, mas sim seu próprio corpo. De maneira semelhante, Paulo poderia dizer aos coríntios: “Vós sois a carta de Cristo […] escrita […] não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne do coração” (2 Co 3:3). Como resultado, a vida estava voltando, mas era um processo. O mesmo ocorre com frequência com a salvação de crianças pequenas. Novamente, está registrado que Eliseu “voltou, e passeou naquela casa de uma parte para a outra, e tornou a subir, e se estendeu sobre ele” (2 Rs 4:35). Esse intervalo fala de mais exercícios perante o Senhor, e novamente Eliseu se sente levado a descer ao nível da criança e curvar-se sobre ela (JND). Desta vez, há evidências de vida muito distintas, pois “então, o menino espirrou sete vezes e o menino abriu os olhos” (v. 35).
Primeiros sinais de vida
É interessante e instrutivo notar que o verdadeiro sinal de vida foram os espirros da criança sete vezes. Pode parecer uma evidência incomum de vida, mas, no entanto, é clara e definitiva. Cadáveres não espirram! Assim é frequentemente quando os filhos vêm ao Senhor pela primeira vez. No início, pode não haver uma confissão oral clara de Cristo como Salvador; antes, eles podem dizer ou fazer algo, talvez de uma forma um pouco incomum, mas o que eles dizem ou fazem nos diz claramente que agora eles têm uma nova vida em Cristo. Em nossa história, Eliseu entrega a criança à mãe, pois era a responsabilidade dela continuar seu trabalho de criá-lo para o Senhor.
Mais uma vez, podemos ver que esse incidente nos mostra que é necessário um exercício real para levar a Palavra de Deus a nossos filhos, e um esforço real deve ser feito para trazer a Escritura ao nível deles, explicando de uma forma que os ajude a entender. No entanto, em todas essas coisas, devemos lembrar que, embora tenhamos nossa responsabilidade de levar a Palavra de Deus a nossos filhos da maneira certa, em última análise, não é nossa fidelidade que traz bênçãos a eles, mas sim a graça soberana de Deus. Se houver alguma bênção na vida de nossos filhos, não podemos assumir o crédito por isso. É a graça de Deus que salva e guarda, e a Ele deve ser todo o louvor.