Origem: Revista O Cristão – A Boca, os Lábios, a Língua

Palavras de Graça

Em vários artigos desta edição de O Cristão, tem havido um forte foco no uso errado da língua e sérias advertências quanto aos efeitos a longo prazo de dizer coisas pecaminosas. Essas advertências são necessárias, pois como disse o Senhor Jesus: “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34). Nosso coração natural é mau, e se nós, como Cristãos, permitirmos que nossa velha natureza pecaminosa aja, nossa boca refletirá nosso coração mau.

Golpes duros 

Muitos anos atrás, um jovem foi para a China para trabalhar com Hudson Taylor na divulgação do evangelho. Como era seu costume, Hudson Taylor levou o jovem para almoçar a fim de lhe dizer o que ele poderia esperar em sua vida na China. Durante a refeição, Hudson Taylor, de repente, bateu forte na mesa com o punho fechado, fazendo com que parte da água saísse dos seus copos. Quando o jovem olhou para ele surpreso, Hudson explicou-lhe que na China, ele, sem dúvida, levaria muitos “golpes duros”. Então ele continuou dizendo que, quando ele recebia um duro golpe, o que estava dentro saía, assim como a água havia espirrado dos copos quando Hudson bateu na mesa.

Essa é uma boa lição para todos nós, pois é quando recebemos um golpe duro neste mundo que nosso verdadeiro estado de alma é exposto. Um velho irmão costumava nos lembrar de que “as circunstâncias não produzem nosso estado de alma; elas o manifestam”.

Vencer o mal com o bem 

No entanto, a palavra de Deus é equilibrada, e se precisamos de advertências contra o uso errado de nossa boca, também precisamos de encorajamento para usá-la da maneira certa. A Escritura nos lembra: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). Além de guardar nossos lábios, devemos também falar palavras que sejam boas e corretas. Isso é mais importante do que nunca hoje, quando homens e mulheres dizem quase qualquer coisa publicamente sem nenhuma vergonha.

Nosso Senhor Jesus Cristo nunca pecou de forma alguma, e isso foi particularmente perceptível no que Ele disse. Repetidamente os líderes Judeus tentaram enredá-Lo em Seu discurso, na esperança de serem capazes de acusá-Lo de alguma coisa. No entanto, Ele nunca sucumbiu a nenhuma dessas tentativas. Vejamos algumas coisas que Ele disse.

Palavras de graça 

Quando nosso Senhor começou Seu ministério terrenal, O encontramos na sinagoga de Nazaré, onde Ele foi criado. Depois de ler uma parte do livro de Isaías, Ele falou ao povo, e está registrado que eles “se maravilharam das palavras de graça que saíam da Sua boca” (Lc 4:22). Nosso Senhor começou trazendo graça diante do povo, pois eles estavam acostumados a ouvir as palavras inflexíveis de uma lei que nenhum deles podia guardar. Mas aqui estava Aquele que veio a eles em graça, apresentando-Se como Aquele que traria cura e libertação para eles, se O quisessem. Infelizmente, eles ficaram ofendidos, pensando que Ele era apenas o filho de José, e não o Filho de Deus. Sua familiaridade com Ele cegou o coração deles quanto a Quem Ele era.

O poder das palavras 

É sabido que, quando nos comunicamos com os outros, não são apenas as palavras que dizemos, mas também o tom de nossa voz e nossa linguagem corporal que fazem parte da mensagem. Desnecessário será dizer que o tom da nossa voz e a nossa linguagem corporal têm mais peso do que o que dizemos. Podemos ter certeza de que, quando nosso Senhor falou com palavras de graça, tudo o que Ele disse estava em harmonia com o tom de Sua voz e Sua linguagem corporal. Mais tarde, em Seu ministério, os líderes Judeus enviaram oficiais para prendê-Lo. Quando voltaram sem Ele, os oficiais disseram aos seus líderes: “Nunca homem algum falou assim como este Homem” (Jo 7:46). Isso ilustra outro ponto sobre palavras piedosas – há um poder moral nelas que é maior do que o poder físico. Os oficiais tinham o poder natural de prender o Senhor, mas Suas palavras tiveram tal efeito sobre eles que não puderam fazê-lo. Vemos esse mesmo efeito mais tarde em Lucas 4, quando Ele falou na sinagoga em Cafarnaum. Mais uma vez, lemos que “admiravam-se da Sua doutrina, porque a Sua palavra era com autoridade” (v. 32). Há um poder nas palavras faladas pelo Espírito de Deus, e elas têm um efeito mesmo em pessoas ímpias. Lembro-me de muitos anos atrás trazer um amigo da faculdade para uma reunião do evangelho em uma conferência bíblica e, embora ele não tenha sido salvo naquela época, ficou muito impressionado com a mensagem do evangelho. O evangelho naquele caso foi dado por um irmão que não tinha educação especial, mas havia poder no que ele disse. (O jovem em questão foi salvo muitos anos depois.)

Lemos em João 1:17 que “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, e embora não possamos ter uma sem a outra, é significativo que a graça seja mencionada primeiro. Deus é um Deus de graça, e o que pregamos hoje é “o evangelho da graça de Deus” (At 20:24). Assim como as palavras do Senhor Jesus refletiram essa graça, assim também você e eu devemos fazê-lo em nosso discurso. Uma palavra de graça muitas vezes quebra um coração duro quando uma solene advertência parece não ter efeito. Paulo poderia exortar os colossenses da mesma maneira e dizer-lhes: “A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal” (Cl 4:6 – AIBB). A graça deve estar sempre lá, mas o sal também é necessário.

Fortes palavras de advertência 

Nosso bendito Senhor falou com graça, como vimos, mas houve momentos em que Ele teve que falar fortes palavras de advertência. Ele teve que dizer àqueles em Nazaré (Lc 4:24-27) que não havia bênção para aqueles que O rejeitaram apenas porque Ele havia crescido entre eles. Ele teve que advertir os escribas e fariseus pela hipocrisia deles em Mateus 23:1-36, chamando-os de “insensatos” e de “raça de víboras”.

No entanto, apesar de Suas fortes palavras para eles, Ele concluiu Seu discurso lamentando sobre a cidade de Jerusalém e expressando o desejo de que Ele pudesse reunir seus filhos, “como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas” (v. 37). Apesar de sua incredulidade e rejeição a Ele, Seus pensamentos eram para com eles e para o julgamento que eles trariam sobre si mesmos. Seu amor por eles nunca mudou.

Hora de falar 

Assim como o exemplo que temos com as palavras de graça de nosso Senhor, há muitas outras referências à fala e a como e quando usamos nossos lábios. Eclesiastes 3:7 nos diz que há um tempo para falar e um tempo para ficar calado. Muitas vezes, não falar tem um impacto maior do que muitas palavras. Ao confortar alguém que esteja passando por provação, como é bom sentar-se calmamente em companheirismo e compreensão. Muitas palavras não são necessárias nesse caso.

1 Coríntios 14:3 nos admoesta a falar aos homens para “edificação, exortação e consolação”. Essas três coisas precisam de aprendizado, sabedoria e compaixão. Somos lembrados do versículo: “Na multidão de palavras não falta transgressão” (Pv 10:19). A consideração em oração deve vir antes do falar muito!

E para culminar toda essa instrução, temos aquele belo versículo em Provérbios 25:11: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo”. Todos nós já experimentamos essa “palavra dita a seu tempo” e podemos apreciar seu valor – a palavra certa, falada no momento certo e da maneira certa. Que possamos diariamente pedir ao Senhor Sua direção para cada palavra nossa!

W. J. Prost

Compartilhar
Rolar para cima