Origem: Revista O Cristão – Ressurreição
“Para Conhecê-Lo”
Em Filipenses 3:10, Paulo expressa o desejo de “conhecê-Lo, e a virtude [o poder – ARA] da Sua ressurreição”. Mas o desejo do apóstolo não era apenas “conhecê-Lo”. No texto original grego, não há ponto, nem mesmo uma vírgula, depois do termo, “conhecê-Lo”. Está escrito: “para O conhecer e o poder da Sua ressurreição e a participação dos Seus sofrimentos” (TB). Alguém disse: “A essência de conhecer a Cristo consiste em conhecer o poder de Sua ressurreição”. Todo Cristão sabe que o Cristianismo tem sua raiz e fundamento na morte de nosso bendito Salvador. Mas se fosse possível que a morte mantivesse o Salvador em seu poder, a morte, em vez de ser o fundamento do gozo e a certeza da salvação, teria sido a fonte de um profundo desespero que nada poderia ter dissipado. É a ressurreição que lança seus raios brilhantes até mesmo no sepulcro escuro de Cristo – aquele sepulcro que parecia significar vitória para o adversário. É a ressurreição que explica a razão daquela submissão momentânea ao poder do diabo e à sujeição ao julgamento necessário de Deus.
O fundamento das esperanças Cristãs
É pela ressurreição e glória que se seguirá, que o fundamento e as esperanças do Cristão estão unidos. É pela ressurreição que a justificação, e aquilo que é o poder da vida do Cristão – a santificação – estão unidas. Ele não só ressuscitou para a nossa justificação, mas em Cristo ressuscitado, estamos n’Ele como ressuscitados e santificados no poder de uma nova vida.
Assim, podemos ver que Paulo encontrou na ressurreição não somente a evidência do fundamento de sua fé (Rm 1:4) e a prova da consumação da expiação do pecado (1 Co 15:17), mas muito mais. A ressurreição foi para Paulo, como foi para Pedro, o objeto e a fonte de uma esperança viva, o poder da vida interior. Então, Paulo procurou conhecer o poder da Sua ressurreição.
Com exceção de João, em Apocalipse, Paulo é o único dos apóstolos de quem está registrado que ele viu o Senhor Jesus Cristo em Sua glória em ressurreição: “uma luz do céu, que excedia o esplendor do Sol” (At 26:13). Será que ele não conhecia “o poder da Sua ressurreição”? Sim, certamente, mais e melhor, talvez, do que qualquer outro homem vivo, mas ele queria conhecer esse poder ainda mais e ainda melhor. Foi a visão do Deus da glória (At 7:2) que manteve Abraão verdadeiro e fiel por cem anos (Gn 12:4; 25:7), e essa visão ensinou a ele algo sobre “o poder de Sua ressurreição”. E foi a visão do “Senhor da glória” (1 Co 2:8) em ressurreição que também ensinou a Paulo algo sobre o “poder da Sua ressurreição”.
Um amigo meu me disse, que quando ele veio pela primeira vez para a China, ele pregou: “Cristo morreu por nossos pecados”, e as almas foram salvas, mas os novos Cristãos não permaneceram. Em sua angústia, ele procurou rever sua pregação e percebeu que não havia pregado “e que ressuscitou ao terceiro dia”. Agora ele pregava não apenas a morte de seu Senhor, mas também a Sua ressurreição. Assim, muitos mais foram salvos, mas agora eles permaneceram firmes e verdadeiros. Eles também aprenderam algo sobre o “poder da Sua ressurreição”.
Paulo nunca esqueceu aquela visão, do Senhor da glória, na estrada de Damasco, no poder da Sua ressurreição e glória. Mas essa visão só deu a ele um desejo mais profundo de conhecer melhor “o poder de Sua ressurreição”. “Mas todos nós, com rosto sem véu, contemplando como em espelho a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem de glória em glória, como pelo Senhor o Espírito” (2 Co 3:18 – TB).
Mas há mais nesta maravilhosa frase: “Conhecê-Lo e o poder da Sua ressurreição e a comunicação de Suas aflições”. Tendo visto o Senhor em glória, o apóstolo entendeu o caminho que o levava até lá – um caminho de sofrimento e de morte, e desejou segui-Lo também nesse caminho, se necessário fosse, para estar onde está o seu Senhor e na glória com Ele. Os dois são inseparáveis.
Sendo feito conforme a Sua morte
“Sendo feito conforme” (summorphoō em grego) é um termo notável e fala de um processo que está acontecendo continuamente. Ao contemplarmos nosso Salvador sofredor, somos gradualmente conformados à Sua morte. Filipenses 3:10 é o único lugar no Novo Testamento que o termo aparece como um verbo. Mas, como substantivo, encontramos isso novamente em duas outras passagens: Romanos 8:29 e em Filipenses 3:20-21, que diz: “esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o Seu corpo glorioso” (summorphos em grego). Certamente isso deve ser motivo suficiente para fazer com que as glórias deste mundo desapareçam, para que nosso desejo mais profundo seja, que cada um de nós esteja dia a dia “sendo feito conforme a Sua morte”.
As palavras iniciais do versículo 11,– “para ver se, de alguma maneira” – nos falam de dificuldade. Eu não creio que elas tenham a intenção de sugerir a menor dúvida na mente de Paulo quanto à sua chegada a essa ressurreição. Pelo contrário, ele está preparado para trilhar qualquer caminho que seja necessário para chegar a ela, incluindo o caminho que vai por meio da morte.
Ressurreição dentre os mortos
Quando Cristo ressuscitou, Sua ressurreição foi dentre os mortos. Naquela manhã de ressurreição, Ele saiu do sepulcro, enquanto ao redor havia milhares de sepulcros intocados pela ressurreição. Ele saiu “dentre os mortos” ao seu redor. E essa é uma amostra da ressurreição na qual Paulo fixou seus olhos. Essa é a ressurreição que Paulo ansiava, “para ver se, de alguma maneira” ele poderia chegar a ela. “Para conhecê-Lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme a sua morte” (Fp 3:10)