Origem: Revista O Cristão – Pecado e Libertação

Libertação do Pecado

Nada poderia ser mais sombrio do que insistir sobre o tema do “pecado”, nem nada tão calculado para nos humilhar, se nosso coração é honesto, como o fato de termos herdado uma natureza de Adão que, em todos os sentidos, é oposta a Deus. Mas a libertação do pecado é aquilo com o qual a glória da redenção está conectada. O conhecimento disto dissipa a tristeza e alegra o coração dos filhos de Deus por meio da aplicação da Sua Palavra à nossa alma. O apóstolo assim escreve: “Mas, agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Rm 6:22).

Pecado – uma vontade com um caminho 

Toda pessoa não convertida é caracterizada e controlada por uma natureza maligna, que a Escritura chama de “pecado”, e que nada mais é do que “uma vontade com um caminho”, sempre agindo contrariamente a Deus.

O “pecado” em sua natureza e os “pecados” que praticamos são claramente distinguidos na Palavra de Deus. O perdão dos pecados é obtido assim que o coração recebe pela fé a bendita verdade de que Cristo “o Qual por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25). A liberdade prática do pecado é obtida ao perceber, por meio da fé, a nossa identificação com Cristo em Sua morte e da entrada àquilo que é ensinado nos seguintes versículos: “Sabendo isto: que o nosso velho homem foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado” (Rm 6:6-7).

Pecado – não há perdão, nem há melhora 

A Escritura frequentemente fala do perdão dos pecados, mas pecado não é perdoável nem pode ser melhorado. É loucura desculpar o pecado quando Deus o expôs, ou procurar aperfeiçoá-lo agora que Ele o condenou. Tanto a exposição quanto a condenação do pecado são vistas na cruz – expostas em todo o seu ódio à luz da santidade de Deus e condenadas no sacrifício de Seu próprio Filho. “Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). O Espírito de Deus nos leva a ver o infinito valor do sacrifício de Cristo assegurando-nos da Palavra de Deus que não somente nossos pecados foram perdoados, mas que o pecado na carne foi condenado.

Pecado aos olhos de Deus 

Nenhum homem pode formar uma estimativa verdadeira do que ele é em si mesmo sem primeiro ver o que é o pecado aos olhos de Deus, e nada o declara tão claramente como a cruz de Cristo. Se eu aceitar o julgamento de Deus de acordo com a Sua Palavra, serei forçado a dizer, como Jó: “Por isso, me abomino” (Jó 42:6), e se, por outro lado, eu rejeitar o Seu julgamento e formar um por minha conta, vou pensar que sou tão bom quanto as outras pessoas. Onde está o homem que naturalmente se preocupa em se condenar a si mesmo? Mesmo que ele fizesse isso, seria apenas em parte, pois o pior homem vivo gosta de se gabar de suas boas qualidades. Mesmo quando parecemos estar “nos colocando para baixo”, como dizemos, podemos estar cheios de orgulho no mesmo instante sem estarmos conscientes disso. Uma criatura caída com um coração enganoso e natureza pecaminosa não é capaz de formar um julgamento quanto ao que ele é aos olhos de Deus, mas a oração dos retos é: “Da Tua presença saia a minha sentença”, e a linguagem da fé é: “seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Sl 17:2 – TB; Rm 3:4).

Cada coração tem sua própria reserva, uns mais ou outros menos, de autoestima, que nunca nos permitirá abandonar aquilo em que mais nos orgulhamos até vermos a morte e a condenação escritas sobre aquilo na cruz, onde o fim de toda carne veio diante de Deus.

A autodecepção do pecado 

Jó era um homem padrão em seus dias, mas nunca esteve realmente descansado até descobrir que massa de corrupção moral ele era aos olhos de Deus. Satanás foi usado para trazer a enfermidade sobre seu corpo, com a qual ele estava coberto da cabeça aos pés, de modo que sua condição moral pudesse ser claramente descrita e que ele pudesse aparecer exteriormente aos olhos do homem, o que ele era interiormente aos olhos de Deus. Grande foi sua decepção quando ele se queixou do tratamento de Deus para com ele, mas tendo aceitado a estimativa de Deus de si mesmo, ele não mais se defendia. Em vez disso, ele se julgou como alguém que havia se enganado no passado, e depois recebeu abundantes sinais do favor de Deus na forma de prosperidade terrenal. É uma misericórdia, então, ser salvo do engano próprio em relação ao pecado. Devemos ser levados ao ponto em que renunciamos a qualquer direito ou título a algo que seja bom aos olhos de Deus, pois herdamos uma natureza que está afastada de Deus. Todos nós éramos escravos do pecado até que seu domínio sobre nós fosse quebrado pelo livramento em poder divino, uma libertação que “nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9).

Escravos do pecado e filhos de Deus 

Os Judeus ficaram bastante indignados quando o Senhor Jesus lhes disse: “Se vós permanecerdes na Minha palavra, verdadeiramente, sereis Meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. “Somos descendência de Abraão”, responderam eles, “e nunca servimos a ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?” Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado. Ora, o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8:31-36).

Há apenas as duas posições trazidas diante de nós nesta Escritura – a dos escravos do pecado e a dos filhos de Deus. A primeira nós ocupamos por natureza, e o última nós passamos a ocupar pela graça, no terreno da redenção. O Espírito Santo nos dá a consciência de nosso novo relacionamento com Deus como Pai, como lemos: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6). Em Romanos 6, o pecado é visto como um “mestre [senhor], para quem toda a raça de Adão está em escravidão e cujo domínio se estende até o fim da Terra. O cativo do pecado precisa ser retirado de sua condição perdida e colocado em uma nova. Há duas coisas que foram realizadas pela morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, para aqueles que conhecem sua identificação com Ele: Primeiro, Ele morreu para tirá-los da servidão do pecado, e segundo, Ele ressuscitou para que pudessem viver em associação com Ele e produzir frutos para Deus. “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:10-11).

É o privilégio do crente ver a si mesmo como havendo morrido para o pecado na morte de Cristo. Não mais na carne e sob condenação como filho de Adão, mas como morto para o pecado e vivo para Deus, ele é exortado a apresentar seu corpo em “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12:1), como seu culto racional.

Adaptado de The Christian Friend, 1897

E. Dennett

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