Origem: Revista O Cristão – Pecado e Libertação
Libertação – Suas Três Partes
O começo de Romanos 8 é a resposta completa ao clamor de miséria no capítulo 7 – “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24). Há três grandes partes na libertação: primeiro, a libertação da alma no começo de sua carreira, depois a liberdade prática em seu curso e, finalmente, a libertação final para o corpo na ressurreição na vinda do Senhor.
Libertando a alma
Sem a liberdade espiritual, não pode haver poder prático, seja na adoração ou no serviço. Vamos então primeiro considerar a libertação da alma. Deve-se notar que a libertação é distinta da vivificação, e em Romanos 7 temos a prova mais forte disso. Aquele em Romanos 7 está vivificado, mas não liberto. Ele não é descuidado nem está desacordado, mas não está liberto. Ele não é um homem natural, mas sim um homem carnal. O homem natural não tem interesse nas coisas de Deus, mas o homem carnal, embora tenha a nova vida, não está andando em pleno gozo dela. Em Romanos 7, uma luta é descrita e totalmente discutida. É um estado, não de iniquidade natural, mas de impotência espiritual. Sempre que ele quer fazer a vontade de Deus, o peso morto do mal dentro dele o arrasta para baixo. Ele desperta para o fato humilhante de que existe esse constante mal interior sempre buscando se manifestar e que ter o sangue de Jesus para seu perdão não resolve totalmente com o caso. Uma consciência despertada deu o poder à lei de matar, e ele está morto na convicção do pecado, que ele não tinha como um homem não convertido.
A experiência da alma é uma coisa valiosa, e nenhuma alma jamais valoriza a liberdade sem ter conhecido algo da escravidão. Na experiência própria de cada crente, há uma quebra muito oportuna do “eu”, que é a consequência de nos avaliar a nós mesmos diante de Deus. Isso não pode ser aprendido por um simples esforço da mente. Como essa lição necessária é aprendida? Ele tenta fazer o que deveria e o que ele deseja, mas ele falha. Ele tenta novamente, e ele falha novamente. Ele ainda não aprendeu a abandonar a si próprio e a descansar em Outro. A verdade é que o efeito do pecado é muito mais profundo do que supomos. Libertação vem depois de ter havido prova prática, não apenas de que somos pecadores, mas de que estamos sem força, o que é algo muito mais profundo. O homem é finalmente levado ao ponto de olhar para fora de si mesmo, e este é o ponto de virada. Ele tinha olhado para o Senhor para encontrar descanso e perdão, mas quando ele tinha Cristo, ele pensou: “Agora poderei continuar glorificando alegremente o Senhor”. Ele descobre sua fraqueza e finalmente olha para além de si mesmo, para Cristo, onde ele descobre que “agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1).
Morto e ressuscitado com Cristo
O Cristão não é meramente perdoado; ele é identificado com um Cristo morto e, como tal, está morto para o pecado. Ele é batizado para a morte de Cristo, mas como Cristo também ressuscitou, ele é identificado com um Cristo ressurreto. Assim, o crente está morto para o pecado, mas vivo para Deus, porque ele é visto como morto e ressuscitado com Cristo. Não pode haver condenação para o crente – ele tem perdão absoluto. Ele está em Cristo!
O apóstolo dá duas razões conclusivas para isso. Primeiro, ele diz: “A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). A expressão “a lei do Espírito de vida” significa o princípio fixo pelo qual o Cristão agora vive. É o lugar de libertação que ninguém jamais teve até que Cristo morreu e ressuscitou. Quando o Senhor ressuscitou dentre os mortos, Ele agiu imediatamente sobre esse princípio ao soprar nos discípulos o sopro de Sua própria vida ressurreta (Jo 20:22). O pecado não é mais uma lei ou princípio sob o qual o crente vive, pois ele não está mais preso a ele. Nem é verdade que ele está condenado a morrer, como todos os homens naturalmente estão. A Escritura diz: “Nem todos dormiremos” (1 Co 15:51). Aqueles que estiverem vivos quando o Senhor vier serão transformados sem morrer. Naturalmente, o Cristão pode morrer, assim como ele pode pecar, mas nenhuma delas é uma necessidade para o Cristão. Quando a vida no Espírito foi dada, houve poder contra o pecado e, quando Cristo vier, a morte desaparecerá para todos os que são d’Ele. Consequentemente, temos o direito de ter paz, gozo, poder e vitória consciente agora.
Uma bênção dupla
Segundo, “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8:3). Por causa do pecado, há duas coisas designadas por Deus ao homem – morte e julgamento. Cristo carregou tanto o julgamento quanto a morte, e agora o crente recebe uma bênção dupla. Não somente ele tem vida, em contraste com a morte, mas também libertação n’Ele ressuscitado e nenhuma condenação, porque a condenação caiu sobre Cristo. Ele era o Santo, mas Se tornou homem – tão verdadeiramente Homem como Ele era Deus. Ele veio “à semelhança da carne do pecado, pelo pecado”. Esta última expressão significa que Ele veio como uma oferta pelo pecado. Foi para tratar do “pecado”, não apenas dos “pecados”, que Cristo foi enviado – para remover a raiz e também o fruto. Deus condenou na cruz o pecado na carne, pois não é o perdão que é desejado para uma natureza pecaminosa, mas a condenação. Esta condenação caiu sobre Aquele em Quem nunca houve pecado, pois “n’Ele não há pecado” (1 Jo 3:5). Sendo o Santo de Deus, o Único em Quem não havia pecado, Ele poderia sofrer, não só pelos pecados, mas pelo pecado. Assim, Deus condenou o pecado na carne.
O resultado final
O fim moral de tudo isso é “para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). Aqui está a caminhada do Cristão, na sua devida ordem e verdadeiro lugar. Quando a sua posição é um fato estabelecido e quando ele se conhece conscientemente liberto, então segue-se uma caminhada de acordo com o Espírito. Quando não estamos felizes e livres, tudo dá errado; nós somos incomodados com as circunstâncias, com outras pessoas e, finalmente, conosco mesmos. Tal é a condição da alma em Romanos 7. Quando pela fé nós reconhecemos que morremos com Cristo e estamos vivos n’Ele para Deus, não mais nos atormentamos a nós mesmos por causa da corrupção interna. Sabemos que nosso velho “eu” pecaminoso é totalmente mau, mas aceitamos a bendita verdade que o “eu” já foi condenado por Deus na morte de Cristo. Agora, pela justiça e em Cristo, a vitória vem sobre o “eu”.
É claro que, embora um seja liberto, ele pode nem sempre andar no Espírito. Ele pode ceder à carne e provar suas amargas consequências. Não é a mesma miserabilidade que a de Romanos 7, mas de um tipo ainda mais profundo. Que angústia é se esquecer e desonrar a Ele, depois de conhecer tal amor e graça! O capítulo 7 descreve a tristeza de alguém ainda não liberto, mas as afeições mais profundas do capítulo 8 são despertadas, não apenas em fazendo o bem, mas também no pecado, se o crente pecar.
Assim, há o constante discernimento entre carne e espírito. Não devemos tolerar o menor broto da velha raiz. Devemos andar segundo o Espírito, não segundo a carne. Isso é realizado de maneira prática pela aplicação da bendita verdade de que tenho o direito de me considerar morto para o pecado, mas vivo para Deus em Cristo.
The Bible Treasury, 12: 30-41
