Origem: Revista O Cristão – Pedras
A Pedra de Israel
Gênesis 49:24
O Espírito Santo, no livro de Gênesis, nos fornece a primeira comunicação de Deus com os homens, e desde o princípio o Espírito de Deus Se deleita em revelar as glórias do Filho de Deus. A palavra profética está repleta de claras e inconfundíveis referências a Ele, e se Sua glória e grandeza penetrarem nossa alma, seremos acalmados e tranquilizados no meio da maior crise que possa nos atingir enquanto aguardamos Sua gloriosa aparição.
O descanso de Deus no Jardim do Éden não durou muito. Somente por um curto espaço de tempo, o homem correspondeu às intenções de seu Criador; então o pecado entrou, arruinando aquele belo mundo cujo centro era o Paraíso. O homem foi expulso de sua herança, e então, fora do Éden, surgiu o sistema mundial. Seu fundador foi Caim, cuja posteridade tentou enfeitá-lo e estabelecê-lo perpetuamente; o dilúvio o varreu. Na torre de Babel, vemos o renascimento do sistema mundial, mas os homens estavam construindo sem um fundamento e em rebelião a Deus. Jeová olhou para a obra deles e a frustrou, e, em vez de realizarem seu desejo tão almejado, eles apenas manifestaram sua loucura e perversidade. Mas, apesar de os homens ainda persistirem em seu curso de independência de Deus, o fim de suas obras está próximo, pois toda a glória do homem perecerá, e a glória do Senhor encherá toda a Terra.
A Pedra profetizada
Cristo é o verdadeiro Fundamento, a Pedra viva. Ele também será a Pedra angular do universo moral destinado a substituir o grande sistema mundial que começou com Caim e Babel. Gênesis 49 é uma profecia notável nesse sentido. Embora a visão do patriarca Israel estivesse turva por causa da idade, impedindo-o de enxergar, sua visão espiritual estava maravilhosamente aguçada quando reuniu seus filhos ao seu redor para dizer o que lhes aconteceria nos últimos dias, pois na bênção de José ele esboçou claramente os sofrimentos de Cristo e a glória que havia de se seguir, e incidentalmente nessa bênção há uma notável alusão a Cristo: “donde é o Pastor e a Pedra de Israel” (Gn 49:24). Assim, “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que d’Ele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24:27).
A Pedra de Israel é introduzida na bênção de José, o qual, em figura, foi rejeitado, odiado e lançado fora por seus irmãos. Ele trilhou um caminho de declínio até ser lançado no cárcere no Egito como um criminoso qualquer, mas, a partir dessa condição de degradação, ele é subitamente elevado a uma posição de eminência e glória ao lado do rei no trono. Que contemplemos Aquele cujos sofrimentos e glória são prefigurados, de forma tímida, no grande libertador do Egito.
Longos séculos transcorrem, e então aparece Isaías para confirmar a palavra de Jacó: “Portanto, assim diz o Senhor JEOVÁ: Eis que Eu assentei em Sião uma Pedra, uma Pedra já provada, Pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada” (Is 28:16). Jacó não deu detalhes, mas Isaías nos diz que a Pedra de Israel era o fundamento no qual estariam firmados todos os propósitos de Deus.
A Pedra rejeitada
Quando a plenitude do tempo chegou, Deus enviou Seu Filho, e Ele apareceu no meio de Israel, pois os líderes daquela nação foram os construtores a quem Ele foi apresentado primeiro. Ele era o grande teste para eles, posto em seu meio de acordo com a palavra do velho Simeão, quando Jesus foi levado ainda bebê à casa de Deus: “Eis que Este é posto para queda e elevação de muitos em Israel” (Lc 2:34).
É impossível não notar como o Senhor Jesus tratou as profecias do Velho Testamento em sua ordem correta, aplicando-as a Si mesmo durante Sua curta permanência na Terra. Ele podia usar a linguagem de profeta ou de salmista em seu verdadeiro sentido, trazendo convicção ao coração dos Seus ouvintes. Porém, Sua vida não evocou uma resposta favorável dos homens; ela apenas revelou o ódio que possuíam. A todo momento, Ele foi rejeitado, e no final foi levado ao tribunal de Pilatos como um malfeitor, em meio ao clamor universal: “Fora daqui com Este […] Crucifica-O! Crucifica-O!” (Lc 23:18-21)
A Pedra de Israel foi totalmente rejeitada pelos construtores. Em seu último ato, tropeçaram e caíram sobre a Pedra e foram despedaçados. A condição atual de Israel é a prova conclusiva da terrível queda que eles sofreram ao expulsar sua única esperança. Dessa forma, a palavra de Simeão foi amplamente confirmada: “Eis que Este é posto para queda […] de muitos em Israel”. A última parte dessa profecia será cumprida na segunda vinda de Cristo, quando, após tremendo exercício de alma e julgamento próprio, eles exclamarão: “Eis que Este é o nosso Deus, a Quem aguardávamos, e Ele nos salvará; Este é o SENHOR, a Quem aguardávamos; na Sua salvação, exultaremos e nos alegraremos” (Is 25:9).
A Pedra exaltada
Vamos deixar agora o breve triunfo do inimigo e passar para os triunfos de Cristo. A cruz foi o ápice da maldade do homem; o triunfo de Deus é demonstrado na ressurreição. A Pedra que os construtores rejeitaram tornou-Se a Pedra da esquina [ou pedra angular] (At 4:11). Todos os propósitos de Deus se baseiam n’Ele e, portanto, o atual período de graça está sendo usado por Deus para chamar a atenção dos homens para Seu amado Filho em glória. O Espírito Santo veio à Terra para recolher do mundo uma companhia que estará associada a Ele para sempre. Essa companhia é mencionada na Escritura como uma casa espiritual; aqueles que a compõem são pedras vivas, que se chegaram a Cristo como a Pedra viva (1 Pe 2:4-5).
Mesmo os homens dando pouca atenção a essa obra, ela segue firme e sem interrupção. Assim como todas as pedras do templo de Salomão foram preparadas de antemão, não se ouvindo sequer o som de um martelo durante a sua edificação, o Espírito de Deus está trabalhando silenciosamente na preparação do edifício pelo qual, no dia de glória, brilharão a luz e a perfeição de Deus.
A Pedra vitoriosa
O grande sistema mundial iniciado em Caim e restabelecido em Babel foi perpetuado na Babilônia e nos reinos que se seguiram. Sob a proteção desses reinos, o sistema mundial floresceu, mas, por ter sido criado em independência de Deus, deve ser totalmente destruído para dar lugar àquilo que não pode ser abalado e que é agradável a Ele.
Nabucodonosor viu em seu sonho uma pedra que foi cortada da montanha sem auxílio de mãos e que a estátua, despedaçando-a e levando-a como a palha das eiras no estio. Depois a pedra se tornou uma grande montanha e encheu toda a Terra. Nesta linguagem simbólica, vemos Cristo descendo do céu para exercer o poder que é investido n’Ele como Filho do Homem. Ele reivindicará a Terra para Jeová até que Sua glória encha toda a criação. “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e esse reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos e será estabelecido para sempre” (Dn 2:44).
O Segundo Homem, o Senhor vindo do céu, cobriu toda a extensão territorial entre os dois extremos do universo de Deus: “Ora, isto – Ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da Terra? Aquele que desceu é também O mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir [encher – ARA] todas as coisas” (Ef 4:9-10). Dessa forma, Ele estabeleceu o Seu direito de encher tudo para Deus. Que dia de regozijo e alegria será quando a glória e o poder de Cristo forem supremos e a Terra estiver em completa sujeição a Ele!
Semelhante a uma Pedra preciosíssima
Se existe a glória do que é terrenal, também existe a glória do que é celestial, mas, seja no céu ou na Terra, toda a glória irradia do Filho do amor do Pai. Em todas as coisas Ele deve ter a preeminência. O céu e a Terra nunca estiveram de acordo desde que o pecado entrou neste mundo, mas eles serão unidos novamente: a distância moral, no dia vindouro, não existirá mais. Portanto, ainda falta acrescentar uma palavra: a Igreja está destinada à glória. A estrutura que está sendo erguida agora, o vaso que está sendo formado, é para o perfeito brilho de Cristo nas eras vindouras. Ela não brilhará a sua própria luz. Será simplesmente a perfeição daquilo que é declarado acerca de indivíduos em 2 Coríntios 4:6: “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é Quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”.
Aqui temos uma última visão da “Pedra”, e Sua glória não é diminuída em nada: “E levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente” (Ap 21:10-11).
Na eternidade, a Igreja transmitirá esses raios gloriosos; porém, tal como agora, ela sempre será dependente d’Ele, ao mesmo tempo em que Ele a tornará competente em todos os sentidos para refletir a luz desta Pedra preciosíssima.
Será uma obra do próprio Deus escrever a imagem de Cristo em cada um dos redimidos. Por isso, lemos que “os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de toda pedra preciosa” (v. 19). Uma única pedra jamais poderia descrevê-Lo, tampouco um único santo poderia expressá-Lo de forma plena, mas quando chegar essa feliz consumação, cada um terá a Sua bendita imagem.
Que cada santo de Deus, redimido para tal destino, seja maravilhado por essa Pessoa gloriosa, enquanto esperamos Seu breve retorno e meditamos na profundidade, significado e importância destas palavras: “Donde é o Pastor, a Pedra de Israel” (Gn 49:24).
J. T. Mawson (adaptado)