Origem: Revista O Cristão – Pedras

A Pedra Revolvida – O Ressuscitado

Embora as necessidades da alma sejam profundas e variadas, todas elas são supridas pela morte e ressurreição de Cristo. Se é a questão do pecado o que afeta a alma, a ressurreição é a prova gloriosa de que ele foi aniquilado por completo. Ele “por nossos pecados foi entregue”; Ele tomou sobre Si nossas iniquidades e desceu à sepultura. Mas Deus “O ressuscitou dentre os mortos” e, ao fazê-lo, expressou Sua total aprovação sobre a obra da redenção. A ressurreição, portanto, supre a necessidade da alma quanto à questão do pecado.

Ao prosseguirmos e entrarmos no difícil caminho do testemunho Cristão, descobrimos que Jesus ressuscitado é o remédio para todos os males da vida. Isso é exemplificado em João 20. Maria vai ao sepulcro de manhã cedo. E, conforme aprendemos no evangelho de Marcos, seu coração não estava apenas triste com a perda de seu gracioso Amigo mas também angustiado com a dificuldade de remover a pedra da porta do sepulcro. A ressurreição imediatamente removeu o seu fardo. Ela encontrou a pedra revolvida do sepulcro bem como o seu amado Senhor. Quão poderosas as coisas que a ressurreição pode fazer em favor de um mortal necessitado!

Ressurreição 

O mesmo acontece conosco agora. Está o nosso coração partido e de luto por causa da dura e severa mão da morte? Qual é o remédio? Ressurreição. Sim, a ressurreição, esse grande restaurador, é o remédio para todos os males. Se o coração está carregado de dor pelos estragos da morte, a ressurreição sara e ata suas feridas assegurando a reunião com todos os que já se foram: […] assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com Ele” (1 Ts 4:14). Normalmente se pensa que o tempo preenche todos os vazios que a morte deixou nos sentimentos, mas a mente espiritual jamais poderia considerar o tempo como um substituto para a ressurreição e as alegrias imortais que ela traz. Talvez este mundo encontre algo em circunstâncias passageiras para preencher o vazio criado pela morte, mas com o Cristão não é assim. Para ele, a ressurreição é o grande objetivo, além de ser o único instrumento pelo qual todas as suas perdas podem ser recuperadas e todos os seus males remediados.

Assim, também, em relação à pressão das circunstâncias presentes, o único alívio está na ressurreição. Podemos, assim como Maria, nos sentir inclinados a clamar (Mc 16:3): “Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?” O Jesus ressuscitado! Sem dúvida, podemos ter muitos fardos para carregar, mas nossos fardos não nos afundarão no pó, porque nosso coração se apoia na bendita verdade de que nossa Cabeça ressuscitou dentre os mortos e de que nosso lugar é ali com Ele. A fé conduz a alma para o alto, para a santa serenidade da presença divina; ela nos permite lançar nosso fardo sobre o Senhor e descansar na certeza de que Ele nos sustentará.

A Pedra revolvida 

Quantas vezes nos esquivamos do pensamento de alguma provação que apareceu à distância como uma nuvem escura; porém, quando nos aproximamos, encontramos “a pedra tirada do sepulcro”. Jesus, o Ressuscitado, a revolveu e encheu a cena com a luz de Seu gracioso semblante. Maria chegou ao sepulcro esperando encontrar uma grande pedra entre ela e o Objeto de suas afeições, mas, em vez disso, encontrou Jesus ressuscitado entre ela e a temida dificuldade. Ela tinha ido ungir um corpo morto, mas chegou para ser abençoada e alegrada por um Salvador ressuscitado. Assim é a maneira de Deus, e assim o poder e valor da ressurreição.

Quando João, na ilha de Patmos, caiu no pó como um morto (Ap 1:17), o que foi que o levantou? A ressurreição, o Jesus vivo: “[Sou] O que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre”. A comunhão com Aquele que arrancou a vida das garras da morte removeu os seus medos e infundiu força divina em sua alma.

Os lençóis no túmulo 

No caso de Pedro e João, também encontramos outro exemplo do poder da ressurreição. Com eles, não é tanto uma questão de fardo, mas de dificuldade. A mente deles estava evidentemente intrigada com tudo o que viram no sepulcro. Ver aqueles lençóis tão cuidadosamente arrumados no túmulo era algo inexplicável. Mas eles ficaram intrigados apenas “porque ainda não sabiam a Escritura, que diz que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos”. Nada além da ressurreição poderia resolver sua dificuldade. Se soubessem disso, não teriam ficado perdidos sem saber explicar por que os lençóis estavam arrumados; saberiam que o Destruidor da morte tinha estado ali realizando Sua poderosa obra e tinha deixado vestígios de Seu triunfo.

No entanto, Pedro e João não sabiam disso e, portanto, foram para casa. A força da afeição de Maria fez com que ela permanecesse ali. Ela preferia chorar perto do local onde seu Senhor foi colocado a ir a qualquer outro lugar. Mas a ressurreição resolveu tudo, preenchendo o vazio no coração partido de Maria e resolvendo a dificuldade nas mentes de Pedro e de João. Jesus ressuscitado é o soberano remédio para todos os males, e nada além de fé é necessário para usá-Lo.

As portas fechadas 

No capítulo 20:19, temos uma nova ilustração do princípio que estamos tratando. “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-Se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco!” Aqui, a porta fechada evidenciava o medo dos discípulos. E qual seria o remédio para o medo deles? Nada além de comunhão com o Senhor ressuscitado. Ele apareceu no meio deles e pronunciou sobre eles Sua bênção: “Paz seja convosco”. Quem lhes poderia fazer mal enquanto tivessem no meio o poderoso Aniquilador da morte e do inferno?

A paz que flui da comunhão com o Filho de Deus ressuscitado não pode ser abalada pelas mudanças e tempestades deste mundo; é a paz do santuário interior, a paz de Deus que excede todo o entendimento. Por que às vezes somos tão atribulados pelas condições ao nosso redor? Certamente por não estarmos andando com os olhos fixos constantemente nAquele que esteve morto, mas que vive para todo o sempre. A política e o comércio da Terra receberiam seu devido lugar em nosso coração se conseguíssemos lembrar que estamos “mortos” e nossa “vida está escondida com Cristo em Deus”.

Nossa cidade 

“Mas a nossa cidade está nos céus” (Fp 3:20). Se nos enxergarmos apenas como homens terrenais, estaremos ocupados com coisas terrenais; mas, se nos enxergarmos como homens celestiais, estaremos, consequentemente, ocupados com coisas celestiais. “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima” (Cl 3:1). É simples. “As coisas que são de cima” são aquelas que somos ordenados a buscar, e isso porque ressuscitamos com Cristo. Abraão era um peregrino na Terra porque procurava uma cidade celestial; o crente é um peregrino porque recebeu uma cidade celestial. O Cristão deveria se considerar como alguém que veio do céu para passar pelos acontecimentos e negócios da Terra. Isso daria um tom elevado e celestial ao seu caráter e andar aqui.

Por fim, pode-se observar que o Senhor Jesus acabou com o medo dos pobres discípulos entrando no meio deles e associando-Se a eles em todas as suas circunstâncias. No fundo, não era tanto uma questão de se libertar daquilo que causou o medo, mas de elevar as almas deles acima do medo mediante a comunhão com o Senhor. Eles esqueceram os judeus, esqueceram seu medo, esqueceram tudo, porque as almas estavam ocupadas com seu ressuscitado Senhor.

Comunhão nas provações 

A maneira do Senhor, muitas vezes, é deixar Seu povo em provação e estar junto com ele nela. Paulo podia até desejar se livrar do espinho, mas a resposta foi: “Minha graça te basta”. Em vez de ficar livre da provação, é uma misericórdia bem mais rica passar por ela tendo a graça e a presença de Jesus. Que seja o desejo de nosso coração sermos achados na companhia do Senhor ressuscitado ao passarmos por essa cena difícil, e quer seja na fornalha da aflição ou na tempestade da perseguição, teremos paz; quer seja o luto do coração, o fardo dos ombros, a dificuldade da mente, o medo ou incredulidade do coração – o remédio para tudo será a comunhão com Aquele que ressuscitou dentre os mortos.

C. H. Mackintosh (adaptado)

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