Origem: Revista O Cristão – Perdão
O Perdão dos Pecados
O perdão dos pecados é trazido diante de nós de diferentes maneiras na Escritura, pois há diferentes tipos de perdão dos pecados. Podemos dividi-los em pelo menos quatro, ou talvez cinco, categorias. O primeiro podemos chamar de perdão judicial, o próximo de perdão administrativo, depois o perdão restaurativo e governamental, que estão ligados, e finalmente, temos o perdão fraternal. Todos têm seu lugar distinto na Escritura, mas às vezes são tristemente confundidos na mente do povo de Deus.
O perdão judicial
O perdão judicial é o perdão eterno, absoluto e completo que temos uma vez e para sempre quando recebemos a Cristo como nosso Salvador. Por exemplo, nós lemos em Efésios 1:7: “Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça”. Quando recebemos o perdão judicial das mãos de Deus, nunca mais precisamos nos encontrar com Deus novamente para tratar sobre a questão de nossos pecados. Quando esse perdão absoluto se torna nosso, deixamos de ser pecadores aos Seus olhos. Somos filhos de Deus e nada pode mudar isso. O fundamento do nosso perdão é o sangue de Cristo, e a medida desse perdão é a riqueza da Sua graça. Quão abençoada é esta nossa eterna posição diante de Deus! Para o crente, Deus, de uma vez por todas, julgou os pecados de acordo com a Sua própria estimativa na Pessoa de Seu Filho, e nessa base Ele prega o perdão. “Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados” (At 13:38).
O perdão administrativo
Agora, vamos considerar algumas porções da Escritura que nos trazem luz sobre o perdão administrativo – um perdão que é colocado nas mãos do homem. Deus em Sua sabedoria não entregou nas mãos do homem nada que seja vital. Ele o conhece muito bem para fazer isso. No perdão administrativo, não há nada de vital.
No entanto, vemos claramente que Deus confiou este tipo de perdão nas mãos do homem com base em João 20:23: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos”. Os judeus, que eram culpados de crucificar o Senhor Jesus, foram admitidos dessa forma no reino em Atos 2:38-41. Eles tiveram que se arrepender e ser batizados para se salvarem daquela “geração perversa” que deu a morte a Cristo.
De igual modo Ananias disse a Saulo de Tarso: “Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados” (At 22:16). Saulo foi identificado com aqueles que haviam crucificado o Senhor Jesus e que estavam perseguindo os crentes. Agora que ele havia se arrependido e recebido perdão judicial, ele precisava ser externamente identificado com aqueles que amavam o Senhor Jesus. Este era o perdão administrativo – administrado por meio do batismo feito por Ananias.
Em 2 Coríntios 2, há uma companhia de pessoas que têm o perdão dos pecados em suas mãos. A assembleia ali teve que ligar o pecado de um sobre ele. Ele era um homem salvo – judicialmente perdoado – mas ele havia caído em pecado, e eles tinham ligado esse pecado sobre ele. Depois que houve um verdadeiro arrependimento naquele homem, Paulo pede a eles que exerçam esse perdão. “Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos; basta ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que, pelo contrário, deveis, antes, perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja, de modo algum, devorado de demasiada tristeza” (2 Co 2:5-7).
Mais uma vez, não há nada de vital nisso. Haverá aqueles no inferno que foram batizados e que também participaram da ceia do Senhor, ao passo que haverá aqueles no céu que nunca foram batizados e nem tomaram a ceia do Senhor. Estaremos no céu apenas com base no perdão judicial de Deus.
O perdão restaurativo e governamental
Agora vamos considerar o perdão restaurativo e governamental. Ambos estão nas mãos de Deus, não do homem, e estão conectados, embora não sejam exatamente o mesmo. O perdão restaurativo é a restauração da comunhão com Deus quando confessamos um pecado em particular, no qual caímos. Isto é baseado em 1 João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. O crente nunca pode perder sua salvação eterna, mas pode perder sua alegria e comunhão com Deus por causa do pecado. Como somos gratos por Deus ter providenciado nossa restauração por meio do arrependimento e da confissão.
O perdão governamental aparece quando caímos sob a mão governamental de Deus em nossa vida na Terra. Como filhos de Deus e como estando na casa de Deus, ficamos sob Seu governo se pecarmos. Lemos em Tiago 5:14-15: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da Igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Nestes versos, temos o perdão governamental. Aquele em questão caiu sob o governo de Deus, talvez por causa do pecado. Pode ser uma doença ou talvez outras circunstâncias adversas permitidas na vida de alguém. Neste exemplo, o governo de Deus sobre o homem por meio da doença foi removido.
Às vezes Deus usa outros que não pecaram dessa forma para agir em intercessão, e assim lemos: “Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte” (1 Jo 5:16). Outro orou pelo pecador, assim como os anciãos vieram e oraram por aquele que estava doente.
Na assim chamada “oração do Senhor”, diz: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6:12). Não é o perdão judicial que é mostrado aqui, mas sim o perdão governamental, baseado no nosso perdão dos outros.
O perdão fraternal
Finalmente, chegamos ao perdão fraternal, que é ilustrado nos seguintes versículos:
“E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11:25). “Então, Pedro, aproximando-se d’Ele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei?” (Mt 18:21).
Devemos ter um espírito perdoador uns para com os outros, pois se abrigarmos um espírito implacável [que não perdoa], perdemos o sentido do perdão do Pai em nossa alma. Mesmo se tivermos um espírito perdoador, não podemos realmente estender esse perdão a outro até que haja arrependimento e confissão. Contudo, se houver verdadeiro arrependimento e confissão, devemos nos perdoar uns aos outros. Se nos apegamos a um espírito que não perdoa, Deus não pode nos perdoar governamentalmente, e somos nós que somos “entregues aos atormentadores” (Mt 18:34) até que exercitemos o perdão.
Que falta há de perdão fraternal! Devemos cultivar essa atitude de “perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4:32). Que possamos desfrutar do perdão de Deus em nosso coração e estar prontos para agir da mesma maneira em relação aos outros!
Gathering Up the Fragments (adaptado)
