Origem: Revista O Cristão – Perdão
O Perdão Governamental
Todo perdão é fundado na bendita obra do Senhor Jesus. Mas é importante distinguir entre o perdão que nos purifica de uma vez e para sempre de todos os nossos pecados diante de Deus, pelo qual somos justificados e temos paz com Deus, e o perdão que podemos receber no caminho como estando sob o governo de Deus, supondo que somos perdoados e salvos.
Eu tenho um perfeito e eterno perdão e redenção, de acordo com a glória de Deus. “Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça” (Ef 1:7). “Por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (Hb 9:12). Existe, portanto, para a fé, um perdão presente, mas eterno, fundamentado em Cristo levando os nossos pecados em uma obra que nunca pode ser repetida, seu valor nunca diminuído, nem nada acrescentado a ela. Deus provou o valor de Sua dignidade ao colocar Aquele que o fez à Sua direita em glória, onde Ele estava com Ele como Filho de Deus antes que o mundo existisse.
Mas há um governo de Deus neste mundo sobre aqueles que são assim redimidos e sempre foram. “Porque o Senhor corrige o que ama”. E quando Deus exerce essa disciplina, que é sempre para o nosso bem e em amor, quando uma alma é verdadeiramente humilhada, Ele, em Sua sabedoria, frequentemente retira isso, perdoando, quanto ao Seu atual governo e caminhos, o pecado que tornou a correção necessária. Não que todas essas visitações sejam por causa de pecados. O mundo está em um estado de miséria através do pecado, e todos estão sujeitos a esta servidão a corrupção. Isto o Senhor declara em João 9:3.
Nem mesmo, quando são enviados por Deus em referência ao estado da alma, são sempre por causa dos pecados cometidos; eles podem ser para impedir que eles aconteçam ou quebrar nossa vontade ou nos humilhar quanto ao nosso estado. Por causa disso Paulo tinha um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo, para que ele não se exaltasse por causa da abundância de revelações. Três vezes ele pediu ao Senhor que tirasse isso dele, mas o Senhor enviou isso para o seu bem, de modo que Ele não o retiraria.
Este governo de Deus, e perdão quanto os tratamentos presentes de Sua mão, encontramos tanto no Velho Testamento como no Novo.
Exemplos do Velho Testamento
Assim, quando Deus pronunciou um terrível julgamento contra Acabe por causa de sua iniquidade, Acabe se humilhou, e Deus disse a Elias, que foi quem levou a mensagem para ele, “Não viste que Acabe se humilha perante Mim? Porquanto, pois, se humilha perante Mim, não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho trarei este mal sobre a sua casa”. Isto não tem relação com a salvação de sua alma, de fato, o que sabemos por essa história é que ele morreu em seus pecados. Mas ele foi perdoado a respeito de seu julgamento sob a Terra.
Então com Davi: Quando ele agiu de forma iníqua em um caso específico, embora em geral ele fosse um amado de Deus e que O glorificava em sua caminhada, Natã o profeta declarou a ele, “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto Me desprezaste”. No entanto, em geral durante sua caminhada ele era um homem de acordo com o próprio coração de Deus. Muitos outros casos poderiam ser acrescentados do Velho Testamento. Houve perdão do pecado quando ao castigo no presente. Davi foi poupado de ser cortado, mas a criança, fruto de seu pecado, foi tirada dele.
Isto é o que nos é ensinado no livro de Jó, quando Eliú interpreta os caminhos de Deus no capítulo 33:17-30, e no capítulo 36:7, pois ele fala expressamente sobre um homem justo, dizendo: “Dos justos não tira os Seus olhos”, mas Ele os castiga por causa de seus pecados, e avisa a Jó que ele não deveria lutar contra Deus. Se ele tivesse se curvado em seu coração, ele teria sido liberto de suas aflições (v. 16), e ele é avisado, como Deus estava tratando com ele, para tomar cuidado para não ser cortado da Terra (v. 12).
Exemplos do Novo Testamento
No Novo Testamento temos o mesmo tipo de castigo e perdão como tratamentos presentes de Deus com o homem na Terra para o seu bem. Veja 1 Coríntios 11:30-32, ali eles tomavam a ceia do Senhor como se fosse uma refeição normal, e os pobres não tinham o suficiente para comer, e os ricos se entregavam à glutonarias e bebedices, e muitos estavam doentes em consequência disso e até mesmo “dormiam”, que significa que haviam morrido. Mas tudo isso eram castigos presentes neste mundo, pois o apóstolo diz: “Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”.
Então lemos em 1 João 5:16, e isso nos faz entender o que é o chamado pecado para morte. É o pecado que traz a morte do corpo como um castigo e é de tal forma, que os Cristãos não devem orar para que a vida daquele irmão seja poupada, enquanto em outros casos eles poderiam, e suas orações seriam ouvidas, e a vida do homem que havia pecado seria poupada, pois ele havia sido perdoado nesse sentido. Assim, a indignação de Pedro, e não sua compaixão, vem contra Ananias e Safira, e eles morreram por causa de seu pecado, como um julgamento presente.
Também em Tiago 5:14-16, diz: “A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Aqui temos um homem recuperado de sua doença, tendo seu perdão no tempo presente, a respeito do governo de Deus em Seus tratos com ele neste mundo.
Não devemos confundir esse tipo de perdão, que se refere a maneira que Deus trata conosco aqui, e os castigos que Seu amor pode trazer sobre nós para nos livrar e nos humilhar, com o perdão eterno das nossas almas que nos pertence por causa da redenção que o sangue de Cristo trouxe para nós, que tem um valor que ninguém pode alterar ou retirar. Nós podemos entender isso facilmente, se Deus castiga um homem para o seu bem quando ele é Seu filho, ele também pode retirar o castigo e, neste sentido, perdoar uma falha específica se um homem se humilha a si mesmo, sem que a questão da salvação de sua alma esteja em questão.
extraído de Collected Writings, vol. 31
