Origem: Revista O Cristão – O Temor de Hoje

Perfeito Amor

Nada é mais marcado na história e experiência das almas do que a tendência de olhar para dentro, para si mesmo, em vez de olhar para fora, para Cristo. Tem sido bem observado que “fé é o olhar exterior da alma, não o seu olhar interior”. Isso é muito verdadeiro, e, com certeza, seria bom se fosse mais plenamente admitido em nossa mente. O objeto sobre o qual a fé fixa o seu olhar está sempre fora de nós. No terreno de fé, quando olhamos para dentro de nós, perdemos o conforto e a paz que é nosso privilégio desfrutar.

Esse hábito predominante de olhar para dentro, em vez de para fora, tem tido o efeito de roubar de muitos, a beleza divina, a preciosidade e o poder daquilo que é dito em 1 João 4:17 (JND): “para que tenhamos ousadia no dia do juízo”. Esse hábito os coloca sobre a triste e desconcertante questão de examinar o amor deles mesmos, a fim de encontrar a perfeição em tal amor. Essa é uma tarefa sem esperança, pois um pobre, indefeso, indigno pecador, tateando em meio às trevas de seu próprio coração, não consegue encontrar nada “perfeito”.

O perfeito amor lança fora o temor 

Nada poderia estar mais longe da mente do Espírito do que o pensamento de nosso perfeito amor, e isso é claro a partir da simples leitura de 1 João 4:17: “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança [ousadia – JND]; porque, qual Ele é, somos nós também neste mundo” (ACF). Agora, como poderia o nosso amor a Deus ser suficientemente “perfeito” para nos dar “ousadia no dia do juízo”? Como poderíamos olhar à frente, com ousadia nítida, para o tribunal, se estivéssemos descansando na perfeição de nosso próprio amor? Como poderia o nosso amor ter um carácter tal que lançasse fora todo o “temor” atormentador do nosso coração? Impossível.

O que, então, o apóstolo quer dizer quando diz: “O perfeito amor lança fora o temor”? Ele quer dizer que o perfeito amor de Deus, manifestado a nós e “em nós aperfeiçoado” no precioso sangue de Seu próprio amado Filho, elimina completamente o temor de nosso coração. Se eu sei que Deus me ama perfeitamente, não tenho motivos para duvidar ou temer. E como Ele revelou o Seu amor por mim? No sangue que fluiu do lado perfurado do Cristo crucificado. Esse sangue não só satisfez as reivindicações de Deus quanto aos meus pecados, mas também expressou o Seu perfeito amor para com a minha alma que perecia. O pecado tinha sido julgado e eternamente afastado por aquele sangue que revelou os profundos segredos do amor que habitam no seio de Deus para com os pecadores perdidos. Logo, o que o “dia do juízo” fará pelo crente? Ele tornará evidente, na perspectiva do céu, da Terra e do inferno, que não há nada contra o crente. A luz do “tribunal de Cristo” mostrará que não há sequer uma partícula naquela “veste branca”; que deve toda a sua pureza ao poder do sangue. O tribunal será tão favorável ao crente quanto o propiciatório é agora. Essa é uma verdade maravilhosa – verdade divinamente calculada para lançar fora o “temor” do coração e substitui-lo por ousadia.

Como Ele é, nós também somos 

Mas notemos especialmente a maneira pela qual o amor de Deus é em nós aperfeiçoado. “porque assim como Ele é, nós somos também neste mundo” (TB). Isso, verdadeiramente, é a perfeição do amor. Como o Juiz é, nós também somos. “Somos completos n’Ele” — “aceitos no Amado” — “n’Ele que é verdadeiro” — parte d’Ele mesmo. Ele é a Cabeça e nós somos os membros. Cristo tomou o nosso lugar na cruz. Ele foi feito pecado; Ele foi julgado em nosso lugar. Ele tomou o nosso lugar para que pudéssemos tomar o d’Ele. Ele desceu aos abismos mais profundos de nossa condição, a fim de que pudéssemos ser levantados às mais elevadas alturas de Sua posição diante de Deus. “Porque assim como Ele é, nós somos também neste mundo” (TB). Assim é que o amor de Deus é “em nós aperfeiçoado”, para “que no dia do juízo tenhamos confiança”. Certamente, o Juiz não condenará a Si mesmo. Mas Ele é a minha justiça. Ele não encontrará uma falha em Sua própria obra. Mas essa é a base da minha confiança. Ele fez de mim o que sou e colocou-me onde estou. “Ora, foi o próprio Deus Quem nos preparou para isto” (2 Co 5:5 – ARA).

Não há temor 

Portanto, segue-se que, se o pensamento do “dia do julgamento” desperta um único “temor” em nosso coração, é uma prova de que não cremos que Deus nos amou perfeitamente ou que o sangue de Cristo nos purificou perfeitamente. Deus encontrou tudo o que queria na cruz. Ele mesmo resolveu toda a questão do pecado. Ele Se satisfez perfeitamente quanto a isso. Ele conhecia a necessidade e a atendeu. Ele conhecia as exigências e as atendeu. Ele mediu a culpa e a cancelou. Ele afastou o pecado de tal forma que encontrou Sua própria pureza infinita. O pecado é perfeitamente e eternamente posto de lado; o pecador que crê é perfeita e eternamente trazido para perto. O pecado nunca pode ser deixado entrar; O pecador nunca pode ser expulso. Visto que tudo depende da perfeição do amor de Deus, da eficácia do sangue de Cristo e da verdade do testemunho do Espírito Santo, uma única dúvida é um insulto à Santíssima Trindade.

Há quem pense que dúvidas e medos são sinais de vida espiritual. Eles podem ser, da mesma forma que as dores reumáticas são sinais de vida natural, mas quem cobiçaria tais sinais? Quem desejaria tortura perpétua como prova de que está vivo? O apóstolo enfaticamente declara que “o perfeito amor lança fora o temor: porque o temor tem consigo a pena [o tormento – JND]. O que teme não é perfeito em amor” (1 Jo 4:18 – ACF).

“E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” (1 Jo 4:16 – ACF).

C. H. Mackintosh (adaptado)

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